O governador licenciado Carlos Moisés (Republicanos) e o ex-prefeito Gean Loureiro (União Brasil) tem algo em comum – e não é a relação de idas e vindas com Eron Giordani (Psd), ex-secretário de um e candidato a vice na chapa do outro. Por motivos diferentes, ambos buscam uma faixa similar do eleitorado catarinense na disputa pelo governo estadual: aquele que pretende votar desatrelado da polarização nacional entre o presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal) e o ex-presidente Lula (Pt). Eis porque ambos partiram para o confronto aberto nesta última semana de campanha eleitoral do primeiro turno que mostra outros três postulantes com chance real de chegar à definição no dia 30 de outubro.

Há algumas semanas a gente via algo parecido na disputa entre os senadores Jorginho Mello (Partido Liberal) e Esperidião Amin (Progressistas) pelo voto atrelado ao bolsonarismo. As propagandas na televisão, especialmente as de Amin, passaram a questionar a lealdade do adversário ao colega de partido, apontando a época em que essa lealdade era dada à ex-presidente Dilma Rousseff (Pt). Embalado pelo 22 que compartilha com Bolsonaro, Jorginho não retrucou no horário eleitoral, mas tem aceitado o confronto nos debates. As pesquisas indicam o candidato do Partido Liberal subindo e Amin estável.

No lado da esquerda, o ex-deputado federal Décio Lima (Pt) não tem com quem disputar Lula. Precisa é que seu nome seja atrelado ao do líder petista na urna. Isso tem lhe garantido um crescimento que ainda não foi suficiente para ombrear com Jorginho e Moisés na última rodada do Ipec, mas que já o aproxima de Amin e Gean em empate técnico. A estratégia continua sendo correr sozinho pela esquerda e tentar bloquear qualquer conversa que surja sobre voto útil no Estado – esse papo só vale para os lulistas quando se fala em eleição nacional, não é mesmo?

É nesse cenário que Gean chamou Moisés para o confronto direto. O primeiro golpe indica que a pesquisa Ipec aponta o cenário real: é o ex-prefeito que precisa ultrapassar o governador. Para isso, a campanha deixou de lado alguns manuais de marketing político e usou todo o espaço que tem no programa eleitoral de segunda-feira para criticar a gestão de Moisés na saúde, grande calo do atual governo. Com direito a nova apresentadora, narração grave, trechos de entrevistas ruins do governador – a contrariedade que Moisés nunca consegue disfarçar quando questionado – e toda uma identidade visual que sequer mostra Gean como autor da peça.

O caso dos respiradores fantasmas foi citado de passagem, sob a alcunha “corrupção na saúde”, mas o foco era gestão. A ideia a transmitir: um governador insensível e burocrático diante da morte de crianças por falta de Uti, especialmente no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis. Um governador que vive a inusitada situação de utilizar uma aeronave-ambulância para compromissos administrativos, políticos e familiares.

A campanha de Moisés não demorou para rebater. Ainda na segunda-feira, no programa da noite, estava no ar a peça em que o eleitor é instado a procurar no Google os três momentos mais críticos da gestão de Gean na prefeitura da Capital. A ideia já havia sido testada em debates e gerado picos de pesquisas na ferramenta de busca. As sugestões de pesquisa levam para a prisão preventiva de Gean por um dia na deflagração da Operação Chabu pela Polícia Federal em 2020, a viagem à Cancun em meio à pandemia e o episódio em que o ex-prefeito foi filmado fazendo sexo com uma comissionada em um gabinete da prefeitura.

Atacado como gestor, Moisés contragolpeia no campo moral. A Operação Chabu investigava uma suposta quadrilha formada por empresários, políticos e agentes de segurança para vazar informações sobre operações da Pf. No que tocava a Gean, a investigação foi arquivada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ficou o Google. Da mesma forma que o site registra a viagem polêmica e a cena que já foi utilizada na campanha de reeleição para prefeito e que – até agora – havia resultado em um pedido público de desculpas à ex-primeira-dama e o pagamento de uma multa em acordo com o Ministério Público de Santa Catarina.

Na noite desta terça-feira, o debate direto entre ambos deve continuar. Na televisão e no rádio, é importante observar o que vão dizer os trackings – as pesquisas diárias contratadas pelas campanhas para aferir o que dá ou não resultado junto ao eleitor. É uma disputa direta por uma vaga no segundo. Travada de uma forma tão arriscada que pode ter como efeito, para felicidade de Jorginho, Amin e/ou Décio, um grande abraço de afogado.


Sobre a foto em destaque:

Montagem sobre as propagandas de Moisés e Gean. Fotos: Reprodução.

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