Estava animado o Plenário da Rádio Som Maior na manhã de segunda-feira. O quadro de entrevistas e comentários sobre a política catarinense em que participo no programa comandado pelo jornalista Adelor Lessa de segunda a sexta-feira tratou das disputas internas em flancos relevantes da disputa pelo poder em Santa Catarina. Um deles, já escancarado, é o racha no Mdb, maior partido do Estado, entre a pré-candidatura de Antídio Lunelli a governador e o grupo de mandatários que prefere apoiar a reeleição do governador Carlos Moisés (Republicanos). O outro, as primeiras fissuras aparentes de antigas rivalidades que compõem a coalização de oito partidos que tenta formar um palanque único à esquerda.
Para tratar de ambos os temas, foram ouvidos três presidentes estaduais de partido: Celso Maldaner (Mdb), Claudio Vignatti (Psb) e Décio Lima (Pt). Vale ouvir o que disseram os dirigentes.
No Mdb, o deputado federal Celso Maldaner, defensor da confirmação da pré-candidatura de Antídio Lunelli, mandou avisar que não participaria da reunião da executiva estadual desta terça-feira – convocada extraordinariamente pelos integrantes que defendem Moisés. Além dele, não participam o primeiro vice-presidente, Edinho Bez, o próprio Antídio, que é o segundo vice, e o vogal Ronaldo Benedet. A reunião será aberta e presidida pela deputada estadual Ada de Luca, terceira vice-presidente. Dos 14 membros da executiva estadual, pelo menos oito seriam favoráveis à tese da aliança.
Maldaner enfatizou algo que os dissidentes sabem: a executiva estadual não tem poderes para tirar Antídio do jogo e encaminhar o apoio a Moisés. O encontro desta terça-feira é uma forma de manter o racha exposto, de explicitar a divergência. A decisão mesmo, e isso vale para todos, é na convenção estadual do partido, marcada para dia 5 de agosto – último dia do prazo para definição das candidaturas. Lá, qualquer filiado pode apresentar seu nome para concorrer ao governo. Ou defender o apoio ao governador. A reunião da executiva pode apresentar essa proposta, escrever uma carta, produzir fotografias. São armas na tentativa de antecipar uma decisão, o que é importante para Moisés nesse momento de consolidação das candidaturas e assédio aos partidos.
O presidente do Mdb-SC, no entanto, provoca. Perguntei a ele se essa corda esticada não poderia se romper.
– Pode arrebentar a corta, mas tem que respeitar o que democraticamente foi decidido (no diretório estadual). Antídio, em cima da decisão que foi tomada, renunciou ao mandato de prefeito em Jaraguá do Sul. Nós não vamos participar dessa autoconvocação da executiva. Nem eu, nem Antídio Lunelli, nem Ronaldo Benedet, nem Edinho Bez. Não temos o que fazer legalmente. Temos que aguardar a decisão que será dia 5 de agosto que vai homologar o candidato a governador. Se o Moisés quer o Mdb de vice, vai ter que esperar até a convenção estadual.
A outra provocação de Maldaner é lembrar que o amor dos prefeitos pelo governador pode diminuir depois de 2 de junho, fim do prazo para repasse de recursos antes do período eleitoral.
– Nós não estamos com pressa. Dia 5 de agosto a convenção vai definir se o Mdb vai de vice de Moisés ou vai o Antídio. Para que a pressa? Convênios, dia 2 de junho é último dia para passar a primeira medição. Pix, também. Depois não pode mais, tem que respeitar o período eleitoral. Isso vai acalmar. Não é só o Mdb. É o Pp, é o Psd, o Psdb, todos os prefeitos do Pl. Então não precisa mais ter eleição, vamos nomear o governador Moisés e o dinheiro passa por cima da democracia.
Se entre os emedebistas o racha já está escancarado, na frente de esquerda a conversa começou a ficar mais tensa entre as pré-candidaturas de Décio Lima (Pt) e Dário Berger (Psb). O petista teria hoje o apoio da maioria das legendas que integra o condomínio que pretende dar um palanque único à candidatura presidencial de Lula (Pt), mas o Psb começa a mostrar que vai tentar nacionalizar essa disputa para equilibrar o jogo. Na segunda, o Psb mostrou que não pode ser ignorado ao pressionar pelo adiamento da visita de Lula a Florianópolis, inicialmente marcado para esta quinta-feira.
No Plenário da Som Maior, ouvidos separadamente, Claudio Vignatti e Décio Lima fizeram um quase debate. O dirigente pessebista negou que houvesse acordo para definir já nesta terça-feira o candidato da frente, como afirmara Décio, e defendeu que o ex-presidente só viesse a Santa Catarina depois da definição.
– Quem somos nós para dizer que o Lula pode vir ou não pode vir para Santa Catarina. Todos nós queremos que venha, que esteja aqui presente e que já tenha uma saída política construída. Minha proposta era fazer uma reunião do presidente Lula com os oito partidos antes da visita justamente para nós conversarmos sobre essa condição política – disse Vignatti.
O pessebista foi além e disse que Lula tem sido monopolizado por Décio. Reproduzo:
– A reunião da frente foi avisada ontem 16h para discutir a vinda do Lula. É preciso ter uma democracia na frente. Não pode ter um monopólio de uma única pessoa. Nem os deputados do partido dele estavam envolvidos no processo. Precisamos que o Décio trate com mais carinho todos os partidos e essa relação política. Não pode ter o monopólio de uma pessoa sobre um presidenciável – finalizou.
Décio Lima chegou ao Plenário na sequência, bem-humorado, ao seu estilo. Disse que a visita de Lula estava sob organização do Pt nacional, dentro de uma agenda integrada com a ida ao Rio Grande do Sul. E negou que monopolize o líder petista. Brincou, sem deixar de soltar uma farpa para Vignatti, ex-colega de partido.
– O Lula é do povo brasileiro, quem sou eu para monopolizar o Lula, quem é o Pt? Ah, querido Vignatti. Ele sabe que eu tenho uma relação com o Lula de 42 anos de militância no Pt, uma relação muito próxima, familiar. É uma relação de amigos, não posso negar isso. E isso causa ciúmes. Nos difíceis, quero até dizer, não causava ciúmes. Eu me sentia sozinho lá na vigília – disse Décio.
Fato é que, poucas horas depois de Décio Lima garantir que a vinda de Lula estava confirmada, a assessoria de Décio Lima anunciou o adiamento da visita com a justificativa de “preparar as melhores condições logísticas para seu reencontro com nossa gente” e de que “não foi possível reservar locais adequados para realizar este grande encontro esta semana”. Aparentemente, o esperneio do Psb não pode mais ser ignorado nas análises.
É curioso como a frente de esquerda cada vez mais se parece com o Pt catarinense de alguns anos atrás. Décio e Vignatti participavam de grupos internos que divergiam até por carona em helicóptero quando estavam sob a mesma legenda. Agora, em siglas diferentes, repetem o script.
Ouça a íntegra do Plenário da Som Maior:
Sobre as fotos em destaque:
Antídio e Celso; Lula e Décio. Fotos: Divulgação.