A maior composição partidária da política catarinense contemporânea ganhou o apelido de tríplice aliança – referência explícita ao bloco formado por Alemanha, Império Austro-húngaro e Itália na Primeira Guerra Mundial. Na nossa pequena guerra política, era a aliança entre o Pmdb de Luiz Henrique da Silveira, o Psdb de Leonel Pavan e o Pfl de Raimundo Colombo, que formaram a chapa arrasa-quarteirão que venceu eleições de 2006 isolando Esperidião Amin e o Pt.

Esse combo, com pequenas variações, governaria Santa Catarina até 2018, ano em que a renúncia de Colombo marcou o fim da sociedade entre Psd, herdeiro do Pfl, e o Mdb. Já era um farrapo da aliança política exuberante construída por alfaiates talentosos como LHS, Jorge Bornhausen, Júlio Garcia, João Henrique Blasi, Marcos Vieira, entre outros. Faço esse resgate histórico para lembrar que reeditar a tríplice aliança, mesmo que com outras legendas e personagens, é sempre uma ambição entre os que disputam o poder catarinense.

Nesta semana, curiosamente, esse objetivo ficou mais claro em duas frentes possíveis da batalha eleitoral do ano que vem. No jantar que ofereceu à bancada estadual do Mdb na terça-feira, o governador Carlos Moisés ouviu que o time emedebista pode estar em seu projeto de reeleição em 2022. Mas que para conquistar o 15 tem que mirar a reconstrução da tríplice aliança com pessedistas e tucanos.

É uma solução irresistível, embora lembre um dos sete trabalhos de Hércules. Moisés tem o apoio dos deputados do Psd e do Psdb na Assembleia Legislativa, mas também tem nesses dois partidos dois dos maiores antagonistas de seu governo: o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) e o ex-deputado estadual Gelson Merisio (Psdb) – adversário no segundo turno de 2018. Mas também tem caminhos. No Psd, mais obviamente, através de Júlio Garcia e Eron Giordani. Entre os tucanos, a conversa poderia ser com o ex-senador Paulo Bauer e o ex-ministro Vinicius Lummertz, facilitada caso o governador paulista João Dória ganhe a prévia presidencial do Psdb.

Na tarde de quarta-feira, a expressão tríplice aliança foi pronunciada em outro encontro político, desta vez em Joinville. Raimundo Colombo foi encontrar o ex-prefeito Udo Döhler (Mdb), meio sumido do jogo político após o fim de seu mandato em 2020. Pré-candidato ao governo, o lageano também sonha em reeditar a aliança que lhe deu o mandato de senador em 2006 e a primeira eleição para o governo em 2010. Assim, busca conversas com emedebistas que possam ser simpáticos à ideia.

Recentemente, Colombo esteve na Alesc e procurou deputados emedebistas para medir o tamanho da adesão a Moisés. Não saiu frustrado de lá. No Psdb, a conversa está fluida com Merisio – depois de um período de afastamento entre ambos após a eleição de 2018. O apoio recíproco pode ser construído e nesse caso a prévia nacional tucana também tem efeitos. A vitória de Leite empodera Merisio, mas também pode significar a necessidade de que os tucanos abram mão de candidatura ao governo em nome de construir um palanque mais amplo para o presidenciável.

Essa, aliás, foi a fórmula da tríplice aliança original: o Psdb abriu mão da cabeça de chapa para LHS e Colombo para viabilizar as vitórias de Geraldo Alckmin e José Serra no Estado. Os tempos são outros, é claro. Os tucanos tinham naquela época o monopólio do antipetismo, hoje entregue ao presidente Jair Bolsonaro – político mais popular de Santa Catarina. Mesmo assim, os políticos ainda sonham com o tempo em que juntar os três maiores partidos do Estado era sinônimo de vitória certa.


Sobre a foto em destaque:

Moisés se vê na videoconferência. Foto: Peterson Paul, Secom.

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