São José tem o quarto maior eleitorado do Estado, mas saiu das urnas com resultado de cidade pequena. Nenhum candidato com domicílio eleitoral na cidade conseguiu se eleger para a Câmara dos Deputados ou para a Assembleia Legislativa. Vizinhos de Florianópolis, os eleitores josefenses fizeram da cidade um imenso repositório de votos para candidatos da Capital e de outras regiões do Estado. Os resultados do primeiro turno também mostraram fragilidade das lideranças locais – seja para captar, seja para transferir votos aos nomes que apoiaram – e abriram uma imensa incógnita sobre o cenário para as eleições para a prefeitura em 2024.

No comando da município desde 2016, o Psd obteve resultados abaixo do esperado e expôs uma divisão que já era comentada nos bastidores. De um lado, a ex-prefeita Adeliana Dal Pont, candidata a uma vaga na Assembleia Legislativa. De outro, o atual prefeito, Orvino Coelho de Ávila, que apontou a máquina da candidatura em favor do aliado Júlio Garcia (Psd), de Criciúma, reeleito deputado estadual com tranquilidade, mas com apenas o 13° mais votado na cidade. Adeliana liderou a votação josefense, mas com um resultado muito abaixo do que precisava para competir por uma vaga na chapa pessedista – teve 11,1 mil de seus 18,4 mil votos na cidade em que foi eleita e reeleita prefeita. Ele precisava dobrar a votação para brigar pela terceira vaga do Psd na Alesc.

A transferência de votos da máquina pessedista em São José também ficou na berlinda nos resultados da disputa para deputado federal. Com domicílio eleitoral em Florianópolis, a deputada estadual Marlene Fengler (Psd) era o nome preferencial de Orvino. Foi a décima mais votada, com 3,2 mil votos. Para que chegasse a Brasília, faltaram cerca de 19,2 mil votos, boa parte deles mapeados para serem conquistados junto ao eleitor josefense. Com os resultados, é provável que Adeliana bata em retirada do partido e enfrente Orvino, que tem direito à reeleição, em 2024.

Com os pessedistas divididos e pontuando abaixo do esperado, São José foi uma festa para forasteiros. Entre os 10 mais votados para deputado federal, estavam Carol de Toni (Pl, de Chapecó), Ana Paula Lima (Pt, de Blumenau), Daniel Freitas (Pl, de Criciúma), Daniela Reinehr (Pl, de Chapecó) e Júlia Zanatta (Pl, de Criciúma). O mais votado foi o deputado estadual Bruno Souza (Novo), de Florianópolis, com 11,435 votos. Faltaram 1,3 mil votos para que ele se elegesse com ajuda dos josefenses.

Na disputa pela Câmara, apenas um dos dez mais votados tinha domicílio eleitoral em São José: o vereador Toninho da Educação (Psb) – nono na lista, com 3,3 mil votos. Curiosamente, ele ficou à frente do colega de partido, ex-prefeito e ex-deputado federal Djalma Berger, maior aposta do Psb na região. Djalma foi apenas o 12° mais votado, com 3,2 mil votos. A performance também tem efeito direto sobre a eleição de 2024, fragilizando o grupo ligado ao senador Dário Berger (Psb) – que ficou em segundo lugar na cidade na disputa pela reeleição. Fez 25% contra 37,1% do eleito Jorge Seif (Pl).

O Psb tinha como alicerce na máquina municipal o vice-prefeito Michel Schlemper, que também saiu chamuscado. Além do desempenho de Djalma, a aposta do partido na região para a Alesc era o ex-prefeito de Governador Celso Ramos, Juliano Campos (Psb). Primeiro colocado na chapa do Psb, ele seria deputado se tivesse alcançado a votação mínima de 20% do quociente eleitoral – 20.020 votos. Recebeu 18.816. O que faltou certamente estava na planilha do Psb de São José, onde ele recebeu apenas 2,4 mil votos, sendo o 14° mais votado. Os plano de migrar o domicílio para a cidade e concorrer a prefeito devem ter sido afetados.

O que pode confortar Psd e Psb em São José é que nenhum político ou grupo local saiu bem das urnas este ano. Quarto colocado na disputa pela prefeitura em 2020, o radialista Luizinho da Regional buscou uma vaga na Alesc pelo Progressistas. Foi apenas o sexto mais votado na cidade, com 5.447 votos – um terço do que conquistou para prefeito. Faltaram 13,4 mil votos para se eleger deputado estadual. Curiosamente, além de votar em candidatos distantes, São José também dispersou seus votos. A votação somada dos 10 mais votados para a Câmara e a Alesc ficou em apenas 40%.


Sobre a foto em destaque:

Beiramar de São José. Foto: Prefeitura de São José, Divulgação.

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