Dias desses compartilhei no Instagram um vídeo com parte da resposta que dei à pergunta “você acredita na terceira via?” no Seminário Comunicação e Gestão na Municipalidade, realizado em Criciúma no início de agosto. Resumidamente, eu dizia que hoje não parece possível que algum outro candidato se intrometa neste segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (Pt). Mas que a exaustão por esse confronto precoce pode fazer com que a sociedade, lá por maio, junho de 2022, esteja mais disposta a ouvir quem apresentar um discurso alternativo à polarização.
– Hoje não há espaço para uma terceira via. A sorte de quem quer uma terceira via é que o segundo turno não é hoje – eu disse.
É importante categorizar o que significa essa terceira via. Falo de uma candidatura de tom contemporizador, produto de alianças de partidos tradicionais, com um perfil de centro-direita. Um espaço normalmente ocupado pelo Psdb, mas que agora deve ser disputado com antigos aliados e players que acham que os tucanos não tem mais peso para liderar o bloco.
Então, os nomes da chamada terceira via, por esse prisma, tem desde os governadores João Dória (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), ambos do Psdb, até apostas como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (hoje no Democratas de Minas Gerais, mas cotado para ingressar no Psd), o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Democratas do Mato Grosso), a senadora Simone Tebet (Mdb do Mato Grosso do Sul) e o senador Alessandro Vieira (Cidadania de Sergipe). Nada que empolgue muita gente até o momento.
Perceba, leitor, que eu descolo do bloco da terceira via dois nomes que apresentam desempenho melhor nas pesquisas: Ciro Gomes (Pdt do Ceará) e Sérgio Moro (sem partido, mas convidado pelo Podemos). Isso não significa descrer no potencial das candidaturas, mas indicar que elas pertencem a outra raia. Elas são, cada uma à sua maneira, candidaturas de confronto, não de conciliação. No mundo utópico da terceira via, o candidato precisará pregar o “nem Bolsonaro e nem Lula”, mas ser votável por quem já votou Bolsonaro ou Lula e deseje pacificar a política. Se vai funcionar, a urna que vai dizer. Mas, certamente, não é o tom de Ciro e Moro.
Por mais que faça críticas contundentes a Lula, Ciro Gomes dificilmente vai deixar de ser visto por um eleitor de Bolsonaro como alguém que esteve aliado ao Pt nos quase 14 anos em que o partido esteve no Palácio do Planalto. Suas chances dependem mais de um esvaziamento de Lula como candidato das esquerdas, hoje pouco provável, do que do discurso em que critica ambos os polos. O pedetista precisa mesmo é que o cenário fragmente. Para ser aceito no clube da terceira via precisaria trazer mais à centro-direita seu discurso econômico, o que parece muito difícil.
Moro tem em setores da esquerda uma rejeição tão ampla ou até pior do que a de Bolsonaro. É o homem que prendeu Lula. Isso lhe garante popularidade e rejeição quase nos mesmos termos. É rejeitado, ainda pelos bolsonaristas mais radicais, que o veem como traidor pela forma como saiu do Ministério da Justiça acusando o presidente de tentar interferir em investigações da Polícia Federal. É visto pela política tradicional como um dos responsáveis pelo colapso desse sistema em 2018. Dificilmente conseguiria uma composição. Suas chances dependem do esvaziamento de Bolsonaro e de ocupar esse espaço, hoje pouco provável. Como disse, a sorte do clube da terceira via, de Ciro e de Moro é que o segundo turno não é hoje.
Sobre a foto em destaque:
Os senadores Rodrigo Pacheco e Simone Tebet são candidato a candidato da terceira via. Foto: Roberto Castello, Flickr de Simone Tebet.