A pré-candidatura de Raimundo Colombo (Psd) ao governo estadual sofreu dois ataques na segunda-feira. Um deles franco, escancarado, aos olhos da praça pública das redes sociais: o governador Carlos Moisés (Republicanos) usou da ironia para criticar um financiamento de R$ 3 bilhões contraído na gestão do pessedista para contra-atacar a fala em que o antecessor chamou de “politicagem nojenta” o repasse de recursos aos prefeitos no atual governo. O outro, nos bastidores, um tanto escamoteado, é o ataque especulativo lançado por setores de seu próprio partido, o Psd, de que já estaria acertado seu apoio à pré-candidatura do ex-prefeito florianopolitano Gean Loureiro (União).

Ambos estão, de certa forma, relacionados. A tarde de segunda-feira circularam informações – o Marcelo Lula publicou em seu site – de que nesta terça-feira a bancada estadual do partido faria um gesto em favor da pré-candidatura de Gean Loureiro. Que os deputados estaduais Júlio Garcia e Marlene Fengler estão nessa canoa já sabíamos todos. Ismael dos Santos sempre foi defensor do nome de João Rodrigues e ainda não se posicionou após a desistência do prefeito de Chapecó de entrar para o jogo. O quarto elemento da bancada e presidente estadual do Psd, Milton Hobus, veio até agora alinhado ao projeto Colombo. Algo teria mudado? Segundo narrativas de bastidor, sim.

Logo em seguida, veio a portagem de Carlos Moisés no Twitter, como quem chama Colombo para o ringue, escolhe o adversário. Por mais que sempre alfinete a gestão do pessedista, vinculando-a a excesso de gastos e casos de corrupção, Moisés nunca havia rebatido diretamente críticas feitas pelo antecessor – mesmo que esteja claro que ele gosta dessa polarização. Semana passada, em entrevista ao Plenário da Rádio Som Maior, Colombo fez fortes críticas ao que chamou de cooptação de prefeitos através de repasses de recursos. Defendeu que seu programa de repasses aos municípios, o Fundam, priorizava as pequenas cidades, e que o Plano 1000 inverte a lógica ao destinar recursos maiores aos mais populosos.

Moisés esperou uma semana para responder. Acometido de uma gripe que o deixou praticamente afônico, exercitou a verborragia nas redes sociais. Atacou, com ironia, o empréstimo de R$ 3 bilhões contratado junto ao Bndes em 2013.

– Quando você estiver pra baixo achando que todas as suas decisões prejudicam o seu futuro, lembre-se do empréstimo de R$ 3 bilhões que o Governo de SC pegou em 2013, já pagou mais de R$ 1,5 bilhão (quase tudo de juros e encargos) e ainda deve praticamente os mesmos R$ 3 bilhões – disse o governador, completando a frase à moda das redes sociais com um emoji de palhaço.

Moisés disse que os financiamentos contraídos no governo Colombo não foram usados com estratégia e nem pensando no impacto futuro.

– Foram feitos porque era o caminho mais cômodo e que não desagradava ninguém. Economizar, extinguir as SDRs, enxugar a máquina e criar estruturas de prevenção e combate à corrupção estava fora de cogitação – completou.

Na manhã desta terça-feira, Colombo foi novamente ouvido no Plenário da Som Maior para dar sua tréplica. Moisés também foi convidado, mas a gripe impediu o debate antecipado. O pessedista também ironizou ao responder e sugeriu que o governador demita quem o orientou a postar a crítica, que chamou de “erro primário”. Colombo respondeu de forma técnica. Lembrou que o financiamento de R$ 3 bilhões a juros subsidiados foram uma compensação dada pelo governo federal, à época comandado por Dilma Rousseff (Pt), por causa dos prejuízos que SC teve com a resolução que igualou o Icms de produtos importados. Santa Catarina tinha uma política agressiva, de baixas alíquotas, para dar competitividade aos portos do Estado, implantada ainda no governo Luiz Henrique da Silveira (Pmdb). A perda mensal com o fim da guerra fiscal nesse setor era superior a R$ 90 milhões por mês.

Colombo disse que R$ 3 bilhões financiados, usou R$ 1 bilhão para quitar uma dívida da Celesc com taxa de juros maiores. Outros R$ 250 milhões foram utilizados para capitalizar o Brde e ampliar as possibilidades de empréstimos do banco regional. O resto, foi para obras de infraestrutura dentro do programa Pacto por Santa Catarina – “obras que o próprio governo está inaugurando”, disse Colombo.

O bom de um ataque aberto, franco, é que ele pode ser respondido e, inclusive, gerar um bom debate. Moisés e Colombo fazem, mesmo que por vias indiretas e sem muito público, debates importantes sobre a condução da máquina do Estado, políticas fiscais, rumos e desenvolvimento. Ataques especulativos são mais difíceis de responder. Questionado sobre os rumores de acerto para apoiar a pré-candidatura de Gean Loureiro, o ex-governador limitou-se a dizer que não assumiu compromisso nenhum e que esse acerto não se dará de forma pessoal, mas partidária. A hora de decisão está chegando.

Ouça a íntegra da entrevista de Colombo:


Sobre a foto em destaque:

Em evento do Psd, Colombo discursa enquanto lideranças pessedistas cochicham. Foto: Caio Marcelo, Divulgação.

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