Em alguns momentos tratei aqui da construção do que chamam de terceira via em nível nacional – uma candidatura presidencial que aglutine os nomes e os supostos eleitores interessados em uma alternativa ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ex-presidente Lula (Pt). É interessante observar que também existe uma terceira via em gestação em Santa Catarina, de olho na sucessão estadual.
Essa terceira via catarinense tem diferenças importantes em relação à construção nacional. Como a disputa pelo poder no Estado historicamente alija a esquerda do debate, ela não se dá em contraposição a uma polarização entre o bloco bolsonarista e o petista. Aqui no Estado, o candidato de Bolsonaro deverá ter apelo suficiente para alcançar o segundo turno, especialmente se o presidente se esforçar minimamente por isso.
O outro polo da disputa é o governo do Estado. A máquina estadual, azeitada e com os cofres recheados com está, faz do governador Carlos Moisés (sem partido) um candidato viável e com boas chances de estar no segundo turno em 2022. O favorito hoje para ser o nome de Bolsonaro é o senador Jorginho Mello (Pl), apesar dos desejos, intenções e declarações do senador Esperidião Amin (Progressistas) e o prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd).
Assim, em Santa Catarina o “nem Bolsonaro, nem Lula”, tem tudo para virar um “nem Jorginho, nem Moisés”. E aí que vemos alguns nomes que repetem aqui no Estado multiplicidade de pré-candidaturas que vemos em nível nacional. Com uma diferença básica e importante: os presidenciáveis de terceira via são nomes novos, em busca de projeção e perseguidores da ideia de uma espécie de conciliação nacional que tire o Brasil da política do confronto entre extrema-direita e as esquerdas. Uma ideia que aparece vocalizada em pesquisas, mas que ainda não tem dono.
Em Santa Catarina, essa terceira via vem encharcada de tradição política. Os movimentos mais evidentes neste momento partem do ex-governador Raimundo Colombo (Psd) e de Gean Loureiro (Democratas), prefeito de Florianópolis. Ambos têm conversado com frequência e são embrião desse nem-nem local. Com mais discrição, participam dessa conversa o tucano Gelson Merisio, candidato derrotado por Moisés em 2018, o ex-deputado federal Paulo Bornhausen (Podemos) e os emedebistas Antídio Lunelli, Celso Maldaner e Dário Berger. Na semana que passou, os três pré-candidatos do Mdb deixaram de lado a disputa entre eles para unir forças contra a bancada estadual do partido, hoje mais do que alinhada ao governador. A ideia é chegar a um consenso para que o maior partido do Estado tenha logo seu pré-candidato oficial. Posto no jogo, ele vai conversar com a turma da terceira via local.
Qual discurso pode unir essa turma? Vão dizer que a chamada “nova política” de Moisés deu errado e que Jorginho seria uma nova aposta de nome chancelado por Bolsonaro. Que a exuberância financeira do governo Moisés é resultado mais do efeito da inflação sobre a arrecadação do que por corte em cafezinho e contratos e que a alternativa com o senador do Pl é arriscada porque ele não tem experiência no Executivo e nem aglutina as forças políticas estaduais.
Não são discursos apaixonantes, mas podem emplacar. Hoje, a terceira via catarinense tem mais chances do que a nacional. E, da mesma forma que a nacional, depende muito da não fragmentação dos projetos.
Sobre a foto em destaque:
Raimundo Colombo, Paulo Bornhausen, Antídio Lunelli, Gean Loureiro, Gelson Merisio e Dário Berger buscam o espaço de uma espécie de terceira via estadual. Fotos: Instagram.