Algo de sobrenatural deve ter acontecido no cinema do shopping Beiramar, em Florianópolis, quando lideranças políticas de diversos partidos, especialmente do Mdb, assistiram à pré-estreia do documentário sobre a primeira vitória de Luiz Henrique da Silveira para o governo do Estado em 2002 – aquela virada de 20 mil votos sobre Esperidião Amin que mudou a história política de Santa Catarina. O partido estava prestes a romper a corda esticada entre quem defende a pré-candidatura de Antídio Lunelli ao governo e aqueles que preferem apoiar a reeleição do governador Carlos Moisés (Republicanos). Todos saíram de lá falando em construir a unidade.

O ponto alto desse momento aconteceu na tarde desta sexta-feira, em Maravilha, quando o presidente estadual do partido Celso Maldaner, que vinha se contraponto à composição com Moisés, discursou ao lado do governador em tom muito bem humorado.

– Politicamente tivemos esta semana o dia da pacificação, como diz o Mauro de Nadal, o dia da unidade. Eu sempre digo para o governador: 50% do Mdb já está contigo, os deputados todos estão, os prefeitos todos estão.: prefeitos e bancada de deputados. Mas como é difícil a gente ter o papel da unidade do partido. Essa é a nossa grande preocupação. Ou vai tudo ou vai ninguém. Então, é melhor ir tudo – disse Maldaner, arrancando boas e otimistas risadas de Moisés.

Veja o vídeo:

Um tom muito diferente de quem iniciou a semana anunciado que não iria à reunião da executiva estadual convocada à revelia pelos apoiadores de Moisés e que defendia que os defensores da aliança esperassem até a convenção partidária marcada para 5 de agosto. Logo após o encontro, o líder da bancada emedebista na Assembleia Legislativa, Valdir Cobalchini, ligou para Maldaner para informar o resultado da reunião e ler o texto em tom conciliatório que seria encaminhado à imprensa. Ambos tem relações políticas e familiares históricas.

Na quarta-feira, o mesmo Cobalchini foi entrevistado no Plenário da Som Maior e reforçou esse tom de conciliação para a reunião do diretório estadual chamada pela executiva na véspera. Brincou que deviam parar o tiroteio enquanto todos estavam vivos. Ali, faltavam poucas horas para a sessão de cinema que fez os emedebistas encararem a história de uma vitória tida como impossível e a lembrança do maior líder produzido pelo partido. Maldaner, Antídio, deputados estaduais, o próprio Moisés, todos estavam lá – e até mesmo o pré-candidato a governador Gean Loureiro (União), outro que sonha em ter o Mdb no palanque.

Depois do filme, um almoço conjunto começou a promover a despressurização do ambiente. Moisés e Antídio Lunelli, os vértices da corta prestes a arrebentar, voltar a conversar. Antídio gostou do que ouviu:

– O que acertamos é que ninguém vai impor nada. Vamos juntos construir o melhor projeto para o partido, respeitando nossas bases, nossas lideranças, e pensando, sobretudo, no melhor para Santa Catarina. Abrimos o diálogo. O MDB é a maior força da política catarinense. Mas, para conquistar a confiança do eleitor, primeiro temos que fazer o dever de casa. E é nisso que estamos trabalhando – disse Antídio, em declaração enviada por sua assessoria.

A proposta de Moisés está na mesa e será avaliada. Ele oferece ao Mdb as vagas de vice-governador e senador em sua chapa. As especulações colocam os nomes do ex-prefeito Udo Döhler e do presidente da Alesc, Moacir Sopelsa, como favoritos para a vice, enquanto o deputado federal Carlos Chiodini e o próprio Antídio seriam as opções para o Senado. O momento é de construção, de pesar as questões regionais e as divisões internas do partido. Mas o jogo está sendo jogo. Sobre a proposta, Antídio também contemporizou:

– A proposta será avaliada pelo diretório, assim como minha pré-candidatura e outras possibilidades que possam surgir. Estamos superando a divisão e isso me deixa bastante tranquilo quanto aos rumos que tomaremos na sequência. Minha posição quanto à necessidade de mudança, de uma administração pública mais eficiente e menos burocrática, nada disso mudou e nem vai mudar.

O lançamento da pré-candidatura de Antídio, marcado para dia 11 de junho em Curitibanos, está suspenso. A reunião do diretório deve ser agendada nos próximos dias. Aparentemente, de forma sobrenatural, como disse antes, o Mdb voltou a viver os período entre 2003 e 2015. A época em que os emedebistas se acostumaram a brigar até ouvir a última palavra de Luiz Henrique – que veio, desta vez, em uma sessão de cinema.


Sobre a foto em destaque:

Maldaner discursa para Moisés e defende o tudo ou nada no apoio emedebista à reeleição. Foto: Reprodução.

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