O ex-prefeito florianopolitano Gean Loureiro (União Brasil) veio para o primeiro turno da disputa pelo governo do Estado com um alvo e um cartaz. O alvo é o governador Carlos Moisés (Republicanos), com quem disputa espaço em uma faixa que tenta desatrelar o debate da sucessão estadual da polarização nacional entre o presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal). O cartaz são os pouco mais de cinco anos à frente da prefeitura de Florianópolis, entre 2017 e 2022, cujos exemplos utiliza para dar base às propostas que pretende realizar como governador do Estado.
– Faz tempo que a gente não vê obra estadual sendo executada. A gente até vê repasses estaduais para obras que as prefeituras estão executando, mas onde está o Estado que faz as grandes obras estruturantes entre os municípios? Está ausente e comigo vai voltar – diz Gean Loureiro, oitavo e último entrevistado na série de sabatinas promovidas pela Fecomércio SC em parceria com o Upiara.Online.
Antes dele, participaram das entrevistas de cerca de 40 minutos Jorginho Mello (Partido Liberal), Odair Tramontin (Novo), Esperidião Amin (Progressistas), Décio Lima (Pt), Carlos Moisés (Republicanos), Jorge Boeira (Pdt) e Ralf Zimmer (Pros). A sabatina conta com três perguntas formuladas pela Fecomércio SC com base na Carta do Comércio e que foram replicadas a todos os candidatos cujos partidos têm representação no Congresso Nacional e foram convidados pela entidade para as entrevistas que conduzi no Centro de Inovação Acate Downtown, em Florianópolis.
Veja a íntegra da entrevista:
A Fecomércio SC questionou os candidatos sobre a possibilidade de redução de alíquotas de Icms como forma de controlar a inflação e recuperar o poder de compra das famílias, sobre propostas para ampliar linhas de crédito e redução do custo de captação desses recursos e sobre políticas para qualificação profissional. Gean Loureiro assumiu compromisso com os termos da entidade e usou exemplos da gestão em Florianópolis para se mostrar alinhado aos pleitos. Ao responder sobre redução de Icms como forma de combate à inflação, prometeu ampla reavaliação das alíquotas do imposto. Criticou o governo Carlos Moisés, que, segundo ele, teria se aproveitado a inflação em produtos como combustíveis e energia para aumentar a arrecadação.
– O Estado passou a contribuir com o aumento da inflação, em vez de ajudar a diminuir. Felizmente veio uma lei federal que colocou um limitador. Nós vamos fazer um reavaliação de toda a carga tributária do Estado. Não é perder arrecadação, é não ter o excesso.
Em relação à oferta de crédito, Gean fez propostas de olho em pequenas empresas e também mirando grandes investimentos. Para os pequenos, promete avançar em programas como o Juro Zero – em que o Estado banca os juros de empréstimos de até R$ 10 mil. Para os maiores, fez uma proposta que está integra a Carta do Comércio: um programa semelhante ao Prodec, das indústrias, para os setores de comércio, serviços e turismo.
– Queremos trazer um Prodec voltado ao comércio como hoje temos para a indústria. A gente não quer estender o Prodec, a gente quer criar um modelo semelhante que possa postergar o pagamento do Icms por um período mais longo em troca de investimentos que sejam realizados pelo comércio – disse Gean.
Em relação ao ensino profissionalizante, defendeu ampliar a qualificação dos jovens, seja em parceria com o Sistema S, seja com iniciativas próprias. Gean defendeu que o Estado seja parceiro de universidades no lançamento de cursos de pequena duração e que sejam implantadas escolas técnicas em todas as regiões do Estado com foco nas vocações regionais. Citou, como em outros momentos da entrevista, exemplo de Florianópolis.
– Realizamos um diagnóstico de cada região, entendendo que tipo de mão de obra era necessária para o mercado. Muitas vezes o poder público oferta qualificação que o mercado não tem interesse. Ele tem que ofertar qualificação daquilo que o diagnóstico aponta como necessidade do mercado. Nós realizamos esse diagnóstico, qualificamos a mão de obra e o resultado veio: pela primeira vez, Florianópolis foi a cidade que mais empregou em Santa Catarina em 2021.
Gean também recorreu à gestão em Florianópolis ao falar de suas planos para a máquina do Estado, prometendo reduzir e otimizar estruturas. Ele apontou que assumiu a Capital com 700 cargos comissionados e reduziu para 400 e que os então 35 órgãos da administração tornaram-se 16 secretarias.
