Os lugares na chapa ainda devem render muita discussão, mas os nomes que vão compor a frente de esquerda em Santa Catarina estão alinhados: o senador Dário Berger (Psb), os ex-deputados Décio Lima (Pt), Jorge Boeira (Pdt) e Gelson Merisio (Solidariedade) e o vereador florianopolitano Afrânio Boppré (Psol). Com trajetórias e perfis bem diferentes, às vezes conflitantes, os cinco têm algo em comum: são todos homens, brancos e têm mais de 55 anos. A falta de diversidade na chapa esquerdista tem sido discutida nos bastidores e agora o tema ganha luz com um manifesto assinado por mulheres representantes de seis legendas: Pt, Psb, Pdt, Psol, Pc do B e Up.

Esse grupo se reuniu no último sábado em Florianópolis, em encontro promovido pela vereadora Carla Ayres (Pt), para discutir uma maior participação das mulheres na construção da frente de esquerda e discutir o fortalecimento das candidaturas femininas nas eleições de outubro. A iniciativa resultou na criação do movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina. Participaram do encontro, nomes como o da vereadora Marlina Oliveira Schiessl (Pt) de Brusque; da vereadora Cíntia Moura Mendonça, da Coletiva Bem Viver (Psol) de Florianópolis; de Jordana Vanessa Sage (Pdt), Bia Vargas (Psb), Giovanna Maria Poeta Dobes – representando o mandato da deputada estadual Luciane Carminatti (PT); Ingrid Sateré Mawé (Movimento Bem Viver Santa Catarina), Júlia Andrade Ew (Up); e o da ex-senadora Ideli Salvatti (PT). Também participaram por vídeo: Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT; Claudia Maria Dadico, juíza federal e secretária da Associação de Juízes pela Democracia e Giovana Mondardo, vereadora do PCdoB em Criciúma. Não estavam presentes, mas também assinam a carta as deputadas federais Angela Albino (Pc do B) e Luci Choinaki (Pt).

Leia o manifesto:

CARTA ABERTA DAS MULHERES PELA DEMOCRACIA EM SANTA CATARINA

O projeto político do campo democrático apresentado ao povo catarinense, deve ser inclusivo e representar a pluralidade da nossa população. Foi com base nesta inquietação, que mulheres de seis diferentes partidos (Pt, Psb, Pdt, Psol e Pc do B), além de representantes de diversos outros movimentos sociais e instituições se reuniram para refletir conjuntamente sobre como mudar essa realidade e poder incidir concretamente na construção da Frente Democrática em Santa Catarina, no sentido de acesso à informação, participação nas discussões e construções políticas. O movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina, nasce do anseio pela representatividade e do entendimento de que a legitimidade passa invariavelmente pela representação da diversidade nos espaços de poder e decisão.

O golpe contra a presidenta Dilma e o assassinato da vereadora Marielle Franco evidenciaram ainda mais a violência, o machismo e a misoginia utilizados para deslegitimar ou retirar as mulheres dos espaços de poder. Desde então, o que se viu por todo o país foi um aprofundamento da perseguição e da violência política contra as mulheres, principalmente contra nós, do campo progressista e defensoras dos direitos humanos. Somado a isso, a pandemia da Covid-19 também contribuiu para agravar a situação das mulheres no nosso país, seja pela violência doméstica, ampliada pelo isolamento social, ou pelo crescimento da fome e da pobreza extrema, reflexos de uma desigualdade social aprofundada pelo governo que aí está. Frente a este cenário, é indispensável que os partidos deem o apoio necessário para que as mulheres alcancem os espaços de poder, mas, sobretudo, que possam permanecer nestes espaços.

Precisamos compreender que as estruturas de dominação existentes na sociedade brasileira, também se fazem presentes nas representações partidárias, independente do espectro político. Entretanto, o fato de serem espaços de discussão e disputa, faz com que esse mecanismo de opressão tome proporções ainda mais simbólicas. Portanto, tentativas de colocar as mulheres à margem da discussão política devem sempre ser combatidas, pois são parte dessa estrutura que busca o silenciamento da voz feminina.

Entendemos que a cidadania e a democracia nas esferas de poder se consolidam a partir do momento em que os diferentes indivíduos que compõem o nosso tecido social, se veem representados nestes espaços. Contudo, há um movimento neoliberal e conservador que se apropria dessas conquistas para combater esses mesmos direitos e até mesmo retroceder em algumas pautas. Tendo em vista que vivemos uma dramática crise democrática no Brasil, com uma sensível perda de confiança nas instituições, reiteramos a importância de fortalecermos o processo de legitimidade institucional através da pluralidade.

