Para mostrar que não é um partido nanico, o Psdb catarinense fez uma convenção com tamanho de convenção – embora não tivesse o mais importante nesse tipo de encontro: a decisão pelo voto dos delegados da legenda. De qualquer forma, o recado claro estava nas falas das lideranças históricas do partido no Estado e no clima entre os tucanos presentes. Todos, uns mais outros menos, ficaram engasgados com a proposta feita pelo governador Carlos Moisés (Republicanos) para que o partido ocupasse o posto de suplente na candidatura de Celso Maldaner (Mdb) ao Senado.
Um partido que já elegeu senador e vice-governador, que comandou o Estado por oito meses em 2010 e que é um dos cinco maiores de Santa Catarina nos critérios que envolvem raízes: prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e filiados. Assim o Psdb se vê e quer ser visto. Não como um nanico repaginado como o Avante, um emergente como o Podemos, uma legenda-abrigo como o Republicanos. Foi o que se sentiu nas falas de Clésio Salvaro, Geovânia de Sá, Paulo Bauer e Leonel Pavan na noite de segunda-feira, para um auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa, lotado de tucanos.
Prefeito de Criciúma e apontado sempre como grande expressão eleitoral do partido, Clésio Salvaro disse claramente: “não podemos estar nessa eleição como quem nos trata como se fôssemos nanicos”. O prefeito deve ter aproveitado para matar as saudades de quando antagonizava com o Mdb na política local, ao partilhar com os emedebistas a culpa pela oferta sovina de Moises. Clésio lembrou das vezes que o Psdb apoiou o Mdb na história política estadual, inclusive em 2018, e disse que “agora eles nos fecham a porta da majoritária”. Os emedebistas, todos sabem, terão Udo Döhler como vice e Celso Maldaner ao Senado na chapa de Moisés.
Aliado da composição governista até o último encontro com Moisés, quinta-feira passada, o deputado estadual Marcos Vieira chamou de “humilhante” a proposta feita ao partido. A deputada federal Geovânia de Sá ressaltou que a gratidão dos prefeitos tucanos pelos repasses de recursos do governo estadual é legítima, mas que isso só foi possível porque Marcos Vieira e Vicente Caropreso – especialmente o primeiro, pelo voto decisivo – “trouxeram ele de volta” no processo de impeachment. O ex-governador Leonel Pavan, além de se colocar como pré-candidato a vice em uma chapa liderada por Esperidião Amin (Progressistas), ressaltou o compromisso do progressista de “fazer a fila andar”.
Mesmo quem defende a composição com Moisés, como Caropreso, não declarou abertamente a posição. O parlamentar limitou-se a dizer que o partido precisa aumentar suas bancadas nas eleições deste ano, “porque um partido com menos tribuna é um partido menos respeitado”.

Psdb fez convenção com cara de convenção – só faltou decisão. Foto: Emerson Justo, Divulgação.
Quem acompanhava atentamente as falas tucanas era o secretário Juliano Chiodelli, da Casa Civil. Era nítido o desconforto. Ficou visível que a única forma trazer o Psdb para a aliança governista seria abrir uma disputa e confiar no peso dos prefeitos tucanos sobre os delegados. O modelo de convenção não deliberativa, antecipando uma reunião final entre oito dirigentes do Psdb e três do Cidadania, a portas fechadas, praticamente impedia que se repetisse a cena da convenção do Mdb – quando os discursos contra a aliança com Moisés foram abafados pelo peso dos crachás de delegado partidário. Perder Marcos Vieira, no entanto, pode ter fulminado essa estratégia.
Não se pode negar que existe um esforço final de Moisés. Convidou para um café, pouco antes da convenção, a deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania), com quem nunca teve proximidade e de quem se afastou completamente após a breve segunda interinidade de Daniela Reinehr (Pl), quando a parlamentar aceitou ser secretária de Saúde. Um café com três anos de atraso, sem efeitos práticos.
Na quinta-feira, o Psdb deve confirmar o apoio a Amin. Por mais que Pavan faça-se ouvir em alto e bom som na tribuna, a vaga de vice deve ficar com o discreto Dalírio Beber. Um tucano plumado comentava nos bastidores que 2022 lembra muito 2002 – o ano em que Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) virou uma eleição considerada impossível contra o então governador Esperidião Amin.
– Em 2002, Amin esnobou o Psdb, que foi conquistado por Luiz Henrique. Este ano, Moisés está parecendo Amin e Amin está parecendo Luiz Henrique – disse o tucano.
Sobre a foto em destaque:
Discursos dos líderes do Psdb mostraram que oferta de Moisés ficou entalada na garganta. Foto: Emerson Justo, Divulgação.