É curioso como uma agenda positiva de governo, com roteiros e distribuição de recursos pelo Estado, tornou-se uma agenda atrapalhada sobre filiação partidária. A observação não é minha, é de um dos nove deputados estaduais do Mdb que vão jantar com o governador Carlos Moisés (ex-Psl) na noite desta terça-feira, em um encontro que deve alinhar o discurso sobre quais as prioridades da política neste momento e as chances de estarem juntos no projeto eleitoral de 2022. Há bastante o que conversar.
A princípio, a pauta será apresentada por Moisés junto com o cardápio na Casa d’Agronômica. Mas é claro que o principal e maior núcleo aliado ao governador no parlamento vai querer entender os movimentos que o levaram duas vezes a Brasília para bater às portas de Podemos e Republicanos para conversas pouco ou nada conclusivas sobre seu futuro político. Com a deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos, um encontro que ignorou a ausência completa de diálogo com as lideranças estaduais do partido – como se ele pudesse ser tomado por cima. Com o Republicanos, com Marcos Pereira – deputado federal e presidente nacional – o constrangimento de ouvir que o partido não está disposto a colocar um níquel de fundo partidário e eleitoral na ideia de eleger o governador de Santa Catarina.
Moisés anunciou a desfiliação do Psl em junho deste ano e desde então passou a viver seu melhor momento de governo e de relação com os deputados estaduais. Disse, mais de uma vez, que iria focar na gestão e que a decisão sobre o partido em que vai concorrer à reeleição ficaria para o ano que vem. Aglutinou os tradicionais Mdb, Psd e Progressistas em sua base de apoio com acesso amplo ao governo para prefeitos e bases eleitorais. Nas últimas semanas, no entanto, partiu para a definição por um partido que seria “mais neutro” e em que pudesse aglutinar os contêineres de contradições que envolvem os três maiores partidos do Estado em um palanque cuja liga seria o bom momento arrecadatório do Estado e os olhos azuis do comandante.
– Está achando que é o Luiz Henrique – brincou um observador atento e interessado.
Como ninguém entende mais de luizhenriquismos do que os emedebistas – embora não sejam alunos tão aplicados -, Moisés vai beber na fonte no jantar desta terça-feira. Há no Centro Administrativo quem defenda que a possível filiação do presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl) ao Progressistas e o provável desfecho desse ato em uma candidatura ao governo do senador Esperidião Amin (Progressistas) deveriam fazer com que o governador fortalecesse ao máximo os laços com o Mdb, garantindo o apoio do partido e das bases. O que seria conquistado apenas com a filiação ao 15. No fim de semana, em Tubarão, Moisés ainda advogava a tese do partido menor.
Mas se uma coisa é certa no Mdb é que ele nunca caiu no colo de ninguém, nunca se dispôs ao jogo jogado. No auge da carreira política, no final do segundo mandato como governador, Luiz Henrique precisou encarar uma prévia contra o ex-governador e adversário interno Paulo Afonso Vieira para ser referendado candidato ao Senado em 2010. E não foi fácil: 60% a 40%. Antes que seja servida a tradicional torta de sorvete do palácio, Moisés deve ouvir dos emedebistas que mesmo que a bancada estadual se engaje em seu projeto, há uma luta a ser travada no partido.
No momento, o prefeito Antídio Lunelli, de Jaraguá do Sul, conquistou uma vantagem importante com a adesão discreta de Celso Maldaner, deputado federal e presidente estadual da sigla, a sua pré-candidatura. Por que digo que é uma adesão discreta? Porque Maldaner defende em público que houve um acordo entre ambos e o senador Dario Berger pelo apoio à candidatura Antídio. Mesmo que o senador tenha negado o entendimento e continue tentando ser o nome do Mdb, a adesão do deputado federal ao prefeito/empresário está implícita. Moisés, se quiser o Mdb, dentro ou fora dele, tem a tese da candidatura de Antídio para enfrentar. Ou seja, não sairá do jantar com alguma resposta – se é o que espera.
Mesmo que Moisés receba nos próximos dias outras bancadas para falar de governo, tudo leva a crer que terminará a semana convivendo com a narrativa de que ouviu outro “não”, outro “talvez”, outro “quem sabe?”. Narrativas que apequenam o governador em um momento em que deveria apenas usufruir de seu melhor momento político e de gestão. Afinal, um governador que vai bem não ouve tantas negativas e nem permite que sejam ventiladas nos bastidores opções acanhadas como o Psc ou esdrúxulas com o Solidariedade. Há algo estranho acontecendo na articulação do governo.
Sobre a foto em destaque:
Carlos Moisés e a difícil articulação sobre o partido em que disputará a reeleição. Foto: Júlio Cavalheiro, Secom.
No Cabeça de Político de setembro, Moisés falou sobre a ideia de filiar-se a um “partido mais neutro” em que pudesse ter apoio de partidos maiores rivais no Estado. Reveja a entrevista: