Em dezembro escrevi que a possibilidade de que o então tucano Geraldo Alckmin pudesse ser o candidato a vice-presidente em uma chapa encabeçada pelo ex-presidente Lula (Pt) era um balão de ensaio que começava a agradar ambas as frases. Para o ex-governador paulista, uma chance de retornar à ribalta nacional e manter vivo, por aparelhos, o sonho de um dia chegar ao Palácio do Planalto. Para o petista, um sinal para a sociedade e para o Pib de que sua eventual volta ao governo não seria com inflexão à esquerda radical e nem em tons de vingança pela forma como o partido foi apeado do poder em 2016.
O balão agradou tanto às parte envolvidas na chapa que se consumou na última sexta-feira, quando o Psb, novo partido de Alckmin, apresentou o nome do ex-tucano oficialmente para a composição com o Pt de Lula. Tiraram fotos sorridentes, incluindo Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira, presidentes nacionais de Pt e Psb, e formalizaram o que foi construído nos últimos meses em passos prudentes, mas relativamente acelerados. Era preciso deixar um tempo pré-eleitoralpara o eleitor de esquerda assimilar o ex-inimigo como parceiro. Também é o tempo para que a inusitada parceria apanhe um pouco do bolsonarismo e dos tucanos enciumados para ganhar alguma couraça até o período eleitoral. O jogo sendo jogado.
A partir de agora, em plano estadual, veremos o desenlace do “Projeto Alckmin” nos Estados. Em Santa Catarina, por exemplo, o Alckmin metafórico é o senador Dário Berger. Ex-emedebista recém filiado ao Psb, ele nunca contou com a esquerda como parceira em sua trajetória eleitoral de vereador e prefeito de São José, prefeito de Florianópolis e senador – talvez alguns votinhos obedientes do Pc do B em 2014, quando o partido entrou naquele chapão de Psd e Pmdb, acontece. Agora, ambiciona liderar uma frente de oito partidos que inclui Pt, Pdt e Psol.
Da mesma forma que Alckmin simboliza nacionalmente que o governo Lula, se acontecer, não vai olhar (muito) para o retrovisor, nomes como Dário Berger nos Estados em que o Pt é mais frágil também indicam uma inflexão ao centro. O recado à sociedade, ao Pib. Na entrevista que concedeu à Rádio Som Maior, Lula foi quase didático ao falar sobre a necessidade que o nome escolhido para liderar a frente de esquerda – Dário Berger, os ex-deputados federais Décio Lima (Pt) e Jorge Boeira (Pdt) e o ex-deputado estadual Gelson Merisio – deve ser aquele que mantenha o grupo de legendas unido. Ou a maior parte dele, pelo menos.
É por isso que, aparentemente, as conversas para que a chapa tenha como candidato a governador o petista Décio Lima e não Dário vem acontecendo na base da argumentação de cenário e não de imposição. Vamos ver até quando e como a base petista catarinense e o partidos mais à esquerda, como o Psol, reagem à equação lulista. No final de semana, Décio participou do lançamento da pré-candidatura de Lino Peres, ex-vereador e candidato a vice-prefeito de Florianópolis em 2020, a deputado estadual nas eleições de outubro. Ele pertence ao Diálogo e Ação Petista, agrupamento interno ligado mais à esquerda do partido.
Ao grupo, Décio garantiu que o 13 estará na urna com as candidaturas de Lula à presidência e dele ao governo. Pré-candidato a deputado federal do mesmo agrupamento, Renê Munaro defendeu a urgência de uma nova constituinte e levantou o tom contra a ideia de entregar ao Psb o nome da chapa ao governo:
– Não me convidem para fazer campanha para Dário Berger – disse.
Como eu disse antes, vai um tempo para a base petista e de outros partidos mais à esquerda aceitar Alckmin e os alckmins.
Sobre a imagem em destaque:
Lula banca Alckmin para a chapa presidencial e convida a esquerda toda a dar uma andadinha mais para o centro, quase direita. Foto: Psb, Divulgação.