Com um cenário de múltiplas pré-candidaturas presidenciais e de governador ainda por afunilar até o registro das candidaturas em agosto de 2022, é provável que logo comecemos a ouvir falar em palanques duplos e até triplos. Ou seja, candidatos a governador que recepcionam mais de um postulante à presidência da República. Na história política de Santa Catarina, no entanto, é sinônimo de confusão e/ou traição.
O pré-cenário que temos hoje mostra a predominância no Estado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e um polo opositor definido pelo ex-presidente Lula (Pt). Soma-se ao quadro uma infinidade de candidatos a candidatos a alternativa e muitos deles devem ficar pelo caminho. Curiosamente, esses são os nomes de partidos tradicionais do Estado – Mdb, Psd, Psdb – ou de possíveis emergentes – Pdt, Psb, Podemos.
Por enquanto, a expressão “palanque duplo” só tem sido utilizada nas embrionárias conversas entre partidos de esquerda. A presença de Pt e Pdt na mesa levanta obviamente a especulação sobre uma candidatura ao governo que possa receber tanto Lula quanto Ciro Gomes (Pdt) no Estado. Conforme as questões avancem, teremos versões à direita, com a mescal de partidos que apoiem Bolsonaro em composições que tenham outros presidenciáveis.
Na história das eleições recentes em Santa Catarina, já tivemos de quase tudo e quase sempre deu errado. Em 1994, o então pedetista Nelson Wedekin concorreu ao governo com uma inusitada coligação que se orgulhava de pedir voto para três candidatos a presidente: Fernando Henrique Cardoso (Psdb), o petista Lula e Leonel Brizola (Pdt). Claro que não deu certo.
Os tucanos catarinenses da época, mais à esquerda, acabaram sumindo na chapa avermelhada – onde predominou o Pt de Lula. Brizola, que vencera o primeiro turno em Santa Catarina na eleição anterior, amargou um sexto lugar. Eleito, Fernando Henrique viu como verdadeiro palanque catarinense a candidatura improvisada de Jorge Bornhausen e foi o Pfl quem ganhou espaço nos cargos federais. Wedekin? Ficou em quarto lugar em sua última eleição.
Quatro anos depois, foi a vez de Milton Mendes (Pt) abrigar Lula e Ciro (no Pps) em seu palanque. Não que alguém tenha visto. Apenas Sérgio Grando, candidato a senador na frente, citou o presidenciável do Pps.
Depois foi a vez dos candidatos a presidente compartilharem nomes para o governo catarinense. Deu confusão também. Em 2002, Esperidião Amin (Ppb) e Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) disputavam o apoio de José Serra. O Psdb catarinense estava com Luiz Henrique, mas mesmo assim Serra priorizou o favorito Amin. Foi assim que sem o menor pudor o peemedebista pôde colher para si, no segundo turno, os efeito da Onda Lula e se eleger governador em uma virada histórica.
Nas últimas duas disputas a confusão também imperou. Em 2014, a chapa de Raimundo Colombo (Psd) era tão ampla que cabiam a presidente Dilma Rousseff (Pt) e o rival Aécio Neves (Psdb) – embora só o tucano e o pessoal do Pc do B tenha falado na petista. O adversário de Colombo, Paulo Bauer (Psdb) era o nome oficial de Aécio, mas também abrigava Marina Silva – na época no Psb do candidato a senador Paulo Bornhausen. Marina teve menos votos em Santa Catarina que a média nacional e o tucano embalou quase levando Bauer para um segundo turno que seria perigoso para o reeleito Colombo.
Na última, Gelson Merisio (no Psd) tinha partidos aliados a Geraldo Alckmin (Psdb), Ciro, Marina e até a Fernando Haddad (Pt) em sua chapa, mas declarou voto em Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno. O adversário Mauro Mariani (Mdb) tinha Henrique Meirelles (Mdb), Alckmin e até o Prtb do vice de Bolsonaro, General Mourão. Foram todos atropelados.
Ainda é cedo para saber como vão preparar a salada mais ou menos temperada para 2022. Mas uma coisa é certa: tem tudo para ser indigesta.
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