A política de Florianópolis apostou alto e colheu pouco nas eleições deste ano. Reeleito ainda em primeiro turno em 2020, Gean Loureiro (União Brasil) renunciou ao cargo em abril deste ano disposto a dar um salto para o governo estadual. Foi o mais votado na Capital, mas acabou em quarto lugar na disputa e viu aliados ficarem pelo caminho na disputa de outros cargos. Ao mesmo tempo, movimentos de renovação política deixaram a cidade pela primeira vez sem deputado federal e com bancada menor na Assembleia Legislativa. O excesso de candidatos e o voto para lideranças de outras regiões fez muita gente bater na trave na briga pelos mandatos.
Das urnas do primeiro turno disputado em 2 de outubro, o que se vislumbra é um cenário diferente para as eleições municipais. Candidato em 2012, 2016 e 2020, Gean Loureiro não poderá estar novamente na disputa. A raia da continuidade está aberta para o prefeito Topázio Neto (Psd), que assumiu com a renúncia de Gean. A esquerda, que concentrou esforços em 2020 na candidatura de Elson Pereira (Psol), segundo colocado, agora vê despontar o vereador e deputado estadual eleito Marquito como principal nomes para a disputar. À direita, mesmo sem vitória na tentativa de se eleger deputado federal, Bruno Souza (Novo) desponta como maior potencial eleitoral em uma cidade em que o Partido Liberal (Pl) de Jair Bolsonaro ainda não encontrou uma liderança local de destaque.
O que redelimita os campos políticos na Capital é a percepção, confirmada nas urnas, de que a influência do bolsonarismo é menor do que a constatada nas demais regiões do Estado. Em Florianópolis, Bolsonaro venceu Lula (Pt) por uma margem estreita no primeiro turno: 45,6% a 42,4%. Números que indicam espaço para construção de candidaturas ligadas aos dois polos nacionais. Sem mandato, Bruno Souza deve ser procurado por legendas como Pl e o Republicanos de olho na eleição municipal. Com a conquista da vaga na Alesc dois anos após ter sido o vereador mais votado de Florianópolis, Marquito torna-se o nome natural das esquerdas.
Sai chamuscada também a liderança dos senadores Esperidião Amin (Progressistas) e Dário Berger (Psb). O primeiro, teve apenas 4,3% dos votos na cidade que já foi seu principal reduto eleitoral – além de não ver reeleitos a deputada federal Angela Amin e o deputado estadual João Amin. É difícil imaginar que um deles esteja na disputa pela prefeitura em 2024. Enquanto isso, Dário Berger fez uma guinada à esquerda para ser o candidato de Lula no Estado. Em Florianópolis, onde foi prefeito, ficou atrás do bolsonarista e senador eleito Jorge Seif (Pl, com 30,7%) e acabou ficando pouco à frente (20,6% a 17,55) do vereador Afrânio Boppré, do Psol, que reuniu os votos esquerdistas que não assumiram Dário como candidato. Essa resistência pode se repetir em 2024 caso o senador do Psb decida retomar na Capital sua carreira política.
Na situação, os aliados de Gean lambem as feridas. Os ex-secretários Ed Pereira e Constâncio Maciel, ambos do União, ficaram próximos de conquistar as vagas que disputaram na Câmara dos Deputados e na Alesc, mas acabaram vítimas de pulverização de votos entre aliados. Ed foi o mais votado na cidade e ficou a 6,2 mil votos de alcançar a votação mínima de 20% do quociente eleitoral e assim assumir a cadeira que a votação do União Brasil garantiu, mas perdeu por não ter candidatos habilitados a assumir. Votos que disputou com o ex-deputado federal Paulo Bornhausen (Psd), oitavo mais votado com 8,4 mil, também com apoio de setores da prefeitura. Ex-secretário da Fazenda, Constâncio era a aposta de Gean para ter uma base na Alesc caso não vencesse a disputa pelo Estado. Ficou na segunda suplência, a 2,2 mil votos da vaga, enquanto também ex-secretário e vereador Gabrielzinho (Podemos) fazia pouco úteis 6,9 mil votos em Florianópolis.
Aliás, não foram poucos os candidatos que quase conseguiram cadeiras que mudariam o cenário de fragilização da representação política da Capital. Na Câmara dos Deputados, além de Ed Pereira, outros três nomes também beliscaram o poder. Para Bruno Souza, faltaram 1,3 mil na disputa com o deputado federal reeleito Gilson Marques (Novo, de Pomerode). A vereadora petista Carla Ayres, terceira mais votada em Florianópolis, não conquistou a cadeira por não ter alcançado a votação mínima de 20% do quociente eleitoral. Faltaram 10 mil votos, que poderiam ter vindo dos 12,3 mil votos que a deputada federal eleita Ana Paula Lima (Pt, de Blumenau) e dos 7,9 mil do deputado federal reeleito Pedro Uczai (Pt, de Chapécó), ambos na lista dos 10 mais votados do Capital. Ana Paula e Uczai venceriam sem os votos de Florianópolis.
Também foi vítima da regra dos 20% de votação mínima a deputada federal e ex-prefeita Angela Amin. A votação do Progressistas era suficiente para conquistar uma cadeira, mas faltaram à experiente parlamentar 11,2 mil votos para que alcançasse os parâmetros da legislação. É um número semelhante à perda de votação de Angela entre 2018 e agora. Quem nem beliscou a continuidade em Brasília foi o radialista Hélio Costa, recordista de votos quatro anos atrás e personagem de um esvaziamento eleitoral impressionante: foi apenas o 22° mais votado em Florianópolis este ano, uma queda de de 44,1 mil para 3,7 mil votos. Em nível estadual, foram 18,5 mil votos, pouco mais de 10% da histórica votação de 2018.
Na Assembleia Legislativa, a representação de Florianópolis ficou menor e foi salva pelos votos de outras regiões, especialmente os ligados a igrejas evangélicas. A atual bancada tem seis titulares com domicílio eleitoral na Capital e ano que vem serão cinco. Na prática, no entanto, apenas os estreantes Marquito e Mário Motta (Psd), primeiro e segundo mais votados, tiveram peso no voto regional. Reeleitos, Sérgio Motta (Republicanos), Marcos Vieira (Psdb) e Jair Miotto (União) não ficaram entre os 10 mais votados na Capital. Motta representa a Igreja Universal, enquanto Miotto é o nome da Igreja Quadrangular. Vieira tem seu eleitorado espalhado pela região Oeste.
Também na disputa pela Alesc, quatro nomes de Florianópolis chegaram muito perto das vagas na matemática eleitoral – um deles, já citado, Constâncio Maciel. O ex-vereador e terceiro colocado na disputa pela prefeitura em 2020, Pedrão voltou ao Progressistas para concorrer a deputado estadual e ficou na primeira suplência por apenas 1.465 votos. Acabou dividindo votos com o deputado estadual João Amin, que não ficou entre os 10 mais votados. A soma da votação de ambos garantiria uma cadeira com folga. Pelo Republicanos, Leandro Lima foi vítima da regra dos 20% – faltaram 3,4 mil votos. Alex Brasil ficou a 5,3 mil votos da cadeira na Alesc – quem aproveitou a onda Bolsonaro na cidade foi a recordista estadual Ana Campagnolo (Pl), que recebeu na cidade 19,5 mil de seus 196,5 mil votos.
Sobre a foto em destaque:
Centro de Florianópolis. Foto: Ricardo Wolffenbüttel, Secom SC.