A viagem do governador Carlos Moisés (ex-Psl) à Escócia, onde participará da Conferência do Clima da ONU, a COP 26, e o roteiro da vice-governadora Daniela Reinehr (ex-Psl) em Dubai com a comitiva do presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl), colocaram o Mdb em uma posição que ele conhece muito bem, mas ainda não tem ideia de como fazer para retornar em definitivo: o comando do governo do Estado. Na tarde desta sexta-feira, um claramente emocionado Mauro de Nadal (Mdb) assumiu o cargo de governador para uma interinidade que vai durar até o dia 11 de novembro.

Nadal relembrou sua trajetória desde a infância em Caibi, a vida adulta em Cunha Porã – onde se elegeria prefeito e daria início à carreira que culminou na eleições para deputado estadual e a condição atual de presidente da Assembleia Legislativa. Disse que estava ali representando o parlamento. Representa, também, o momento de entendimento entre o Mdb e o governo Carlos Moisés. Uma situação que faz com que os emedebistas, especialmente os nove deputados estaduais, também governem Santa Catarina de fato. Mas que torna mais complicada a engenharia política e eleitoral para que o Mdb volte a eleger um governador em Santa Catarina – o que não acontece desde 2006, na reeleição de Luiz Henrique da Silveira.

Maior partido de Santa Catarina, o Mdb vive hoje uma legítima encruzilhada para voltar ao poder – ou melhor, ao comando do poder, porque longe do poder o partido não fica desde que Esperidião Amin (Progressistas) deixou o governo em 2002. Oficialmente, o partido tem uma prévia marcada para 15 de fevereiro quando membros dos 295 diretórios municipais emedebistas vão escolher entre o prefeito jaraguaense Antídio Lunelli, o deputado federal Celso Maldaner e o senador Dário Berger quem será o efetivo candidato do partido ao governador. O trio quase chegou a um entendimento prévio em outubro, mas a conversa voltou a azedar. Implicitamente, Maldaner expôs que apoia Antídio e que Dário teria topado o acerto, depois negado pelo senador.

Antídio e Dário são dois caminhos quase opostos para o Mdb trilhar em 2022. Ambos são empresários bem-sucedidos, mas Dário sempre teve o nome mais ligado à política do que a vida profissional. Antídio é o típico outsider que tomou gosto pelo jogo político. Traria o Mdb para o trilho da centro-direita, com alguma afeição leve pelo bolsonarismo e o discurso que prioriza a gestão à política. Uma forma de trazer de volta um eleitor que se acostumou a ver o partido como apêndice de governos e com dirigentes nacionais envolvidos em corrupção. Dário, por sua vez, é o político por definição. Vereador, quatro vezes prefeito – São José e Florianópolis – senador, é um homem de urna. Pode enfrentar dificuldades em um cenário em que os quadros políticos continuam desgastados. Por seu estilo, pode trazer aliados mais à centro-esquerda. Um caminho um tanto tortuoso para vencer eleição majoritária no momento conservador que vive o Estado.

Afora esses dois caminhos, a alternativa do Mdb para voltar a morar no Centro Administrativo é o próprio Carlos Moisés, hoje à procura de um partido para disputar a reeleição. Já chegou a ser convidado por Celso Maldaner, na condição de presidente estadual, e preferiu aguardar. Ainda não se sabe como a base emedebista reagiria à importação de um candidato para o 15, mas é certo também que as demais pré-candidaturas também não apaixonaram a militância ainda. Certo é que se a opção de Moisés for o Mdb, ele precisará demonstrar essa intenção – algo que ainda não aconteceu. E o caminho, certamente, é a bancada estadual.

Por enquanto, o partido viverá nesses dias com Mauro de Nadal no poder interino um gostinho dessa relação com o governo de Moisés. Como a caneta está transbordando tinta, deve o parlamentar deve ter chance de desfrutar da experiência. Sua posse reuniu diversos nomes do Mdb, como o último governador do partido, Eduardo Pinho Moreira – eleito vice-governador em 2014 e efetivado em 2018 com a renúncia de Raimundo Colombo. Estavam lá Maldaner e Dário, cada vez mais afinado com o Moisés. Quem não estava era Antídio, que marcou para esta sexta o anúncio de um pacote de obras em Jaraguá do Sul. Aparentemente, Jaraguá do Sul fica muito longe do Casa d’Agronômica.


Sobre a foto em destaque:

Presidente da Alesc, Mauro de Nadal (Mdb) recebe de Carlos Moisés (ex-Psl) a caneta para assinar a posse como governador interino. Foto: Júlio Cavalheiro, Secom.

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