Decifra-me ou te devoro é o clássico desafio da esfinge de Tebas, no antigo mito grego. Na segunda-feira, tucanos e progressistas se depararam com uma versão muito menos carnívora da esfinge mitológica quando foram à Casa d’Agronômica tentar tirar do governador Carlos Moisés (ex-Psl) algumas pistas sobre como e em que partido pretende disputar a reeleição em outubro. A esfinge catarinense, a princípio, não devora ninguém, mas se apresenta como um enigma a ser decifrado por aqueles que pretendem ser seus aliados. Ontem, as lideranças do Psdb e do Progressistas saíram da residência oficial do governador como entraram.

O roteiro deve se repetir com todas as lideranças e partidos que procurarem Moisés com convites ou expectativas de definição até março deste ano. O governador ouve, expõe suas angústias, agradece os gestos e posterga as decisões. A cena deve se repetir com a bancada estadual emedebista esta semana. Moisés continua dividido entre o sonho de encontrar uma legenda em que ao mesmo tempo tenha o comando e possa agregar forças políticas tradicionais e o pragmatismo de aceitar as portas que lhe foram abertas nos tradicionalíssimos Mdb, Progressistas e Psdb.

Do senador Esperidião Amin e o deputado estadual Sílvio Dreveck – respectivamente o pré-candidato ao governo e o presidente estadual do Progressistas -, Moisés ouviu que o partido quer voltar a ter candidatura, o que não acontece desde 2010, quando Angela Amin ficou em segundo lugar. Os progressistas veem relação direta entre a ausência na cabeça da chapa e a redução contínua de suas bancadas estadual e federal na última década. Assim, voltaram a dizer que estão dispostos a abrigar Moisés no 11.

É uma conversa com pouca margem para prosperar oficialmente. Filiado ao Progressistas, Moisés espanta o principal esteio de seu governo, que é o Mdb. Em seus sonhos, ele imagina a filiação ao inexpressivo Avante como uma forma de obter o apoio de ambos – mas é sonho, e cada vez mais ele sabe disso. Ontem, mais uma vez, ouviu dos progressistas que em algum momento precisará escolher qual dos rivais históricos quer em seu palanque. Ouviu isso até do ameno Dreveck, que até pontuou que os partidos não trazem mais o peso das disputas dos anos 1980 e 1990, mas que a composição é, ainda, muito difícil de ser assimilada.

Essa conversa entre Moisés e Progressistas passa a impressão de ter sido mera formalidade antes que o partido de Amin avance as conversas já iniciadas para compor com o ex-governador Raimundo Colombo (Psd). Os progressistas querem o 11 na urna, mas temem uma aventura. Colombo vê em Amin uma aliança que encorpa sua pretensão de disputar o governo pela terceira vez e o fortalece diante da pressão de setores do Psd pelo apoio ao prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil).

Com o Psdb, a conversa teve o mesmo tom, mas com nuances. Liderados pelo prefeito Clésio Salvaro, prefeito de Criciúma, os tucanos não levaram o tão esperado convite oficial para que Moisés entre no partido. Não por falta de desejo, mas porque em política só se fazem os convites cuja resposta já se sabe de antemão. Com Moisés ligado no modo esfinge, o Psdb sondou o terreno para ver se consegue avançar. O partido está preocupado com suas nominatas para as disputa por vagas na Assembleia Legislativa e – muito mais preocupante – para a Câmara dos Deputados. Assim, a vinda do governador e de seus aliados poderia preencher alguns vazios e garantir mais cadeiras.

O Psdb seria um destino interessante para Moisés. Tem história, mas nunca foi o protagonista da política estadual. Já apoiou Amin e já apoiou o Mdb – tem crédito. Mas tem um peso que Moisés não quer carregar: a candidatura presidencial de João Dória com discurso contundente contra o presidente Jair Bolsonaro (Pl). Moisés e Dória, cada uma sua forma, chegaram ao poder em seus Estados colados em Bolsonaro e depois de afastaram. A pecha de traidores que o bolsonarismo cola em ambos seria reforçada – com ônus maior na terra catarinense.

Assim, o governador vai postergando sua decisão partidária e cozinhando os interessados em seu passe – especialmente o Mdb, que observa atentamente. Há lógica no momento de espera. Moisés – a esfinge catarinense – não devora quem não a decifra. Mas trava os movimentos de quase todos os personagens da eleição enquanto não decifra a si mesmo.


Sobre a foto em destaque:

Moisés sorri. Foto: Ricardo Wolffenbüttel, Secom.

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