O Psd terá candidato à presidência da República, ele se chama Rodrigo Pacheco – presidente do Congresso e hoje filiado ao Democratas de Minas Gerais – e o partido estará o mais longe possível de Jair Bolsonaro (sem partido) na forma e no conteúdo em 2022. Essas foram as sinalizações que presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, trouxe aos correligionários de Santa Catarina no encontro realizado no final da manhã desta sexta-feira em Florianópolis.

Sobre os pré-candidatos ao governo estadual, Kassab elogiou o ex-governador Raimundo Colombo, o prefeito chapecoense João Rodrigues, o ex-prefeito blumenauense Napoleão Bernardes e a ex-prefeita josefensa Adeliana Dal Pont. Tratou a disputa interna como um problema saudável. Disse, no entanto, que espera alinhamento ao projeto nacional. Negou também qualquer possibilidade de que os pessedistas apoiem à reeleição do governador Carlos Moisés (sem partido).

– Se houvesse essa conversa, eu saberia.

Em todas suas falas, o dirigente tratou Rodrigo Pacheco como pré-candidato a presidente e deu como favas contadas sua filiação ao Psd. Ele reforçou a estratégia de crescimento da legenda, que recebeu a adesão do prefeito carioca Eduardo Paes (ex-Democratas) e aguarda também pelo ex-governador paulista Geraldo Alckmin (Psdb). Kassab defende a candidatura própria do partido para alavancar o peso político da legenda e consolidar o projeto de ter as maiores bancadas eleitas em 2022. Buscou um discurso de alternativa à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula, com o discurso de romper o ciclo em que o partido que perde a eleição apostam no “quanto pior, melhor” e o que vence quer “massacrar o adversário”.

Visita de Kassab reuniu lideranças do Psd catarinense em um hotel em Florianópolis. Foto: Caio Marcelo, Divulgação.

A crítica mais contundente – e que marca a posição de Kassab em relação ao bolsonarismo – veio na entrevista coletiva antes do evento, quando criticou a proposta de emenda constitucional (PEC) que prevê a adoção de um modelo misto de votação e apuração – eletrônico e impresso. A bandeira tem sido enfatizada pelo presidente Bolsonaro e seus apoiadores, que alegam indícios de fraudes no atual sistema. Na quinta-feira, Bolsonaro fez uma live repetindo e enfatizando as críticas, mas admitindo não ter provas do que diz. Kassab chamou de “jogo maquiavélico” a narrativa presidencial. Avalia que se a proposta for aprovada daria origem a um processo eleitoral com dupla apuração, abrindo margem para fraudes na contagem manual e questionamentos. E se não for aprovada, dá força a discursos autoritários que deslegitimem o processo eleitoral. Deixou claro que vê com atenção os movimentos bolsonaristas.

– Aqui ninguém é criança.

No final da coletiva, perguntei a Kassab como o partido lidaria com a possibilidade de palanques duplos em Estados como Santa Catarina, onde a força eleitoral de Bolsonaro poderia levar o candidato local a ignorar o candidato do partido. O diálogo foi assim:

– Nosso esforço vai ser para termos uma candidatura própria e termos um palanque junto com o senador Rodrigo Pacheco. Muito possivelmente o presidente Bolsonaro também terá aqui suas representações, como o ex-presidente Lula e os outros candidatos.

– Eu pergunto isso porque o prefeito João Rodrigues, que é um dos quatro pré-candidatos, tem um discurso muito alinhado com o do presidente Jair Bolsonaro. Isso é um problema? – questionei.

– Na hora certa, o Psd vai estar com o Rodrigo Pacheco. Até admito que talvez tenhamos eleitores que votem, se ele for nosso candidato a governador, nele para governador e no presidente Bolsonaro. Mas a coluna vertebral, o Psd, estará com Rodrigo Pacheco.

Kassab observa João Rodrigues dizer que está com Bolsonaro e que não estar é “tiro na cabeça”. Foto: Caio Marcelo, Divulgação.

Curiosamente, a continuidade desse diálogo veio durante o evento, quando diversas lideranças do Psd catarinense tiveram a palavra para saudar o dirigente nacional. Em sua vez, João Rodrigues deixou bem claro que é eleitor de Bolsonaro e que continuará sendo se for escolhido o candidato do partido ao governo.

– Quero lhe cumprimentar e lhe parabenizar pela decisão de ter uma candidatura própria. Porém, o senhor nos dá a liberdade de divergir. Eu, particularmente, sou eleitor do Bolsonaro. Isso é sabido de todos. Isso é importante dizer porque na caminhada que vamos fazer, ou ao governo ou não, no meu caso, se a opinião pública de Santa Catarina se mantiver como ela é, é 60% (para Bolsonaro). Estaremos fadados a não atravessar o rio. Se desgrudar do Bolsonaro, é um tiro na cabeça – afirmou.

Kassab não refutou a fala de João Rodrigues quando retomou a palavra. Assim como todos, enalteceu a unidade do partido, o projeto nacional, etc. O que precisava dizer, estava dito. No almoço depois do evento, no restaurante do mesmo hotel, na mesma mesa Kassab, João Rodrigues, Colombo, Napoleão, Adeliana, Júlio Garcia, entre outros, deram boas risadas e mostraram que ainda têm muito assunto em comum.


Sobre a foto em destaque:

Gilberto Kassab, presidente nacional do Psd, foi recebido em um encontro de lideranças do partido em um hotel de Florianópolis nesta sexta-feira. Foto: Caio Marcelo, Divulgação.

Compartilhar publicação: