João Rodrigues tira o time de campo

Usando expressões como “coração partido”, “abrir mão de um sonho” e “sinto que é a minha vez”, o prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd) realizou uma transmissão ao vivo em suas redes sociais na noite de terça-feira para anunciar que está declinando da condição de pré-candidato a governador do Psd – vaga que disputava internamente com o ex-governador Raimundo Colombo e o ex-prefeito blumenauense Napoleão Bernardes. O motivo, disse João Rodrigues, é a incompatibilidade entre o projeto nacional do partido de lançar o senador Rodrigo Pacheco (Psd de Minas Gerais) como candidato à presidência e o desejo do prefeito de se engajar na campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (Pl). A frase dita e repetida por ele, no entanto, abre margem para que concorra em outra agremiação partidária.

“Não serei candidato a governador pelo Psd. Isso está descartado.”

João Rodrigues, descartando sem descartar completamente.

Embora tenha deixado essa brecha, João Rodrigues enfatizou que não vai renunciar a prefeitura de Chapecó se não estiver a bordo de um projeto viável. Disse acreditar que o eleitor entenderia a renúncia se viesse no contexto de uma candidatura forte. Na live, fez elogios rasgados a Bolsonaro e também ao governador Carlos Moisés (ex-Psl), com quem deve se encontrar na quinta-feira. Há muita expectativa sobre esse encontro, inclusive há quem trabalhe pelo apoio oficial do prefeito à reeleição do governador. Sobre o senador Jorginho Mello (Pl), pré-candidato a governador do partido de Bolsonaro, João Rodrigues não disse nada. A não ser que o leitor fique procurando entrelinhas e ache que esta frase é sobre ele:

“Tem muitos candidatos que estão com o presidente e têm expectativa de que o presidente vá apoiá-los. Eu disse e reafirmo: se um dia eu tiver que ser governador de Santa Catarina, eu quero ser pelos méritos, pela minha história. Por aquilo que fiz, por aquilo que faço e aquilo que eu posso fazer pelos catarinenses.”

João Rodrigues, para entendedores.

Outro recado de João Rodrigues foi para a mulher, Fabiana. O prefeito garantiu que ela vai disputar as eleições em 2022, só não se disse se a deputada estadual ou federal.

“Fabi, se prepare que tu vai para a estrada. Eu fico para cuidar das crianças e do município e você vai para o trecho.”

João Rodrigues, pronto para a dupla jornada.

Veja a íntegra da live de João Rodrigues


 

Moisés agora tem o seu Fundo Social

Fazia parte do pacotaço de projetos do governo Carlos Moisés aprovado terça-feira na Assembleia Legislativa um novo Fundo Social. O nome remete a um dos símbolos do governo Luiz Henrique da Silveira (Pmdb), criado em 2003 para “descarimbar” recursos do orçamento. Pela lógica da época em que foi criado, as empresas podiam destinar até 6% do Icms ao fundo, que ganhavam um abatimento sobre o valor total do imposto a pagar. O instrumento foi judicializado pelo Pp e após alguns anos o Tribunal de Justiça considerou o Fundo Social constitucional, desde que não afetasse o valor que devia ser destinado a municípios e poderes – o que acabou tornando o modelo menos vantajoso ao Estado. Mesmo assim, foi através do Fundo Social que Luiz Henrique garantiu alguma margem orçamentária para atender parlamentares e construir a base política que se tornaria a tríplice aliança. Um antepassado das emendas impositivas.

Incorpora o de LHS e o de Colombo

O novo Fundo Social será formado pela fusão de quatro fundos, inclusive o original e o famoso e esvaziado Fundam do governo Raimundo Colombo (Psd). Os recursos serão destinados para ações de promoção social e combate à pobreza – com foco na habitação popular. A gestão ficará com a Secretaria da Fazenda.

O jabuti

Milton Hobus votou a favor do fundo, mas diz que vai ficar de olho em caso de aumento de impostos. Foto: Rodolfo Espínola, Agência AL.

Até aí, tudo bem. Mas o novo Fundo Social também abre uma portinha para aumento de impostos – mais uma. O artigo 10 da proposta prevê que as empresas beneficiadas com incentivos ficais recolham 2,5% desse incentivo para o fundo. Os mais atingidas seriam os setores têxtil, tecnologia e laticínios. A Federação das Indústrias (Fiesc) chegou a tentar emplacar, sem sucesso, uma emenda excluindo o têxtil dessa contribuição. Na noite de ontem, em plenário, o deputado estadual Milton Hobus (Psd) disse que havia garantias da Fazenda de que não haveria aumento de carga tributária, mas que estariam de olho nos efeitos. Era nítido o desconforto.

Né?

É no que dá aprovar as coisas com pressa.

Enredo clássico

Os governos e parlamentos catarinenses são viciados nesses pacotaços de final de ano com jabutis. Em 2006, aprovaram uma aposentadoria especial para deputados estaduais que fossem servidores públicos que precisou ser revogada no ano seguinte. Há nove anos, em 2012, eu comecei assim um texto sobre a última sessão da Alesc: “A Assembleia Legislativa cumpriu sua tradição de aprovar benefícios polêmicos em sua última sessão, com tramitação relâmpago. Desta vez, o aumento de mais de 70% nos auxílios-moradia pagos a deputados estaduais, desembargadores, procuradores e conselheiros. É o enredo clássico, está feito.”

Igual

Quando cito que em outros anos também existiam estranhos e ligeiros pacotes de projetos no final das legislaturas não é para minimizar o pacotaço de Moisés. Foi ele prometeu prometeu nova política, não Gelson Merisio, Mauro Mariani e Décio Lima.


Braço-direito de Gean se lança à Alesc

Os servidores da Secretaria da Fazenda de Florianópolis receberam uma mensagem de boas festas inusitada do secretário Constâncio Maciel. Anunciou aos subordinados que é pré-candidato a deputado estadual em 2022, no time que deve respaldar a candidatura a governador do prefeito Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil). Separei uns trechos:

“O ano que vem nos reserva grandes projetos, a começar pela candidatura do Gean a governador. Santa Catarina precisa de alguém com a atitude e liderança do Gean, para acelerar o desenvolvimento e ser mais valorizada e respeitada. Quero estar ao lado dele nessa luta, defendendo, lá na Assembleia Legislativa, as boas causas, o que é justo, urgente e necessário.”

Constâncio Maciel, defendendo o chefe.

“Senti que agora era o momento certo de compartilhar essa minha decisão com você. Pode parecer que está cedo pra isso, mas não há tempo a perder. O caminho será difícil e cheio de obstáculos, mas se estivermos unidos, desde já, não tenho dúvidas que nossa missão será vitoriosa. Para isso, vou precisar muito da sua parceria e da ajuda de todos os amigos que, há tantos anos, nos acompanham nessa longa jornada.”

Constâncio Maciel, sem tempo a perder.

Compartilhar publicação: