Quando o presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl) diz que está 99% fechado com o Partido Liberal (Pl) é sempre bom lembrar a experiência dos quase acertos com Patriota e Progressistas (Pp) para observar que, assim como no caso do cantor Wesley Safadão, aquele 1% é sempre um perigo para os analistas políticos. Mesmo assim, tudo indica que o presidente vai mesmo optar pelo partido do Valdemar da Costa Neto em detrimento da legenda de seu ministro da Casa Civil, o senador licenciado Ciro Nogueira (Progressistas do Piauí). Esse contexto tem fortes repercussões na política catarinenses – a curto, médio e longo prazos.
Imediatamente, a filiação de Bolsonaro ao Pl, se confirmada, anaboliza a candidatura do senador Jorginho Mello (Pl) ao governo do Estado. Desde 2019, ele tem trabalhado a aproximação com o Palácio do Planalto e com os bolsonaristas locais na expectativa de conquistar a confiança de ambos para ser o candidato oficial de Bolsonaro ao governo catarinense. Conquistar, assim, o mesmo tipo de bilhete premiado que levou o desconhecido Carlos Moisés (ex-Psl) ao governo em 2018. Mesmo que não se repita a onda eleição daquele ano, a popularidade do presidente entre os catarinenses certamente é capaz de garantir a presença no segundo turno de um candidato apoiado por ele. Inicialmente, não estava na equação de Jorginho estar no mesmo partido (e mesmo número) de Bolsonaro, o que se tornou um forte componente extra.
Mesmo que haja outros candidatos a governador dizendo apoiar Bolsonaro, a força de ostentar o mesmo número, especialmente em votação de urna eletrônica, pode ser o argumento definitivo em uma disputa local entre matizes de bolsonarismo. Em 2018, por exemplo, Gelson Merisio (ex-Psd, hoje no Psdb) declarou apoio ainda em primeiro turno a Bolsonaro, o que garantiu que chegasse ao segundo turno. No confronto direto com o Psl, no entanto, esvaziou. Com Bolsonaro no 22, Jorginho tem uma blindagem extra e com a qual não contava até o mês passado.
Essa nova condição do senador pré-candidato a governador provavelmente vai dificultar a entrada no jogo de um pré-candidato espaçoso e que preocupava as frágeis hostes liberais catarinenses: o senador Esperidião Amin (Progressistas), que dava todos os sinais de que seria candidato ao governo pela quinta vez (ganhou duas e perdeu duas) caso Bolsonaro escolhesse o Progressistas. Amin insiste na garantia de que o 11 do partido estará na disputa pelo governo, mas a tendência maior é de uma aproximação com Moisés do que com Jorginho, com quem tem antagonizado frequentemente. Como liberais e progressistas devem estar juntos nacionalmente em torno da reeleição do presidente, Jorginho deve focar suas ações para conquistar Amin e o Pp. Não é à toa que ele carregou de elogios o colega senador e, especialmente, a deputada federal Angela Amin – nome que ele já tentou cortejar para a vaga de vice-governadora em sua chapa. É o desafio de Jorginho, que até agora não conseguiu ser atrativo para nenhum partido tradicional do Estado.
A médio prazo, a ida de Bolsonaro para o Pl traz outras consequências. A principal é que deve desencadear a definição do novo partido do governador Carlos Moisés. Após o atrapalhado flerte com o Podemos e a melhora na conversa com o Republicanos, o governador foi convencido por sua base aliada, especialmente os deputados estaduais do Mdb, a deixar essa conversa para o ano que vem. Agora, resolvida a questão Bolsonaro (ou a 1% de estar), Moisés preenche de uma lacuna importante da decisão sobre seu próprio destino. Caso o presidente fosse para o Pp e Amin entrasse no jogo da sucessão, talvez fosse importante para o governador abraçar de vez o Mdb, com 15 e tudo, para equilibrar um jogo que ficaria mais pesado. Agora, é possível que mantenha o plano de ingressar em uma sigla de médio porte que possa atrair aliados maiores com a promessa de um vice-governador que vira titular em 2026 e uma vaga ao Senado para negociar.
Para os demais postulantes, o alívio é ouvir Bolsonaro dizer que estar no Pl não significa que automaticamente Jorginho será seu candidato. O foco é eleger senadores para, caso reeleito, ter uma vida mais fácil em um dos maiores focos de resistência que teve no primeiro mandato. E caso não eleito, fazer o diabo da vida do sucessor, especialmente se vestir vermelho. Assim, há margem para múltiplos palanques a governador.
A longo prazo, no entanto, deve estar a maior das questões. Como o eleitor que deu um respaldo histórico ao outsider Bolsonaro em 2018, filiado a um partido nanico e cercado por figuras desconhecidas, vai receber o presidente que aderiu a um partido vinculado ao Centrão e comandado por um condenado do Mensalão. É improvável que Bolsonaro não vença a disputa em Santa Catarina, mas os líderes locais que querem ser carregados por uma nova onda dependem muito de que essa contradição não seja percebida pelo eleitor. Ou que engulam e digiram de forma conveniente, como dizia um senador alagoano e ex-presidente da República que também apoia Bolsonaro.
Sobre a foto em destaque:
Bolsonaro diz que está 99% fechado com o Pl – falta aquele 1%. Foto: Anderson Riedel, Presidência da República.