Em setembro de 2019, o governo de Carlos Moisés (ex-Psl) ainda não tinha passado por nenhuma grave crise política ou de popularidade. Tirando algumas poucas caneladas com a Assembleia Legislativa na tentativa de rever incentivos fiscais, a chamada nova política ia tocando a gestão sem maiores sobressaltos. Era a calmaria que precede a tempestade, hoje sabemos após viver a em 2020 o começo da pandemia do coronavírus e os processos de impeachment – sepultados apenas em maio deste ano. Naquela época, no entanto, Moisés iniciou alguns roteiros de visitas ao interior do Estado para combater a fama de ser um governante encastelado na Casa d’Agronômica e avesso a viagens.

Chamei, jocosamente – admito – esses roteiros de Show do Milhão. Foi quando começou a narrativa de que o governo de Moisés conseguia repassar recursos milionários para obras como fruto das economias geradas pela gestão da nova política. O ano de 2019 acabou, 2020 veio e continuou em 2021. Volta e meia, o governador retomava viagens e repasses de recursos, mas a prática ganhou força mesmo após o arquivamento do segundo processo de impeachment e a consolidação da aliança com o centrão catarinense na Assembleia Legislativa. Foi aí que o Show do Milhão, com forte participação dos deputados estaduais e com a arrecadação estadual em níveis nunca antes vistos, consolidou-se se vez. A ponto de no final do ano tornar-se o grande programa do governo Moisés – o Plano 1000, que promete distribuir a todos os 295 municípios repasses de recursos proporcionais ao tamanho de suas populações.

O programa foi lançado de forma apoteótica em dezembro de 2021, mas a graça vem agora. Moisés já foi a Chapecó agraciar o prefeito João Rodrigues (Psd) com R$ 227 milhões em cinco anos e semana passada recebeu a comitiva de Criciúma, liderada pelo prefeito Clésio Salvaro (Psdb), para receber o quinhão de R$ 219 milhões para o mesmo prazo de desembolso. Começou a ficar clara uma estratégia que deve ganhar corpo nos próximos meses. O prefeitos mais próximos politicamente ou aqueles a quem o governo quer adular, vem antes na fila.

Nesta terça-feira, na Casa d’Agronômica, Moisés deve promover mais uma demonstração de força junto aos prefeitos e à base que conquistou na Assembleia com mais uma rodada de Show do Milhão anabolizada pelo Plano 1000. De uma vez, serão recebidos oito prefeitos de cinco diferentes partidos. Em comum, são legendas que Moisés gostaria de ter em seu palanque em 2022 – Mdb, Psd, Psdb, Progressistas e Podemos. Entre os prefeitos, está um possível adversário de Moisés em 2022, embora quase ninguém acredite mais nesse cenário. É o emedebista Antídio Lunelli, de Jaraguá do Sul, que tem se aproximado do governador.

Entre os neoamigos também estão dois prefeitos do Podemos: Mario Hildebrandt, de Blumenau, e Eduardo Freccia, de Palhoça. Ambos serão acompanhados pelo ex-prefeito palhocense Camilo Martins, presidente estadual do Podemos e integrante da ala não-moisesfóbica do partido. A comitiva do Psd tem três prefeitos – Orvino Coelho de Ávila, de São José, José Thomé, de Rio do Sul, e Dorival Borga, de Videira. Completam a lista o tucano Dioclésio Ragnini, de Joaçaba, e a progressista Dalvânia Cardoso, de Içara.

Essa tropa de prefeitos será acompanhada por nove deputados estaduais, de cinco partidos (e uma sem partido): Dirce Heiderscheidt, Fernando Krelling e Jerry Comper, os três do Mdb; Marcos Vieira e Vicente Caropreso, do Psdb; Ismael dos Santos (Psd), Zé Milton Scheffer (Progressistas), Maurício Eskudlark (Pl) e Paulinha (ex-Pdt).

Eventos como esse devem se tornar comuns enquanto as restrições da legislação eleitoral não impedirem. Moisés vive um momento delicado em que precisa reforçar sua aliança política, mas também conquistar simpatia junto à sociedade. As eleições não são indiretas.


Sobre a foto em destaque:

Moisés no lançamento do Plano 1000 em dezembro de 2021. Foto: Júlio Cavalheiro, Secom.

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