O prefeito interino João Cobalchini ainda está formalmente filiado ao União Brasil, mas seus primeiros movimentos no comando de Florianópolis após a viagem do titular Topázio Neto (PSD) à Coreia do Sul mostram que ele não faz questão nenhuma de esconder que na prática já age como emedebista. Na manhã desta terça-feira, ele recebeu a imprensa para apresentar as propostas que pretende implementar durantes dos dias de interinidade – 15 propostas, ressaltando o número da legenda do MDB, bem ao estilo característico dos tempos de Luiz Henrique da Silveira no governo do Estado.
No encontro, João Cobalchini anunciou que vai aproveitar o tempo no cargo para encontrar o ministro dos Transportes, o alagoano Renan Filho, também. A porta do ministério foi escancarada pelo pai, o deputado federal Valdir Cobalchini (MDB) – que tem aproveitado a lealdade a bancada de apoio ao governo Lula (PT) na Câmara dos Deputados para ter acesso à Esplanada dos Ministérios. Na pauta do prefeito interino, soluções de mobilidade para a Capital, especialmente a viabilização do prometido e sonhado transporte marítimo.
O almoço de João Cobalchini não poderia ser mais emedebista: com a bandada do partido na Assembleia Legislativa, tradicional encontro das terças-feiras. Além dos deputados estaduais, o almoço contou a estreia da senadora Ivete da Silveira nas terças da Alesc e a participação do deputado estadual licenciado Jerry Comper, atual secretário de Infraestrutura do governo Jorginho Mello (PL). Nota importante: Jerry revelou suas angústias com a dificuldade de ter protagonismo na pasta, mas garantiu que continuará secretário.
Legalmente, João Cobalchini só pode deixar o União Brasil pelo qual se elegeu vereador em 2020 a partir de março de 2024, quando abre a janela de um mês para troca de partido dos vereadores em todo o país. Antes disso, no entanto, ele ocupa o espaço de liderança emedebista da Capital vago desde que o ex-prefeito e ex-senador Dário Berger deixou o partido em 2021 para concorrer a senador pelo PSB – terceiro colocado na disputa de 2022. Antes disso, em 2020, o MDB foi tirado do mapa do poder político da cidade, não elegendo nenhum vereador pela primeira vez desde a fundação da legenda, ainda no regime militar.
O sumiço do MDB de Florianópolis teve diversos ingredientes, a começar pela decisão do então prefeito Gean Loureiro (União Brasil) de disputar a reeleição por uma legenda menos desgastada nacionalmente pelas investigações da Operação Lava Jato. Na época, ele assumiu o Democratas, levando praticamente toda a chapa de vereadores projetada para disputar a eleição – incluindo João Cobalchini. Na sequência, o MDB estadual entregou o comando local da legenda ao então vereador Rafael Daux, que migrou para o Progressistas no último dia de janela de 2020. Para completar a terra arrasadas, Dário Berger operou o inusitado apoio emedebista à candidatura da tradicional adversário Angela Amin (Progressistas), uma pirueta política que o eleitor não entendeu.
Na reconstrução do partido na cidade, João Cobalchini vem operando como presidente informal da sigla. Monta a chapa de vereadores para o ano que vem, traça estratégias e cenários. O objetivo é colocar o MDB não apenas de volta na Câmara de Florianópolis, mas também entrar na disputa com União Brasil e PL para oferecer o vice de Topázio Neto, considerado favorito à reeleição. O nome pode ser alguém ainda fora do jogo partidário, como o coronel Araújo Gomes, atual secretário municipal de Segurança Pública, ou até próprio João Cobalchini. Esse jogo vai depender muito do desempenho do interino nestes 12 dias.
De qualquer forma, bem emedebisticamente, o prefeito interino não deixa de fazer gestos em outras direções. Após sair do almoço com o MDB, ele foi fazer uma visita de cortesia ao deputado estadual Marquito, do PSOL, pré-candidato a prefeito de Florianópolis pela raia da oposição. Ambos foram colegas de mandato na Câmara de Florianópolis.
A política é feita de gestos e os emedebistas costumam saber jogar esse jogo. Por enquanto, fica a constatação. O sumido MDB está de volta à política de Florianópolis. E, até a volta de Topázio Neto, de volta também à prefeitura da Capital.
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João Cobalchini (no canto direito) participa do tradicional almoço das terças-feiras da bancada do MDB na Assembleia Legislativa. Foto: Divulgação.