Enquanto o presidente Jair Bolsonaro não decide por qual partido disputa a reeleição em 2022, o Ptb catarinense vai tentando se consolidar como a casa dos bolsonaristas. Essa é a estratégia do deputado estadual e presidente do Ptb-SC, Kennedy Nunes. Entrevistado por mim e pelo jornalista Adelor Lessa na Rádio Som Maior, ele falou sobre como pretende colocar a legenda no mapa da política catarinense e revelou acreditar que o partido liderado nacionalmente pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson será a escolha de Bolsonaro.
Pré-candidato a senador, Kennedy conta com a filiação na janela partidária, em março do ano que vem, dos colegas Ana Campagnolo, Felipe Estevão e Jessé Lopes, os três eleitos em 2018 pelo Psl na Onda Bolsonaro. Na semana passada, Felipe Estevão anunciou a decisão pelo Ptb. Em Criciúma, ingressaram no partido Júlio Lopes, pai do deputado estadual Jessé Lopes, assim como o chefe de gabinete do parlamentar, Lucas Dalló. Movimento semelhante aconteceu com a deputada estadual Ana Campagnolo, cujo chefe de gabinete, Marcos Meurer, assumiu a secretaria-geral do Ptb-SC. Kennedy diz que a intenção é abrir a porta para os bolsonaristas.
– Nós estamos nos confirmando a cada dia como um partido de direita e que recebe os movimentos bolsonaristas, que são muitos. O bom de tudo é que a vinda deles é orgânica. Ninguém tem dúvida de que eu sempre defendi essas bandeiras. Nós estamos com a Ana Campagnolo vindo com a gente, o Felipe Estevão, o Jessé Lopes. Nós começamos o partido já com quatro deputados. Uma bancada com quatro deputados afinados faz a diferença. Com o deputado federal Daniel Freitas não estou conversando especificamente com ele, mas com a turma dele, com o Jorginho (Jorge Davi). Sempre está de espaço aberto. O negócio é o seguinte: “é bolsonarista? Seja bem-vindo”.
Kennedy disse não temer que essas articulações sejam esvaziadas após a definição de Bolsonaro por um partido, o que pode gerar um movimento entre lideranças bolsonaristas para se abrigarem no mesmo número de legenda do presidente. Afirmou, inclusive, acreditar que a escolha de Bolsonaro será o Ptb – o convite já foi feito por Roberto Jefferson.
– Nós temos em ata que o Ptb estará com o presidente Bolsonaro. Nosso tempo de televisão e fundo eleitoral para presidente já são dele. Pode ser inclusive que o presidente venha para o Ptb. A cada dia começa a afunilar e a forma como ele quer levar o processo só vai ter uma saída, que é com o Roberto Jefferson (presidente nacional do Ptb). Nós estamos construindo o partido em cima de propostas, de causa. Vamos supor que lá na frente o presidente vá para outro partido. O staff do Jessé, do Felipe e da Ana estão montando o Ptb nas regiões. Acho difícil eles lá na frente darem um cavalo de pau tão próximo de uma eleição.
O deputado estadual garantiu que não vai disputar um quinto mandato na Assembleia Legislativa. Admitiu, no entanto, a possibilidade de ceder a vaga de candidato a senador para o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan. Mas afirma que essa conversa será travada em Brasília, não no âmbito da chapa do senador Jorginho Mello (Pl), pré-candidato a governador do grupo bolsonarista.
– Minha candidatura ao Senado não é um projeto meu. Eu fui chamado para uma missão. E eu não fui chamado pelo Jorginho e nem por alguém de Santa Catarina, fui chamado por um grupo ligado ao presidente Bolsonaro. Portanto, a missão é deles. Se o Luciano da Havan, que é um excelente nome, for o candidato a senador, eu vou perguntar a esse grupo qual será o meu papel. Meu papel pode ser candidato a vice, a primeiro suplente, mas eu vou estar na chapa do presidente Bolsonaro.
Kennedy também falou dos planos para o futuro do Ptb. Apesar da sigla histórica – fundada por Getúlio Vargas – e da ter visibilidade nacional, a legenda é quase inexistente em Santa Catarina. A última vez que o Ptb elegeu um deputado estadual foi em 2006, quando o grupo político ligado à Igreja Quadrangular estava abrigada na sigla e elegeu Narcizo Parisotto (hoje no Psc).
– Nós não seremos mais puxadinho de ninguém. Seremos um partido com projeto político para 2022, 2024 e 2026. Em 2022 teremos candidaturas a deputado estadual e federal, senador, a reeleição do presidente Bolsonaro (sem partido) e a eleição de quem estiver com o presidente Bolsonaro para o governo. Mas já estamos preparando os nomes para as eleições municipais em 2024 e em 2026 teremos candidato a governador. Isso é um propósito. O Ptb é aquela fazenda que deu muitos frutos, teve uma produção muito grande na década de 1940, 1950, 1960, mas que ao longo do tempo não foi cuidada, as cercas caíram, o mato entrou. O que aconteceu? Virou uma chácara abandonada. Nós precisamos refazer muitas coisas, limpar o terreno, reerguer cercas, reconstruir a casa. Mas o que me dá vontade fazer é que a terra é boa e nossa semente melhor ainda.
Ouça a íntegra da entrevista:
Sobre a foto em destaque:
O deputado estadual Kennedy Nunes, presidente do Ptb-SC, foi entrevistado no estúdio da Rádio Som Maior nesta quinta-feira. Foto: Vitor Netto, Som Maior.