Se em outubro a tentativa de aproximação com o Podemos se deu de forma totalmente atrapalhada e descolada da realidade estadual, desta vez o governador Carlos Moisés (ex-Psl) está sendo mais habilidoso no flerte com a legenda. Na terça-feira, ao receber 10 prefeitos para assinar a adesão de seus municípios ao Plano 1000, ele não apenas reuniu três dos quatro prefeitos do Podemos, como fez questão de registrar o momento abraçado a todos os filiados presentes – incluindo o presidente estadual do partido, Camilo Martins. No retrato, estão os prefeito Mário Hildebrant (Blumenau), Eduardo Freccia (Palhoça) e Emerson Maas (Mafra), além do deputado estadual Nazareno Martins (ainda no Psb) e a vice presidente estadual Emanuella Wolff (que também é chefe de gabinete do prefeito Antídio Lunelli, do Mdb, em Jaraguá do Sul). No canto direito, o secretário Eron Giordani, da Casa Civil.
O quinhão de cada
Blumenau vai levar R$ 366 milhões no programa – os valores sempre são projetados para os próximos cinco anos. Mário Hildebrandt diz que já há projetos prontos para a maior parte dos recursos. A relação entre o prefeito e o governador sempre foi atravessada por maus interlocutores. Parece que todos foram tirados do caminho.
“Essa decisão nos dá a condição de municipalizar as ações de acordo com a demanda que bate à nossa porta. Vamos juntos para que Santa Catarina possa se desenvolver ainda mais.”
Mário Hildebrandt, de olho na grana.
Para Palhoça, a cidade de Eduardo Freccia e Camilo Martins, serão R$ 178 milhões. Mafra, do prefeito Emerson Maas, vai receber R$ 56 milhões.
“Aí vem o Estado e a mão forte para nos apoiar. O Plano 1000 é um benefício real para as cidades e o governador Carlos Moisés um parceiro para tocar as grandes obras e as grandes transformações que as cidades e o Estado precisam.”
Eduardo Freccia, parceiro do parceiro.
O coro dos descontentes
O Show do Milhão de Moisés não sensibiliza em nada os dois pré-candidatos do Podemos para vagas majoritárias. Internamente, o ex-deputado federal Paulo Bornhausen e o prefeito Fabrício Oliveira, de Balneário Camboriú, criticaram as leituras de que o partido está aderindo ao governo com base nos repasses do Plano 1000. Paulo Bornhausen, pré-candidato ao Senado, chegou a dizer que “o desespero está alojado no Palácio”. Fabrício, pré-candidato a governador, respondeu que “não é somente no Palácio”.
Estratégia
Dividir o Podemos é bom para a Casa d’Agronômica, claro que é. Mas mesmo assim é difícil imaginar que o Podemos esteja junto com Moisés no primeiro turno nas eleições deste ano. Quem sabe no segundo.
Jorginho Mello critica o Plano 1000
O ambicioso programa de Moisés para repartir recursos do Estado com as prefeituras tem conseguido unir os possíveis adversários nas críticas. Na terça-feira, o ex-governador Raimundo Colombo fez suas considerações na Rádio Clube, de Lages, que reproduzi aqui. Nesta quarta-feira, foi a vez do senador Jorginho Mello, em entrevista à Rádio Som Maior. Vou reproduzir o que ele disse ao jornalista Dênis Luciano, que está cobrindo as férias do Adelor Lessa:
“Não adianta sair por aí que nem o Sílvio Santos, ‘quem quer dinheiro, quem quer dinheiro’. Para fazer uma obra tem que fazer primeiro as análises ambientais e a viabilidade, por aí afora. Dessa propaganda toda, pouquíssima coisa vai ser realizada. Esse negócio de pix pra lá, pix pra cá, tem muita gente desconfiada. E não é assim. Tem que ter responsabilidade. Pacotão pra cá, pacotão para lá, isso é desespero.”
Jorginho Mello, duvidando.
Não vai além disso
É curioso que Jorginho Mello e Paulo Bornhausen usaram a palavra desespero ao se referirem aos atos de adesão de prefeitos ao Plano 1000 de Moisés. Só não pensem que o ataque afinado de Jorginho, Paulinho e Colombo signifique que possa haver uma aliança do trio contra o atual governador. Eles rejeitam Moisés na mesma medida em que não se bicam entre si.
Calma lá
Na entrevista na Som Maior, Jorginho também falou da postagem no final de semana em que negou que já haja qualquer definição sobre a vaga de vice em sua chapa. Os rumores davam conta de que estaria fechada uma aliança com o Progressistas, com a indicação da deputada federal Angela Amin para a vaga. Disse que fez a postagem para dar “freio de arrumação” aos rumores.
“Eu tenho o maior respeito pela deputada Angela Amin, pelo senador Esperidião Amin, pelo prefeito Joares Ponticelli e tantas outras lideranças com quem estou conversando. Não tem nada, não tem coligação nenhuma já previamente construída.”
Jorginho Mello, desconversando.
Bolsonaristas x politica tradicional
Não participei da entrevista, mas pedi ao Dênis que perguntasse ao senador como ele via a reação dos grupos bolsonaristas mais radicais contra a possibilidade de composição com a família Amin. Escrevi sobre isso no início da semana aqui no Upiara Online. Veja a resposta:
“Se alguém tem uma diferença com A, com B ou com C, eu não tenho diferença com ninguém. Eu gosto de todo mundo. Eu respeito todo mundo e por isso sou um político respeitado.”
Jorginho Mello, desconversando de novo.
O novo salário mínimo de SC
Os representantes sindicais dos patrões e dos empregados chegaram a um acordo nesta quarta-feira para o reajuste dos pisos salariais para os trabalhadores privados em Santa Catarina para 2022. A correção será de 10,5%, em média, nas quadro faixas. O acordo será assinado amanhã, às 11h, na sede da Federação das Indústrias (Fiesc). Os valores vão ficar em R$ 1.416, R$ 1.468, R$ 1.551 e R$ 1.621.
Roteiro conhecido
O acordo entre empresários e trabalhadores normalmente encerra o debate, daqui para a frente é apenas burocracia e sorriso para fotos. A proposta será enviada ao governador Carlos Moisés, que a transforma em projeto de lei e encaminha para a Assembleia Legislativa. O parlamento costuma aprovar o acordo com plenário cheio e discursos elegantes sobre a conciliação entre capital e trabalho.
Marcando posição
Até 2018 os salário mínimo regional era aprovado sem votos contrários. Depois disso, o liberal Bruno Souza (Novo) passou a ser a voz dissonante contra a intromissão do Estado e sindical nas relações privadas da economia. Às vezes consegue levar junto Jessé Lopes (Psl) para o voto contrário.