Ás vésperas da volta ao Palácio do Planalto, com a apertada vitória de Lula (Pt) sobre Jair Bolsonaro (Partido Liberal) nas urnas em outubro, os petistas ainda comemoram os resultados. Uma amostra disso foi a eleição do fato político do ano, com um resultado acachapante em favor da inédita presença de um nome do Pt nas eleições de Santa Catarina. O ex-deputado federal Décio Lima (Pt), colado ao 13 do presidenciável petista, compriu à risca o objetivo do Pt na disputa de Santa Catarina: manter vivo até o último dia o palanque de Lula no Estado que é considerado um dos mais bolsonaristas do Brasil.
Foram 57,4% dos votos para essa opção – que figurava entre as 10 possibilidades de escolha do eleitor. Em segundo lugar, com 16,8%, ficou justamente o fim do governo Bolsonaro com a vitória de Lula para a presidência. Ou seja, parece claro que o leitor de esquerda se engajou nessa disputa. Mas aqui no Upiara Online os resultados de eleições não serão jamais questionados, mesmo quando não concordamos com eles. Em 2021, os leitores escolheram o processo de impeachment contra o governador Carlos Moisés como fato político do ano.
Poucos acreditavam que uma candidatura do Pt tivesse chance de chegar ao segundo turno em Santa Catarina, especialmente após os resultados de 2018, quando a primeira Onda Bolsonaro fez Décio Lima amargar o quarto lugar, com 12,7% dos votos válidos, o pior resultado eleitoral do Pt catarinense desde que entrou para valer no jogo, nos anos 1990. A chance mais próxima de chegar à segunda etapa da disputa pelo governo estadual aconteceu em 2002, a bordo de Onda Lula gerada no Estado na primeira campanha vitoriosa do líder petista. Na época, José Fritsch fez 27,3% dos votos e ficou em terceiro lugar, pouco atrás de Luiz Henrique da Silveira (Pmdb), que chegou a 30,08% e se qualificou para enfrentar (e derrotar) o então governador Esperidião Amin (Ppb, atual Progressistas.
O debate interno na esquerda catarinenses – novos aliados, como o senador Dário Berger (Psb) e o ex-deputado estadual Gelson Merisio (Solidariedade) – começou com duas teses. A primeira era de que por causa do antipetismo explícito no Estado, o melhor palanque para Lula seria o candidato de fora do Pt. A filiação de Dário Berger depois do insucesso na tentativa de ser candidato a governador pelo Mdb parecia pavimentar esse caminho, que chegou a ser avalizado pelo ex-ministro e estrategista petista José Dirceu em visita ao Estado. No entanto, acabaria prevalecendo a segunda tese, defendida por ênfase por Merisio, de que a única chance da esquerda era a estratégia dos “dois 13” – ou seja, um candidato com o mesmo número de Lula que pudesse trazer para si a maior parte dos votos do presidenciável no Estado. Uma estratégia moldada para um cenário que previa pelo menos outros quatro candidatos disputando os votos de Bolsonaro no Estado e apenas um declarado eleitor de Lula.
Funcionou. O efeito demorou a ser percebido pelas pesquisas eleitorais, mas deu sinais na última rodada dos levantamentos. Colados em seus padrinhos, apenas Jorginho Mello (Partido Liberal) e Décio Lima cresciam. Nas urnas do primeiro turno, o petista conseguiu ultrapassar o governador Carlos Moisés (Republicanos) por uma margem mínima – 17,4% a 16,9%, uma diferença equivalente a 17.433 votos. No segundo turno, Décio levou ao extremo a estratégia de nacionalizar a disputa. Em muitos momentos, era difícil perceber que a propaganda de rádio e televisão era do candidato estadual. A papel de Décio não era tentar vencer uma eleição impossível contra o 22 de Bolsonaro e Jorginho, era impedir que a diferença aumentasse.
Também funcionou. Em 2018, Bolsonaro teve 2,02 milhões de vantagem sobre Fernando Haddad (Pt) em Santa Catarina. Na disputa contra Lula, o atual presidente viu essa vantagem cair para 1,69 milhão. São 329.659 votos que parecem pouco, mas que pesam muito em uma eleição vencida por Lula por 2,1 milhões de votos em todo o país e que ajudaram a desmontar a estratégia final bolsonarista de ampliar ao máximo a votação nos Estados em que Bolsonaro era mais popular.
Décio Lima diz que o resultado histórico do Pt catarinense este ano traz “uma responsabilidade histórica” e que projeta o partido como um protagonista nas próximas eleições.
– Quando eu assumi o Pt em 2017, a pedido do Lula, eu disse para duas coisas que eram estratégicas para o Pt. Primeiro, persistir. Ter alguém que persista, no exemplo que o Lula nos deu ao disputar quatro vezes a presidência da República para ganhar na quarta. Era um exemplo de resiliência. Segundo, tirar o partido do isolamento e não cometer mais os erros históricos que nós havíamos cometido até então. Em 2018 eu fui candidato para mostrar que nós precisávamos ter resiliência. Em 2022, nós minimamente quebramos o isolamento, com a qualidade mínima de alianças que conseguimos fazer. Esse continua agora sendo o desafio no próximo período: ser uma alternativa de poder. Isso não se constrói com soberba, não se constrói apenas com os elementos pertencentes à nossa causa, se constrói com outros valores que tem que se somar. Acredito que agora tenho essa responsabilidade, porque mostrei que era possível – avalia o petista.
Nas entrelinhas fica claro que o primeiro candidato do Pt a ir para o segundo turno em Santa Catarina já está de olho em 2026.
O fato político de 2022 em Santa Catarina
A primeira ida ao segundo turno do PT em Santa Catarina – 57,4% (253 votos)
O fim do governo Bolsonaro com a vitória de Lula (Pt) para a presidência – 16,% (74 votos)
A derrota da família Amin nas disputa governo, Câmara Federal e Alesc – 7,5% (33 votos)
O governador Carlos Moisés (Republicanos) fora do segundo turno – 5,7% (25 votos)
A nova Onda Bolsonaro em Santa Catarina – 3,6% (16 votos)
Pedidos de golpe em frente aos quarteis e bloqueios de rodovias em SC após derrota de Bolsonaro – 3,2% (14 votos)
A vitória de Jorginho Mello (Pl) para o governo de Santa Catarina – 2,9% (13 votos)
STJ anula investigações da Alcatraz e encerra pesadelo de Julio Garcia – 2,6% (7 votos)
O fracasso do projeto do ex-prefeito Gean Loureiro (União Brasil) na disputa pelo governo do estado – 1,6% (5 votos)
Novo mantém espaços em SC, mas resultado nacional coloca em dúvida futuro do partido – 1,1% (1 voto)
Sobre a foto em destaque:
Lula e Décio no comício em Florianópolis, em setembro. Foto: Ricardo Stuckert, Divulgação.