O governador Carlos Moisés (ex-Psl) voltou para a caixinha. Depois de uma série atrapalhada de articulações para definição do partido em que deve disputar a reeleição em 2022, ele decidiu ouvir o conselho da bancada emedebista e de outros articuladores e focar na agenda de governo, deixando a questão partidária para o ano que vem. Na noite de quarta-feira, no evento que mudança oficial na gestão do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo, Moisés falou sobre a decisão de segurar as articulações sobre filiação e focar na gestão mais ou menos com as mesmas palavras que lhe foram ditas. Reproduzo o trecho da entrevista concedida ao Gregório Silveira, da Rádio Som Maior:
– Obviamente que a gente tem convite dos diversos partidos e nós tomamos por decisão continuar com a agenda administrativa do governo. Porque a eleição é em 2022 e o catarinense precisa que o governo, seus secretários e toda a estrutura continuem trabalhando e entregando o que está fazendo por Santa Catarina. A nossa gestão tem os melhores números da história do nosso Estado, tem os melhores números comparados com as outras unidades da federação e com grandes resultados ditos por organismo independentes. A pauta administrativa do governo é muito melhor do que a pauta política e é nela que nós vamos ficar até o final do ano. Lá no ano que vem a gente começa a escolher os novos caminhos e começa a tomar decisões políticas visando, eventualmente, pleitos e construção de parcerias. Nós temos uma base na Assembleia Legislativa que nos sustenta e sustenta os projetos de lei que estão sendo discutidos. A continuidade do nosso trabalho, que é o que espera a sociedade catarinense, depende do equilíbrio político. É isso que estamos buscando hoje.
O “obviamente”, obviamente, é por conta do governador. O açodado giro de Moisés com as direções nacionais do Podemos e do Republicanos e com a bancada estadual do Mdb mostraram que ele pode reunir simpatias em diversas legendas, mas o tapete vermelho estendido para receber o governador candidato à reeleição não apareceu nessas conversas. Isso acontece porque o cenário pré-eleitoral traz diversas incógnitas e a maior delas – geradora, inclusive, de incógnitas menores – é qual será o potencial eleitoral de Moisés em 2022.
Da mesma forma é que nítido que o governador vive o melhor momento de seus quase três anos de gestão – com alguma harmonia política, dinheiro em caixa e maior conhecimento da máquina -, também é claro aos olhos da política que Moisés ainda não conseguiu transformar isso em apoio popular que faça dele um candidato favorito em 2022. Há tempo para isso e é justamente o que ele chamou de pauta administrativa que vai fortalecer discursos e narrativas para que as crises de 2020 e o afastamento político em relação ao presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl) deixem de ser os problemas de dimensão que hoje são.
Assim, Moisés vai focar na agenda positiva, no lançamento de obras, nos repasses de recursos a municípios, no alinhamento de discurso com sua heterogênea base. Ano que vem vai bater às mesmas portas para ver se o trabalho garantiu o tapete vermelho que esperava ter recebido agora. Esse, aliás, era o plano original que por algum motivo o governador achou que poderia avançar.
Sobre a foto em destaque:
Em Capivari de Baixo, no evento de troca de comando do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, Moisés disse que vai deixar para apontar o novo caminho partidário ano que vem. Foto: Julio Cavalheiro, Secom.