Neste sentido, ressaltamos que nossas vivências diversas e o repertório dos movimentos feministas, de mulheres do campo e da cidade, negras, brancas e indígenas, de mulheres cis e trans, heterossexuais e LBTI+, de diferentes classes sociais, religiões, faixas etárias, escolaridade, corpos, deficiências e regiões do Brasil, compõem as premissas para a construção de uma sociedade mais democrática. Com base nesse pressuposto, conclamamos todo e qualquer projeto político, que pretenda falar em nome da democracia e sua reconstrução no atual contexto, a necessariamente refletir essa pluralidade em todas as suas instâncias: discussões políticas, estratégias, plano e programas políticos, além de suas nominatas de candidaturas com viabilidade. Por isso, estamos empenhadas na busca pelo fortalecimento das candidaturas das mulheres do campo progressista nas eleições de outubro e na representatividade delas na chapa majoritária.

O movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina nasce com a certeza de que a luta por protagonismo, voz, visibilidade e poder de escolha é urgente. Não permitiremos que nossos anseios e nossas vozes sejam apagadas. Por isso, buscaremos a abertura do diálogo e, futuramente, o compromisso de que o projeto político a ser apresentado à Santa Catarina será radicalmente democrático e considerará as desigualdades e múltiplas diferenças das mulheres do nosso estado.

Neste sentido, ressaltamos que nossas vivências diversas e o repertório dos movimentos feministas, de mulheres do campo e da cidade, negras, brancas e indígenas, de mulheres cis e trans, heterossexuais e LBTI+, de diferentes classes sociais, religiões, faixas etárias, escolaridade, corpos, deficiências e regiões do Brasil, compõem as premissas para a construção de uma sociedade mais democrática. Com base nesse pressuposto, conclamamos todo e qualquer projeto político, que pretenda falar em nome da democracia e sua reconstrução no atual contexto, a necessariamente refletir essa pluralidade em todas as suas instâncias: discussões políticas, estratégias, plano e programas políticos, além de suas nominatas de candidaturas com viabilidade. Por isso, estamos empenhadas na busca pelo fortalecimento das candidaturas das mulheres do campo progressista nas eleições de outubro e na representatividade delas na chapa majoritária.

O movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina nasce com a certeza de que a luta por protagonismo, voz, visibilidade e poder de escolha é urgente. Não permitiremos que nossos anseios e nossas vozes sejam apagadas. Por isso, buscaremos a abertura do diálogo e, futuramente, o compromisso de que o projeto político a ser apresentado à Santa Catarina será radicalmente democrático e considerará as desigualdades e múltiplas diferenças das mulheres do nosso Estado.

Assinam esta carta:

Carla Ayres – Vereadora (PT) em Florianópolis

Cintia Mendonça – Co-vereadora da Coletiva Bem Viver (PSOL) em Florianópolis

Giovana Mondardo – Vereadora (PCdoB) em Criciúma

Maria Tereza Capra – Vereadora (PT) em São Miguel do Oeste

Marlina Oliveira Schiessl – Vereadora (PT) Brusque

Anna Julia Rodrigues – Presidenta da CUT Santa Catarina

Angela Albino – (PCdoB)

Beatriz Vargas – (PSB) de Criciúma

Shay Ferreira – Assessora parlamentar

Clair Castilhos – Casa da Mulher Catarina

Claudia Maria Dadico – Juíza federal e Conselheira da AJD (Associação Juízes para a Democracia)

Eliane Schimidt – Presidenta do PT Florianópolis

Giovanna Maria Poeta Dobes – Assessora parlamentar

Ideli Salvatti – Membra do Diretório Nacional do PT

Ingrid Sateré Mawé – Movimento Bem Viver Santa Catarina

Leidiane Sampaio – Assessora parlamentar

Luci Teresinha Choinacki – Ex-deputada federal

Jeane Adre Rinque – Educadora e militante do movimento feminista

Jordana Vanessa Sage – Presidenta da AMT-SC (PDT)

Josiane Fátima de Souza – Vice-presidente do PSB de Içara

Rafaela Kohler – Assessora parlamentar

Taylini Silva – representante Secretaria Estadual de Mulheres do PT

Teresa Kleba Lisboa _ Pesquisadora e coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/ UFSC)


Sobre a foto em destaque:

Com a ex-senadora Ideli Salvatti (Pt) ao centro, mulheres de esquerda querem espaço na majoritária.

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