– Eu me recordo que o setor de turismo ficou muito chateado quando nós unimos a Secretaria de Turismo com Ciência e Tecnologia, com Desenvolvimento Econômico e com a de Maricultura. Nós juntamos todos os setores econômicos em uma única secretaria. Parecia que eles tinham perdido poder, quando na verdade virou uma secretaria muito forte. O tema que mais cresceu foi o turismo voltado a eventos de tecnologia. Ela virou transversal, começou a interagir entre todos – afirmou.
Prometeu ter foco pessoal na desburocratização dos serviços e licenciamentos oferecidos pelo Estado, mais uma vez com exemplo da gestão na Capital.
– O tempo medio de abertura de uma empresa era 176 dias. Estabelecemos uma meta: um dia. A Secretaria da Fazenda não aceitava porque ela queria que pagasse a guia, tinha o comprovante, isso demorava uma semana. Tive que convencer a turma da Fazenda. Aí tramitava na Susp (pasta de urbanismo e serviços público) e só tramitava depois do bombeiro dar o alvará. Não, vão tramitar todos juntos e quero um parecer imediato. Alguns casos fizemos por um sistema autodeclaratório, em que se deixa de ter o controle no licenciamento para se ter na fiscalização. De 176 dias hoje se abre uma empresa em quatro horas. Mas eu cuidei pessoalmente, cuidei item a item – disse.
Antagonizou-se mais uma vez ao governo Moisés quando tratou dos temas de infraestrutura. Prometeu um plano imediato de recuperação das rodovias estaduais.
– Já teve época que não se fazia porque não tinha dinheiro. Agora não se faz por incompetência. Eu vou chamar essa responsabilidade para o gabinete do governador porque sei da urgência. Nós vamos fazer um plano estadual de manutenção das rodovias. Vamos fazer licitações por lotes regionais, em que se garanta uma recuperação e uma revitalização das rodovias. Eu não estou falando de tapa-buraco, eu estou falando de fresagem e nova capa asfáltica. Já quero preparar as licitações nos meses de novembro e dezembro para no início de janeiro poder lançar, porque é urgente. A gente não vê o Estado fazendo, o Estado ainda está discutindo tapa-buraco – afirmou Gean.
O ex-prefeito defendeu que o Estado faça uma licitação única para atrair grandes empresas para elaboração de projetos executivos de obras novas. Segundo ele, quando é realizada uma licitação para cada projeto a tendência é de que empresas de menor porte vençam a disputa e isso resulta em projetos de menor qualidade, com menor capacidade de execução. Esse modelo, chamado de guarda-chuva, já havia sido apresentado por Gean na pré-campanha e criticado por integrantes da gestão Moisés, que apontam resistências do Tribunal de Contas (Tce) sobre a ideia. Gean citou as críticas.
– Em Florianópolis aceitou, tem decisão do TCE. Nós temos uma grande empresa que faz projetos e quando o prefeito toma a decisão ele dá a ordem de serviço imediata – defendeu.
Em relação ao papel do governador no avanços das obras nas rodovias federais, Gean novamente criticou Moisés pelo afastamento em relação ao presidente Jair Bolsonaro no primeiro ano de gestão de ambos. Disse que Moisés não despachou sozinho com o presidente nenhuma vez no mandato e prometeu “sentar do lado do presidente”. Disse que é preciso melhorar a cobrança junto à União por investimentos no Estado e que, em caso de falta de recursos, negociar a estadualização das obras em troca da suspensão do pagamento da dívida do Estado. Citou a BR-282 como exemplo.
– É uma obra que o Estado tendo um bom projeto de engenharia ele consegue executar R$ 1 bilhão por ano. Tem que começar pela duplicação das áreas urbanas, depois as terceiras faixas para depois pensar na duplicação da rodovia como um todo. É uma obra de Estado, não se completa em único governo, mas ela tem que se iniciar.
Nos temas mais políticos da sabatina, questionei Gean Loureiro sobre a participação de aliados em sua gestão – citei o ex-senador Jorge Bornhausen (Psd), o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) e o deputado estadual Júlio Garcia (Psd).
– Não me traz nenhuma incomodação estar ao lado de políticos tradicionais. Eu vou tirar o que tiver de melhor de todos eles. Mas quem tem a capacidade e a vontade de trabalhar é o governador que assume o cargo. Você precisa ter o perfil do líder maior do Estado e é isso que vou implementar. Eu fui um prefeito de atitude. É o que a população espera do governador.
Sobre a foto em destaque:
Gean Loureiro (União Brasil) foi o oitavo entrevistado da Sabatina Fecomércio SC. Foto: Divulgação.