Entre terça e quarta-feira, o prefeito florianopolitano Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil) fez um roteiro de pré-candidato a governador pelo Oeste do Estado. Esteve em Chapecó, Xaxim e Xanxerê, encontrou lideranças locais e deu entrevistas a emissoras de rádio e televisão locais. Um roteiro bastante semelhante ao que fez no final de setembro em Lages e que aponta pelo menos três objetivos nesta etapa embrionária da candidatura ao governo em 2022.

Primeiro, Gean Loureiro precisa ser visto como postulante. Faz parte do jogo ser visto jogando – procurando sempre o limite entre a afoiteza de quem avança o sinal antes da hora e a discrição que se confunde com paralisia. Nessas visitas ao interior do Estado, o prefeito aproveita os espaços para apresentar o que fez em seu mandato à frente da Capital. Em Chapecó, além das entrevistas e encontros políticos, teve reunião com a organização social que toca o Hospital Regional do Oeste e visitou Neivor Canton, presidente da Aurora Alimentos, uma das maiores lideranças do agronegócio brasileiro. Aí está, também, o segundo objetivo: Gean precisa estadualizar o nome, mais do que qualquer outro postulante. Florianópolis é uma capital ignorada em boa parte do Estado – há diversas explicações políticas, culturais, histórias e geográficas para isso. O sotaque da Capital é um adversário a mais que ele precisará enfrentar e vai enfrentando desde já.

Na Aurora Alimentos, Gean Loureiro visitou Neivor Canton (ao centro), acompanhado do suplente de deputado estadual Jaksom Castelli. Foto: Divulgação.

O terceiro ponto que marca a semelhança nos roteiros de Gean em Lages e no Oeste é estritamente político-partidário. O prefeito de Florianópolis se movimenta para conquistar, aos poucos, aquele que pode ser seu principal aliado nas eleições do ano que vem: o Psd. Na Serra, o florianopolitano estreitou laços com o ex-governador Raimundo Colombo (Psd). Agora, foi a fez de fazer um gesto ao antípoda do lageano no ninho pessedista: o prefeito chapecoense João Rodrigues. Ambos também são pré-candidatos a governador, mas com posições e discursos opostos. Colombo vai na linha do presidente nacional do Psd, Gilberto Kassab, e do neopessedista Rodrigo Pacheco, pré-candidato a presidência da República. É a linha da terceira via. Enquanto isso, João Rodrigues é eleitor declarado e defensor do presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl), de quem fez questão de subir na garupa da moto quando esteve em Chapecó.

Fruto da fusão entre o tradicional Democratas e o bolsonarismo de resultados do Psl, o União Brasil por enquanto navega entre esses dois campos. Pragmático, Gean nunca se alinhou a Bolsonaro, mas também nunca o confrontou. Quer fazer de sua gestão uma ilha em meio às brigas ideológicas e políticas externas. Por enquanto, tem conseguido. Em Chapecó, participou do evento de 300 dias do governo João Rodrigues, elogiou o pessedista e voltou a repetir o mantra atual: quer fazer parte de um projeto, não impor seu nome. É o que todos os pré-candidatos querem ouvir de outros pré-candidatos neste momento.

A estratégia de Gean ter um terceiro elemento nas disputas internas do Psd: o deputado estadual Júlio Garcia. Afastado de Colombo, próximo de João Rodrigues, aliado do governador Carlos Moisés (ex-Psl) na governabilidade, publicamente defensor da pré-candidatura de Napoleão Bernardes (Psd) ao governo, interlocutor frequente do próprio Gean, o quererá Júlio Garcia em 2022? Por essa resposta passa boa parte da construção do cenário eleitoral do ano que vem. Mas uma coisa é certa: se o prefeito de Florianópolis conseguir ser palatável a todos os grupos do dividido Psd, tem grandes chances de conquistar seu aliado preferencial.


Sobre a foto em destaque:

Gean Loureiro foi recebido no gabinete do prefeito João Rodrigues. Foto: Divulgação.

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