Antes de responder a primeira pergunta na entrevista que concedeu à Rádio Som Maior na terça-feira, o ex-presidente Lula (Pt) pediu licença para cumprimentar “amigos de Santa Catarina”. Citou, com ajuda de anotações, os nomes dos deputados do partido, mas a ênfase veio para quatro nomes: Décio Lima (Pt), Dário Berger (quase Psb), Jorge Boeira (Pdt) e Gelson Merisio (ex-Psdb). Mostrou intimidade com o cenário local, dizendo que encontrou o senador Dário Berger no evento de filiação do ex-governador paranaense Roberto Requião, em Curitiba, lembrando a visita que o ex-deputado estadual Gelson Merisio lhe fez em São Paulo e a mudança partidária do ex-deputado federal Jorge Boeira do Progressistas para o Pdt para apoiá-lo.
– É importante dizer que o Pt criou junto com os partidos políticos a maior frente democrática em Santa Catarina e todas essas pessoas que eu citei fazem parte dessa frente democrática e querem reconquistar o governo de Santa Catarina – disse Lula.
O cuidado com esse afago público aos nomes que estão aderindo ao projeto indica que Lula está atento à formação de seu palanque em Santa Catarina. Ao contrário do que aconteceu em outras eleições, a direção nacional petista não vai deixar a questão solta para os dirigentes locais. Mesmo que Décio Lima seja um homem da extrema confiança de Lula, haverá um cuidado para que a esquerda catarinense não repita os erros do passado. Esses erros foram vocalizados pelo próprio Lula, quando perguntei qual era a avaliação dele sobre a queda contínua de votação do partido no Estado a partir das eleições de 2006.
– O Pt teve muitos problemas internos, muita disputa política entre correntes políticas. O Pt muitas vezes se dividia pois (parte) queria apoiar o Luiz Henrique. O Pt devia ter feito parte do governo Luiz Henrique, não fez e foi um erro. Pagamos não pela competência dos adversários, mas por erros que cometemos. Devemos perguntar porque o Pt não ganhou o Estado, porque a Ideli não foi candidata à reeleição ao Senado, abrimos mão em momentos importantes para fazer o Pt crescer, teve muita disputa interna, essa disputa interna fracionou o partido. Uma coisa é impor campanha com todos unificados, com garra, outra coisa é criar grupos, um pensando de um jeito, outro pensando de outro.
Essa avaliação de que o Pt se perdeu em disputas internas e que cometeu um erro histórico ao decidir não participar do governo Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) em 2003, depois de ser fundamental na virada improvável sobre Esperidião Amin no segundo turno, é corrente entre lideranças estaduais, inclusive Décio Lima. Mas ser citada por Lula traz um peso maior. Os antagonismos internos continuam no ar, embora algumas figuras tenham se afastado.
Um exemplo é o ex-deputado federal Cláudio Vignatti, ex-Pt e hoje presidente estadual do Psb. Na nova posição, especialmente após o golaço de filiar Dário Berger ao partido, terá voz importante na consolidação da frente de esquerda. É o mesmo Vignatti que viveu uma rivalidade interna intensa com o grupo liderado pela ex-senadora Ideli Salvatti. Em 2010 – Ideli candidata ao governo e Vignatti ao Senado -, ela chegou a barrar seu retorno no helicóptero alugado pela campanha no retorno de uma agenda pelo interior do Estado. Quatro anos depois, Vignatti concorreu ao governo isolado, ouvindo a então presidente Dilma Rousseff (Pt), candidata à reeleição, encher o adversário Raimundo Colombo (Psd) de elogios.
O olhar atento de Lula é uma garantia de que esses desencontros não vão se repetir. Perguntei se ele preferia que seu palanque local fosse uma candidatura petista, vinculando o 13 nacional e o 13 estadual, ou um desses nomes de centro que se agregam ao time. Lula usou a resposta para elogiar o diálogo entre eles, mas fica claro nas entrelinhas que a orientação é fazer de tudo e mais um pouco para que o grupo não desaglutine.
– O candidato nessa frente democrática em Santa Catarina é aquele que os partidos entenderem é o melhor candidato, que unifica mais e que tem mais gente de ganhar. Muita gente fala no Dário, muita gente fala no Décio, muita gente fala no Merisio. O que eu acho legal é que a consciência política deles está tão amadurecida, está tão fértil, que ninguém está brigando por cargo, ninguém está dizendo “sou eu”. Não, eles estão querendo avaliar corretamente quem é que tem mais chance de unificar, quem tem mais chance de ganhar. E no momento certo eles vão tomar a decisão. Todos que eu conversei não estão pleiteando a candidatura de governador e senador. Eles estão querendo construir uma coisa nova.
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Ricardo Stuckert, Divulgação.