Base de Moisés mostra força aprova pacotaço bilionário na Alesc

Resultado na votação da reforma administrativa. Foto: Rodolfo Espínola, Agência Al.
O governo Carlos Moisés (ex-Psl) mostrou muita força política na Assembleia Legislativa ao fazer passar sem maiores dificuldades um pacote de projetos para o funcionalismo estadual que pode significar um aumento de gastos na casa de R$ 1,3 bilhão em 2022 e de R$ 1,4 bilhão em 2023 e que chegou a ser criticado por entidades ligadas ao setor produtivo, como a Federação das Indústrias (Fiesc) e a Federação das Associações Empresariais (Facisc). O máximo de votos que a oposição conseguiu alcançar foi 10, na proposta que transforma os cargos de contador e auditor do tesouro em auditores de finanças públicas, quando a deputada petista Luciane Carminatti (Pt) se somou ao núcleo oposicionista.
A oposição e a situação
Os votos contrários ficaram concentrados nas mãos (e falas) de Ana Campagnolo (Psl), Bruno Souza (Novo), Ivan Naatz (Pl), Jessé Lopes (Psl), João Amin (Progressistas), Kennedy Nunes (Ptb), Laércio Schuster (Podemos), Marcius Machado (Pl) e Sargento Lima (Pl). Ou seja, somente aqueles que não estarão de jeito nenhum no projeto eleitoral de Moisés em 2022. Por sua vez, as bancadas do Mdb e do Psd votaram em bloco a favor dos projetos.
Dois Psd
É nítido que existem dois Psd – no mínimo. O da Alesc, sob a batuta de Júlio Garcia, votou a favor do pacotaço sem chiar. O Psd lageano, reclamou. O ex-governador Raimundo Colombo usou suas redes sociais para chamar o pacotaço de “impagável” e “irresponsável” e fruto de “pressão por grupos de interesse”.
Nome aos bois
Os louros são de Moisés, mas os méritos para aprovação do pacotaço são dos secretários Eron Giordani (Casa Civil) e Paulo Eli (Fazenda).
Solução caseira na nova secretaria
A pequena reforma administrativa de Moisés criou uma nova pasta: a Secretaria Geral de Governo, que vai assumir parte das tarefas da Casa Civil. A reforma de 2019 havia anabolizado a pasta comandada na época por Douglas Borba. Agora, o trabalho vai ficar mais distribuído. O nome para a Sgg é o do coronel Márcio Ferreira, atual chefe de gabinete do governador Moisés.
Túnel do tempo
A longa e monótona sessão desta terça-feira na Assembleia Legislativa, repetindo um roteiro em que cada projeto do pacotaço era aprovado sem dificuldades e sob críticas veementes de meia-dúzia de oposicionistas me fez voltar ao começo da carreira como jornalista de política, na última sessão do ano de 2006. Naquela tarde, as galerias estavam cheias porque o governo de Eduardo Pinho Moreira (Pmdb), com Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) já reeleito e contando os dias para retornar ao cargo, enviara à Alesc a proposta de emenda constitucional que permitiria ao Estado tirar do Besc as contas salário dos servidores estaduais. A oposição e sindicatos diziam que a manobra era um tiro de morte no banco estadual, na época federalizado.
Fiquei impressionado porque as bancadas oposicionistas do Pp e do Pt se revezavam na tribuna para criticar a Pec, recebendo aplausos das galerias tomadas por besquianos, enquanto a maioria governista (Pmdb, Pfl e Psdb à frente) simplesmente calava. Foi quando encontrei o líder do governo, João Henrique Blasi (Pmdb, hoje desembargador do Tribunal de Justiça) e perguntei porque a base não defendia o projeto governista. Guardei a frase até hoje e nunca mais me surpreendi com sessões como a dessa terça-feira:
“Upiara, tem dias em que a oposição discursa e a situação vota.”
João Henrique Blasi em 2006, numa breve aula grátis de política para o repórter iniciante.
Bancada do Mdb diz que quer Moisés
Os ex-governadores Eduardo Pinho Moreira e Paulo Afonso Vieira foram ao almoço da bancada estadual do Mdb em busca de uma resposta clara e objetiva sobre o que desejam os deputados estaduais em 2022. E receberam essa resposta: a bancada que estar no projeto de reeleição do governador Carlos Moisés (ex-Psl). Só não sabem, ainda, como. Os deputados admitem que é muito difícil o maior partido do Estado indicar o candidato a vice-governador em uma chapa liderada pelo pequeno Avante, caso seja esta a escolha de Moisés. Também não enxergam desejo ou movimentos para que o governador entre para o Mdb. A conversa franca animou os presentes.
Velha política x nova política
No entorno político de Moisés há quem defenda a filiação do governador do Mdb, enquanto outros defendem veementemente a opção pelo Avante – um partido em que ele possa mandar. Quem prefere o Mdb chegou depois dos impeachments, quem prefere o Avante estava com Moisés na eleição de 2018.
E a prévia?
O senador Dário Berger já está sendo visto como carta fora do baralho emedebista. Resta apenas o anúncio. Na bancada, a opção por Antídio Lunelli também parece esvaziada. A prévia marcada para dia 19 de fevereiro cada vez mais é um cadáver insepulto. Morimbundo, diria Luiz Henrique.
Colatto x Maldaner
Enquanto isso, o ex-deputado federal Valdir Colatto enviava uma contundente mensagem no grupo de WhatsApp do diretório estadual pedindo a renúncia do deputado federal Celso Maldaner do cargo do presidente estadual da sigla. Criticou a indefinição sobre as candidaturas majoritárias e a condução da construção das chapas proporcionais. Colatto quer disputar uma vaga na Câmara e o Mdb estadual mapeou para a região o empresário Leandro Sorgatto, filho do ex-deputado estadual Gelson Sorgatto. A mensagem de Collatto pode ser indicativo de desfiliação – o nome dele consta em listas de pré-candidatos a deputado federal do União Brasil de Gean Loureiro.
“O presidente do Mdb-SC, Celso Maldaner, assemelha-se um macaco entre cristais, usa as estruturas e o fundo partidário para promoção pessoal, não consegue liderar o partido para uma definição de candidaturas majoritária ou proporcionais para as eleições de 2022. (…) Quando outros partidos, buscam lideranças para o embate politico de 2022, valorizando sua história, o presidente na contramão, isola e estimula candidatos aventureiros, limpando a área, manipulando os menos informados em beneficio pessoal. (…) Não consigo imaginar que o partido não se preocupe com a possibilidade de perder o seu único Senador Dario Berger, potencial futuro governador, lideranças majoritárias e outras, importantes para compor as bancadas estaduais e federais.”
Valdir Colatto, na manifestação que talvez seja o último capítulo da rivalidade com Celso Maldaner no Mdb.