A briga escancarada pela condição de candidato de Jair Bolsonaro (Partido Liberal) em Santa Catarina, que vinha sendo travada de forma até certo ponto amena nos debates e nas redes sociais, chegou com força aos tribunais. O candidato a governador Jorginho Mello (Partido Liberal) conseguiu na tarde de sexta-feira uma decisão liminar que impede o adversário Gean Loureiro (União) e candidatos de sua coligação de usarem a figura do presidente na conquista do voto. A juíza Ana Cristina da Rosa Grasso acolheu ao pedido do Partido Liberal de Santa Catarina que questionou o uso em meios impressos e redes sociais da imagem do presidente e candidato à reeleição sob o slogan “esse é nosso time!” – ignorando que o União Brasil tem como candidata a presidente a senadora Soraya Thronicke (União do Mato Grosso do Sul).
Curiosamente, a decisão veio na mesma sexta-feira em que Gean Loureiro, em vídeo com o prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd), abria voto em Bolsonaro no primeiro e no segundo turno. A peça não foi utilizada nas redes sociais do candidato, mas circula entre apoiadores e perfis ligados ao União. Nele, Rodrigues, notório bolsonarista, pede ao candidato a governador que se posicione sobre a eleição presidencial. Durante todo o período de pré-campanha, Gean disse que daria essa resposta “no momento certo” e que respeitava a pré-candidatura do presidente nacional do partido, Luciano Bivar, retirada na reta final das convenções, quando foi lançada em seu lugar a senadora sul-matogrossense.
– Vou começar esse vídeo deixando muito claro. Eu já votei no presidente Bolsonaro e meu voto para presidente vai ser em Jair Messias Bolsonaro. Nós temos uma campanha para governador, eu vou apresentar minhas qualidades. Eventualmente eu posso até discordar de uma posição ou outra, mas eu tenho que reconhecer o trabalho do presidente Bolsonaro para o Brasil e para Santa Catarina. E a gente vai estar trabalhando juntos nessa eleição – disse Gean.
Na sequência, é a vez de João Rodrigues emendar, se referindo a “três palanques de Bolsonaro em Santa Catarina” – referência às candidaturas de Jorginho Mello e também de Esperidião Amin, do Progressistas, partido que está coligado com o Partido Liberal na disputa presidencial.
– O presidente Bolsonaro tem três palanques em Santa Catarina. Isso é importante e é bom para o país, é bom para a eleição dele. Agora, já estão formados os três palanques. São três candidatos. Todos nós estamos com o presidente Bolsonaro. Agora você escolhe entre eles quem tem a melhor proposta, quem pode fazer mais por Santa Catarina. O debate é esse, é governador. Bolsonaro o Gean é, eu também sou e os três palanques também são – afirmou João Rodrigues.
Estar no mesmo partido de Bolsonaro e compartilhar com ele o número de urna é a grande aliança – aliás, a única – que Jorginho conseguiu nesta campanha. Mostra que vai lutar com ela ao buscar na Justiça Eleitoral que sua imagem não seja compartilhada por candidatos cujos partidos não integrem a coligação presidencial. É direito dele, referendado na liminar da juíza Ana Cristina da Rosa Grasso. Jorginho já tem que enfrentar a “guarda compartilhada” de Bolsonaro com Amin, nos debates e redes sociais, e a aliança nacional entre Partido Liberal e Progressistas permite isso. Como o Republicanos também está coligado pela reeleição do presidente, o governador Carlos Moisés também teria o direito de usar a imagem de Bolsonaro. A questão até é debatida internamente, mas há dúvidas sobre os ganhos eleitorais de entrar nessa disputa. Pelo menos antes da “hora certa”, para usar a expressão que Gean apresentou nos tempos de pré-campanha.
Curioso é perceber que essa hora certa para o candidato do União se apresente tão cedo, ainda no começo da campanha oficial, antes mesmo que se verifique o potencial de crescimento nas pesquisas pela campanha em rádio e televisão. Algo que o mundo da política pode entender como o acendimento de um sinal amarelo no comitê de Gean. Precedido, quase que imediatamente por um sinal vermelho da juíza eleitoral ao uso de Bolsonaro na campanha da aliança União/Psd/Patriota.