O senador Jorginho Mello não tem um dia de paz. Na semana em que ele está completando com sucesso a operação “cisca pra dentro”, com a filiação ao Partido Liberal (Pl) dos deputados federais Caroline de Toni e Daniel Freitas e do deputado estadual Jessé Lopes, nomes relevantes do bolsonarismo no Estado, começa a ser deflagrada a engenharia política para trazer de volta à disputa pelo governo estadual o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (Psd).
Primeiro, é importante explicar a operação “cisca pra dentro”. Essa era a expressão que Jorginho utilizava sempre que era confrontado sobre a possibilidade de ter que arbitrar as rivalidades entre lideranças bolsonaristas dispostas a entrar no Pl depois da filiação do presidente Jair Bolsonaro chegou ao partido ou os efeitos desses ingressos sobre os nomes já estabelecidos no partido. O senador sempre dizia que em política é necessário ciscar para dentro, não para fora. E pacientemente esperou as composições acontecerem.
Assim, ficou com Daniel Freitas e Júlia Zanatta, com Caroline de Toni e Daniela Reinehr, com Jessé Lopes e Márcio Búrigo. Pelo menos até agora, deu certo. As imagens das filiações do trio de eleitos da onda bolsonarista de 2018 deixaram mais robusta a maior aliança que Jorginho tem até a agora: o bolsonarismo catarinense fez do Pl a sua casa inconteste.
Uma situação que ficará extremamente consolidada caso se confirmem as informações de que o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, também vai ingressar no partido para concorrer ao Senado. O combo Bolsonaro 22, Jorginho 22, Hang 222 é o maior trunfo do senador catarinense na busca de canalizar o voto bolsonarista para seu projeto de governar Santa Catarina.
É nesse contexto extremamente positivo para Jorginho que começa a ressurgir um dos maiores fantasmas que assolam sua pré-candidatura: João Rodrigues, que anunciou a desistência de concorrer ao governo no final de 2021, está voltando para o jogo. O prefeito de Chapecó tem duas coisas que faltam ao senador. O discurso organicamente ligado ao presidente, de quem foi colega de Câmara dos Deputados sempre partilhando as mesmas pautas, especialmente a antipetista. A possibilidade de trazer para seu projeto aliados da política tradicional catarinense, maior dificuldade de Jorginho até agora.
O primeiro sinal da volta de João Rodrigues ao jogo foi semana passada, quando anunciou – bem ao seu estilo – um decreto liberando o uso de máscaras em Chapecó. Uma decisão que ostensivamente colide com o entendimento do Supremo Tribunal Federal (Stf) de que nenhum ente tem o poder de determinar regras mais brandas que as em vigor no combate à pandemia do coronavírus. Ou seja, o decreto de João Rodrigues não pode liberar o uso de máscaras enquanto estiver em vigor o decreto estadual sobre o assunto – e foi isso que disse o Ministério Público de Santa Catarina na terça-feira, com a recomendação de que o decreto chapecoense fosse revogado.
Mas, ao seu jeito, João Rodrigues criou um fato e nele foi seguido por outros prefeitos, pressionados por eleitores – a maior parte bolsonaristas. É isso que eu quero dizer quando falo sobre a facilidade que o prefeito de Chapecó tem de ligar-se ao discurso dos eleitores do presidente. Como exemplo oposto, temos a resistência que Jorginho mostrou para aderir às críticas dos bolsonaristas aos projetos de passaporte vacinal. Aderiu, mas apanhou muito internamente até aderir.
O que vinha mantendo João Rodrigues fora do jogo era a presença do aliado Eron Giordani, secretário da Casa Civil estadual, como piloto da aliança política para a candidatura à reeleição do governador Carlos Moisés. Um arranjo que previa a adesão do Mdb, a conquista do Podemos e a soma de Psdb e Republicanos, além de dissidências importantes no Psd, como Júlio Garcia e o próprio João Rodrigues. Como Moisés preferiu seguir um caminho próprio, optando pela filiação ao Republicanos em vez de Mdb ou Podemos, como previa a prancheta da Casa Civil, os projetos começam a se dissociar. E nessa separação, o prefeito de Chapecó ressurge no jogo.
Na manhã desta quarta-feira, o jornalista Adelor Lessa, da Rádio Som Maior, noticiou que João Rodrigues passou a terça-feira em Florianópolis para avaliar a possibilidade de renúncia à prefeitura para concorrer ao governo. Teria conversas para composição com União Brasil, Psdb e Progressistas. Nomes de peso ventilados para compor como vice: o prefeito florianopolitano Gean Loureiro (União), as deputadas federais Geovânia de Sá (Psdb) e Angela Amin (Progressistas), o prefeito Joares Ponticelli (Progressistas), de Tubarão.
Para avançar sua pretensão, no entanto, o grupo ligado a João Rodrigues precisa tirar a pré-candidatura do ex-governador Raimundo Colombo (Psd) da frente. Ou convencer o mundo político de que ele foi enquadrado para isso. Faz parte da guerra de narrativas. Colombo continua no jogo e tem o respaldo do presidente nacional do Psd, Gilberto Kassab, caso queira concorrer novamente.
Estamos vivendo aquele estranho momento em que diferentes pré-candidaturas têm uma aflição comum. De formas diversas, João Rodrigues afeta as pretensões de Colombo, Gean e Moisés, as candidaturas que buscam a composição entre o centro e a centro-direita tradicional catarinense. De volta ao jogo, o prefeito de Chapecó traz para Jorginho a preocupação de ter que disputar o bolsonarismo com alguém que sabe falar esse idioma como ninguém em Santa Catarina.
Sobre a foto em destaque:
Na motociata de Chapecó, em junho do ano passado, Bolsonaro dividiu palanque – e a garupa da moto – com João Rodrigues e Jorginho Mello. Foto: Alan Santos, Presidência da República.