O governador Carlos Moisés verbalizou na tarde deste sábado algo que era público e notório nos bastidores da política catarinense: ele vai se desfiliar do Psl, partido em que ingressou em 2018 como mero assessor de Lucas Esmeraldino e onde acabou, poucos meses depois, eleito com 71% dos votos dos catarinenses colado na onda gerada pela impressionante votação de Jair Bolsonaro (Psl na época, hoje sem partido) no Estado. Na prática, o afastamento do Psl deu-se entre os primeiro e o segundo processos de impeachment, em novembro do ano passado.
O divórcio já estava claro em março, quando Fábio Schiochet – deputado federal e presidente do Psl-SC – levou o vice-presidente nacional da sigla, Antônio Rueda, para um encontro com o ex-deputado estadual Gelson Merisio (Psdb), adversário de Moisés no segundo turno de 2018. O sinal não estava no encontro em si, mas na foto do trio distribuída à imprensa. Estava em construção um projeto comum – e onde tem Merisio, não tem Moisés. A conversa nem prosperou, ainda, mas o recado estava claro.
Era uma resposta à exoneração de nomes ligados ao Psl de Schiochet para abrigo dos novos aliados do Mdb, do Progressistas e até do Psd. Esse era o novo time de Moisés após o arquivamento do processo de impeachment que analisou a equiparação salarial dos procuradores. Curiosamente, foi nessa batalha o momento de maior proximidade entre Moisés e Schiochet. O deputado federal chegou a assumir informalmente a Casa Civil de governo. Conquistou apenas seis dos 14 votos necessários para barrar o impeachment, em uma articulação casada com o processo de construção das coligações para as eleições de 2020.
Moisés não deixou antes o Psl porque durante algum período ainda esperou que a direção nacional levasse em conta a perda causada pela desfiliação de um governador. Uma impressão logo desfeita. Não à toa os últimos meses foram marcados por rumores de filiação de Moisés a outros partidos – Republicanos, Progressistas, Mdb, Psc, etc. Essa outra novela deve continuar, agora que está encerrada de forma melancólica e com baixa audiência essa que marcou a ruptura entre o governador e o partido que o elegeu. A fala de Moisés no encontro com apoiadores foi aquele velho clichê de focar na gestão.
– O momento exige dedicação exclusiva para que possamos superar de vez a pandemia, acelerando ainda mais a vacinação, e garantir a continuidade do crescimento econômico em Santa Catarina. O nosso governo tem feito uma série de ações para reduzir o tamanho da máquina pública e desburocratizá-la. Vamos nos esforçar ainda mais para isso – disse Moisés.
Na prática, Moisés livra-se de um peso que não queria carregar. O momento é de recuperar a credibilidade do governo – os anúncios são quase diários – após a crise política. O foco é a reeleição e para isso tem pouco mais de seis meses para provar aos aliados de agora que pode ser viável eleitoralmente em 2022. A definição do novo partido depende disso e será feita lá por março do ano que vem – uma escolha que vai balizar com quais e quantos dos atuais aliados poderá contar.
Para o Psl catarinense, também é liberdade. Conversei há pouco com Fábio Schiochet, que ressaltou a incompatibilidade dos projetos do partido e do governador, além do esfriamento das relações no final do ano passado. Os pesselistas – em âmbito estadual e nacional – têm um único objetivo: eleger deputados federais e manter o partido robusto no Congresso Nacional. Disso depende a manutenção da legenda com algum protagonismo na política brasileira. Todo o fundo eleitoral, que não é pouco, será canalizado para esse projeto, sem diversionismos majoritários.
– Eu desejo sorte ao Moisés no partido que ele escolher. Nós vamos continuar fortalecendo nossa base, nossos prefeitos. A saída do governador não muda nosso rumo e nem nos preocupa a perda de lideranças. Acho que agora ele fica mais livre para conversas e nós também. Moisés continua sendo um amigo, é uma pessoa íntegra. Infelizmente foi um casamento que não deu certo e que terminou sem que os dois conversassem – disse Schiochet.
Sobre a foto em destaque:
Moisés anunciou o que já não era novidade: está de saída do Psl e vai ficar sem partido enquanto tenta deslanchar como postulante à reeleição. Foto: Peterson Paul, Secom.