Gean vai de ônibus para 2022
O prefeito Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil), de Florianópolis, não esperou o ano terminar para lançar aquela que parece uma de suas principais cartadas na consolidação da pré-candidatura a governador do Estado. Por si, o anúncio de que não concederá reajuste nas tarifas de ônibus não chega a ser uma novidade e é até banal em anos eleitorais. O que impressiona no pacote apresentado por Gean na quarta-feira é que essa medida vem acompanhada de mudanças estruturais no sistema municipal de transporte público – um dos grandes dramas de uma capital que sofre com dificuldades de mobilidade urbana e alto custo de tarifas. O prefeito vai lançar mão de R$ 30 milhões para subsidiar não só a falta de aumento para o consórcio de empresa de ônibus, mas também o aumento de linhas e a adoção de uma tarifa flutuante – R$ 1 mais barata fora dos horários de pico. Também cria a possibilidade de que viagens de ida e volta sejam realizadas com o pagamento de apenas uma passagem, caso sejam realizadas em um intervalo de até três horas.
Medidas para atrair usuários
As medidas têm um objetivo básico: ampliar o número de usuários de transporte coletivo na Capital. Até hoje, as medidas tomadas para o sistema tratavam de ampliar subsídio ou penalizar os usuários com aumentos. A lógica de ampliar os consumidores nunca foi tentada de forma organizada – e há esse mérito no anúncio feito por Gean. Estão incluídos a adoção de linhas circulares nos bairros e ônibus nas madrugadas em regiões de boemia, como a avenida Hercílio Luz – um aceno aos jovens. Além disso, em fevereiro será possível pagar as passagens com Pix e cartões de crédito e débito. O usuário do cartão regarregável terá as vantagens da ida e volta e da passagem mais barata fora do horário de pico e passará a poder recarregá-lo por QR Code e aplicativo – era mesmo inacreditável que o sistema de recarga fosse tão rudimentar na cidade que tenta se apresentar como Vale do Silício brasileiro.
Quem paga a conta?
Como ainda não é possível mensurar a adesão de novos usuários ao sistema, a conta será paga com aumento do subsídio pago ao Consórcio Fênix. A projeção é de que sejam gastos 36 milhões em 2022 – dinheiro que vem do superávit de R$ 50 milhões que a prefeitura deve alcançar este ano.
Não é economia de cafezinho
A inflação é uma bênção para as arrecadações. Gean e o governador Carlos Moisés (ex-Psl) têm isso em comum. Talvez só isso.
Olho do marqueteiro

Está de volta o Gean Loureiro garoto-propaganda, modelo usado na campanha eleitoral da reeleição. Foto: Reprodução.
Transporte coletivo é um tema sensível nas médias e grandes cidades. Ainda mais em Florianópolis, uma cidade marcada por longas distâncias. Ao trazer para o centro do debate como gestor, na abertura do sexto ano de governo, Gean tenta conseguir visibilidade que tem faltado em seu projeto de estadualização. Além disso, a forma como foi feita o anúncio traz de volta o Gean garoto-propaganda da própria gestão, marcado na campanha eleitoral da reeleição em 2020, e o vincula a uma pauta sensível às esquerdas – redução do preço de passagens de ônibus. Não à toa, as primeiras reações nos adversários à esquerda foram de silêncio, enquanto as críticas vinham da vereadora Manu Vieira, do Novo.
Antes era zero
Não é a primeira vez que Gean usa o transporte coletivo como cartada eleitoral. No segundo turno de 2012, quando tentava ultrapassar Cesar Souza Junior (Psd), ele chegou a prometer tarifa zero. Não foi suficiente. Aliás, quando prefeito, Cesar Junior chegou a negar reajuste às empresas (2013) e a anunciar redução de tarifa (2014). Depois, só aumentou.
Topázio embarcado
Se Gean confirmar a renúncia em abril para concorrer nas eleições de outubro, a conta do pacote do sistema de transporte vai ficar para o vice Topázio Neto (Republicanos) pagar. Nas redes sociais, ele chamou as medidas de “ótima notícia” e que são “boas razões para você que só anda de carro começar a usar nosso transporte público”.
A pedra continua no caminho
Mas a quarta-feira não foi só de anuncios para Gean Loureiro. Na polêmica obra de revitalização do centro histórico, os paralelepípedos do século 19 venceram mais uma batalha. O desembargador Osmar Nunes Junior, de plantão no Tribunal de Justiça, negou o recurso da prefeitura à decisão liminar do último sábado, que suspendeu a obra prevista para iniciar dia 3 de janeiro. O Ministério Público Estadual, através do promotor Rogério Seligman, quer que sejam ouvidos os órgãos municipal, estadual e federal responsáveis por patrimônio histórico antes que alguém toque nos paralelepípedos.