Um detalhe importante precisa ser levado em conta na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa que será realizada no início do ano que vem. Pela primeira vez, o governador que acompanha atentamente esse processo será alguém que já ganhou e já perdeu a eleição para presidente do parlamento estadual.

Em 2001, Jorginho Mello foi derrotado por Onofre Agostini em uma acirrada disputa em voto secreto que foi parar nos tribunais. Quatro anos depois, venceu com voto aberto em plenário de todos os colegas, mas dentro de um acordo de divisão de mandato com Gelson Merisio. Ou seja, o governador eleito conhece como poucos como funciona o jogo da sucessão do parlamento – inclusive até onde o governador pode guiar e o quanto às vezes é necessário fingir que guia.

No início da semana, Jorginho se reuniu com a bancada eleita do Partido Liberal (Pl), a superbancada de 11 integrantes. Nela, surgiram logo de cara quatro postulantes ao comando da Alesc – Ana Campagnolo, Maurício Eskudlark, Nilso Berlanda e Sargento Lima. O governador eleito argumentou sobre a possibilidade de ceder a vaga a outro partido para composição e designou o aliado Ivan Naatz para centralizar as conversas com as demais legenda. Não significa que a bancada deixou de ter candidatos – Eskudlark e Lima, no mínimo, ainda continuam com os nomes postos.

Mas a força da superbancada freia diante do pragmatismo das demais forças políticas da Alesc. Vem sendo construído um grupo majoritário – fala-se em 24 parlamentares – que pretendem escolher um presidente que seja menos permeável à pauta ideológica dos bolsonaristas da Alesc. O dois nomes que disputam a condição de liderar o bloco, já antecipados aqui, são Mauro de Nadal (Mdb) e Marcos Vieira (Psdb). Note-se que há mais candidatos no Pl do que fora dele.

O emedebista despontou como favorito, especialmente porque seu partido, com seis integrantes, terá a segunda maior bancada. Esse argumento, no entanto, pode também jogar contra Nadal. Entre os defensores de uma alternativa fora das maiores bancada o comentário é que conceder a presidência da Alesc ao Mdb apenas aumenta o poder de barganha do partido na provável adesão à gestão de Jorginho. Além disso, Nadal teve um ano de gestão no comando da Alesc em 2021 muito focado no fortalecimento de sua própria base no Extremo Oeste. Não foi um bom cartão de visitas.

É por esse flanco que cresce a candidatura de Marcos Vieira. O tucano vem conversado em busca de construir essa maioria. Curiosamente, foi colega de Jorginho no partido e na Alesc. Se conhecem, sabem o que esperar um do outro.

Para Jorginho, a definição de um presidente fora dos quadros do Pl pode ser bastante útil. Impede a precipitação de disputas internas na superbancada que reúne integrantes de perfis diversos – os bolsonaristas, os reeleitos, os novatos. Certamente a unidade desse grupo é um dos maiores desafios que Jorginho terá em seu governo e não há motivos para antecipar esse problema.


Sobre a foto em destaque:

Nas conversas da Alesc, Mauro de Nadal (Mdb) e Marcos Vieira (Psdb) sorriem. Eles disputam para ser o nome fora do Partido Liberal na eleição para presidência do parlamento estadual. Foto: Bruno Collaço, Agência Al. 

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