Há quatro anos, Gelson Merisio era pré-candidato a governador. Hoje também.

As circunstâncias são, no entanto, completamente diferentes. Em 2017, ele exercia o comando do Psd com tanta força que até mesmo o então governador Raimundo Colombo era coadjuvante nas decisões sobre o rumo da legenda na eleição em que se definiria sua sucessão. O bunker de Merisio era a Assembleia Legislativa, que comandava diretamente ou por intermediários desde 2010. 

Passados quase três anos da derrota eleitoral de 2018, quando a Onda 17 de Jair Bolsonaro carregou o desconhecido Carlos Moisés (Psl) para a improvável vitória que desmanchou um castelo de cartas marcadas da política estadual, Merisio não tem nem o Psd e nem a Alesc. O recomeço se dá no Psdb, um partido que não o apoiou naquela eleição e que além de vítima do mesmo fenômeno, também sofreu por más escolhas eleitorais. 

A ida para ninho tucano se deu em novembro de 2019, seis meses depois de deixar o Psd – onde desistiu de brigar com Colombo, Júlio Garcia e João Rodrigues pelo comando interno que exerceu por tanto tempo. Desde então, manteve-se nos bastidores – com uma ou outra crítica ao governo Moisés, especialmente pela condução da pandemia. 

Aos poucos, no entanto, Merisio começa a assumir a condição de pré-candidato a governador. Um processo que passa com tanta força pelo Sul do Estado que foi lá que o ex-pessedista teve seu primeiro evento de construção desse projeto, com o apoio dos dois tucanos que teriam plumagem para requisitar um lugar à frente dele na fila: o prefeito Clésio Salvaro e a deputada federal Geovânia de Sá, ambos de Criciúma.

Merisio fez um breve roteiro por Santa Rosa do Sul, Balneário Gaivota e Criciúma. Conversou e foi fotografado com vereadores, prefeitos, pré-candidatos a deputado. Mostrou-se alinhado a Clésio e Geovânia – com a presença, importante no contexto tucano, do ex-senador Dalírio Beber.

O alinhamento de discurso é vital neste momento. Duas semanas atrás, em entrevista à Rádio Som Maior, Clésio disse que não pretende renunciar à prefeitura para concorrer em 2022 e que seu pré-candidato é Merisio. Afirmou que as convergências entre ambos são maiores que as divergências. Na segunda-feira, foi a vez de Merisio conceder entrevista a mim e ao jornalista Adelor Lessa no mesmo microfone. Fez questão de retribuir a gentileza que – pelo menos por enquanto – mantém todos os tucanos no mesmo ninho.

– Eu não sou candidato a governador, sou um nome dentro do Psdb que tem o prazer e a alegria de contar com o apoio de pessoas importantes. Quando comecei o processo, minha primeira visita foi ao prefeito Clésio Salvaro para dizer que se ele entender que deve ser o candidato, ele é o meu candidato – disse Merisio. 

Na conversa na Som Maior, o neotucano mostrou a assertividade de sempre ao falar sobre o governo Moisés, a pandemia e as eleições de 2022. Disse que não é hora de oposição contundente, mas que erros e acertos serão trazidos à tona na campanha eleitoral. Acredita que “tínhamos e temos uma condição estrutural e cultural para termos resultados muito melhores, com muito menos vidas sendo perdidas”.

– Essa é minha terceira ou quarta entrevista depois da eleição de 2018. Fiquei silencioso para não ser acusado de ser alguém que estava torcendo para dar errado para dizer que tinha razão – afirmou.

Sobre os processos de impeachment que Moisés enfrentou em novembro do ano passado (caso do aumento salarial dos procuradores) e em maio deste ano (os respiradores fantasmas), fez distinção sobre seus posicionamentos. 

– No primeiro processo de impeachment, onde um golpe estava sendo estabelecido, eu fui contra. No segundo tem muita coisa para explicar a Santa Catarina e ficou jogado embaixo do tapete. Entender que no processo de impeachment a vítima foi o governo é um equívoco. A vítima foi o Estado, que viu em meio a uma pandemia que se permitisse roubar R$ 33 milhões com lives diárias feitas pelo governador e sua equipe. E, depois, a desculpa de que ninguém sabia, ninguém viu. Cadê o culpado? Quem é o mordomo? – questionou.

Merisio negou com veemência que tenha participado das articulações de bastidores para o segundo afastamento de Moisés e consolidação da vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido) para que se efetivasse no cargo. Diz que não indicou ninguém, que apenas conversou com ela “duas vezes contribuindo com sugestões”

Sobre o governo de Jair Bolsonaro, Merisio diz não se arrepender do voto anunciado em 2018, quando declarou apoio ao atual presidente uma semana antes do primeiro turno. Entende que o governo Bolsonaro tem “muitos acertos e muitos erros” e que se “equivoca completamente” na gestão da pandemia. O tucano não vê, nem no próprio partido, nenhum nome capaz de ocupar o espaço de terceira via na polarização entre ele e o ex-presidente Lula (Pt), embora deseje “uma alternativa aos extremos” e entenda que há “tempo e espaço” para essa construção. 

– É preciso ter líderes que canalizem esse sentimento, se é que ele existe. Eu acho que sim, mas isso é uma opinião minha, eu posso estar equivocado. Talvez a sociedade esteja mesmo dividida entre esses dois extremos e nós temos que respeitar e escolher um ou outro.

Ouça a íntegra da entrevista:


Sobre a foto em destaque:

Ao lado da deputada federal Geovânia de Sá, do prefeito criciumense Clésio Salvaro e o ex-senador Dalírio Beber, o ex-deputado federal Gelson Merisio dá seus primeiros passos como tucano. No discurso, está alinhado ao Psdb catarinense, que está cedendo ao novato a primazia da pré-candidatura do governo em 2022. Foto: Haudrey Mafiolete, Divulgação.

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