Manhã de segunda-feira, dia seguinte ao segundo turno mais disputado da história do Brasil, mas que em Santa Catarina apenas confirmou o favoritismo de uma candidatura, Jorginho Mello (Partido Liberal) me recebe em seu comitê de campanha ainda sentindo os efeitos do cansaço de uma longa campanha eleitoral e de uma gripe que o Estado inteiro pode ver no último debate contra o adversário Décio Lima (Pt). Na primeira pergunta, digo: “Jorginho Mello, governador eleito de Santa Catarina. Como é ouvir isso?”. O senador do Partido Liberal sorri e nem tenta disfarçar o sentimento.
– É uma música para meus ouvidos, algo que eu sonhei sempre. Nunca escondi isso de ninguém.
Veja a íntegra da entrevista:
Sob a música despertada pela expressão “governador eleito”, Jorginho Mello foi entrevistado para o Cabeça de Político poucas horas depois da vitória com 70,69% dos votos válidos na eleição catarinense. Na conversa, de pouco mais de quarenta minutos, ele falou das origens modestas, quando vendia os doces feitos pela mãe na praça da Estação Ferroviária, em Herval d’Oeste e da longa carreira política que chega ao ponto máximo – e à realização do sonho – a partir de 2023, com a posse como governador do Estado. Falou também a derrota do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal), responsável pelo fortalecimento do Partido Liberal no Estado e fundamental para a vitória de Jorginho. Manter um relacionamento institucional com o presidente eleito Lula (Pt) sem desagradar o eleitor bolsonarista que o carregou ao poder no Estado é seu grande desafio agora.
– Tive a parceria par e passo com o presidente Jair Bolsonaro. Santa Catarina queria que ele fosse presidente, Santa Catarina o elegeu. Agora, se o resultado é desfavorável a nível nacional, isso tem que ser respeitado pela democracia. Tem que conviver, relacionamento republicano de construção. Ninguém pode se enclausurar porque “o meu partido não ganhou a eleição, agora tenho que não me relacionar”. Isso não existe.
A entrevista foi gravada antes do breve discurso do presidente Jair Bolsonaro na terça-feira, mas já sob os protestos de militantes bolsonaristas que trancavam rodovias em diversos Estados e, especialmente, em Santa Catarina. Questionado sobre os protestos, Jorginho se manifestou contra a obstrução das estradas.
– Esses bloqueios agora, isso não contribui em nada. A liberdade de ir e vir, ele (Bolsonaro) sempre foi um defensor disso. Eu não tenho dúvida de que isso vai acontecer o mais rápido possível (o desbloqueio), para o Brasil voltar a funcionar, trabalhar, nosso Estado levar o que produz para os portos, aos grandes centros. Eu vou falar com Bolsonaro para ver qual é a posição. Mas a posição é a que o povo escreve, o povo determina.
Veja a fala de Jorginho sobre os bloqueios:
A decisão do povo nas urnas, por margem muito estreita de 2,1 milhões de votos, na vitória de Lula sobre Bolsonaro também é citada quando Jorginho tenta encontrar os motivos da derrota do colega do partido. Segundo ele, faltou comunicação sobre os feitos do governo e, muitas vezes o presidente foi “transparente demais, sincerão demais”.
– Mas é o jeito dele. Quem o conhece, respeita. É um grande brasileiro. Ele merecia mais quatro anos. Eu não tenho dúvida. Quem conhece ele como eu conheço, quem esteve junto, ouviu ele em momentos bons e mais ou menos. Ele merecia mais quatro anos, mas o povo sabe o que faz. O povo é o dono do mandato, o povo é o dono do voto.
Na entrevista, Jorginho diz que não vai anunciar secretariado antes de 1° de dezembro. Fala também sobre o perfil do governo, parceria com entidades empresariais, participação na eleição da presidência da Assembleia Legislativa e sobre promessas de campanha, como a compra de todas as vagas do sistema Acafe.