Lembro que encontrei João Henrique Blasi por acaso em frente à Assembleia Legislativa naquele dia que marcou sua breve transição da condição de deputado estadual, peemedebista e líder do governo Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) para desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Era 19 de novembro de 2007. A posse como magistrado foi apressada, sem festa e sem pompa, no gabinete da presidência, por causa da iniciativa de um descontente que apresentou mandado de segurança contra a confirmação da vitória do parlamentar no processo de seleção da vaga dos advogados no chamado quinto constitucional – a alegação era de que Blasi não cumprira os dez anos de advocacia requisitados. Uma liminar chegou a ser concedida, mas dois dias depois foi fulminada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, encerrando o assunto.
Naquela breve conversa, que rendeu uma mini-entrevista para o jornal A Notícia em que Blasi mais se esquivava do que respondia, lembro sempre de um trecho não publicado, quando perguntei sobre o que significava trocar a política pela magistratura.
– É o sonho de uma vida – disse Blasi.
Filho de Paulo Henrique Blasi, que presidiu a Oab-SC; sobrinho de Aluizio Blasi, também desembargador; João Henrique chegou ao ápice do sonho ao ser eleito presidente do Tj-SC na tarde da última quarta-feira, quando recebeu 56 votos contra 34 que foram dados à desembargadora Soraya Nunes Lins. Uma votação que superou as projeções de que a disputa poderia ser mais apertada e que indicou uma forte mudança na geografia política da corte estadual.
Em 2019, Blasi compôs com o grupo que elegeu Ricardo Roesler e que dois anos antes elegera Rodrigo Collaço em um confronto praticamente geracional entre os magistrados. Aliado a esse grupo, o ex-político (se é que existe isso) tornou-se vice-presidente da corte. Na ocasião, Roesler venceu os desembargadores Ricardo Fontes e Altamiro de Oliveira, que representavam grupos coesos dentro do tribunal. Na construção da retumbante vitória de quarta-feira, Blasi conseguiu a adesão dos dois grupos derrotados em 2018 e parte do eleitorado que deu a vitória a Roesler e Collaço. A candidata do grupo este ano era Soraya Lins, o que mostra como foi delicadamente construída internamente a eleição no Tj-SC. Os indicativos dessa construção já se manifestavam na eleição que daria a Diogo Pítsica a vaga de desembagador em agosto deste ano.
Eleito, Blasi assume o comando do Tj-SC em fevereiro do ano que vem para um mandato de dois anos. Como vice já deu amostras do estilo com que deve comandar a instituição – articulado com os poderes, presente em discussões, uma cara mais política e mais visível para a Judiciário. Em seu discurso, exaltou programas que falam para fora do Tj-SC, como o Lar Legal (de regularização fundiária) e a prevenção á violência doméstica. Elogiou a adversária “pela lealdade como transcorreu nosso pleito” e garantiu “reafirmar os propósitos que assumimos: de investir, sobretudo, na nossa função maior, na nossa atividade finalística, que é fazer justiça”.
A última vez que um magistrado oriundo do quinto constitucional da advocacia presidiu o Tj-SC foi Jorge Mussi, hoje no Superior Tribunal de Justiça, entre 2004 e 2006. Blasi vem da advocacia e, principalmente, da política. O que deve gerar bastante curiosidade e atenção sobre sua gestão. A posse como presidente, além disso, vai garantir a festa solene que lhe foi negada em 2007.
Sobre a foto em destaque:
João Henrique Blasi, na condição de vice-presidente do Tj-SC, participou de audiências públicas sobre a reforma da previdência na Assembleia Legislativa, sua antiga casa. Foto: Rodolfo Espínola, Agência AL.