Uma das mais importantes peças do tabuleiro eleitoral de 2022 será definida no domingo, quando será realizada a prévia em que será definido o nome do pré-candidato oficial do Psdb à presidência da República. À parte a inútil polêmica sobre o aplicativo utilizado para cadastrar os filiados tucanos e ser instrumento da própria votação, a definição da disputa polarizada pelos governadores João Dória (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) ajudará a clarear os rumos da eleição nacional e também da disputa catarinense, onde o gaúcho recebeu apoio declarado de mais lideranças renomadas. A reta final da disputa, no entanto, indica que quem vai colher os louros serão os tucanos que apostaram em Dória.
O governador paulista conseguiu reverter com muita organização uma tendência em favor de Eduardo Leite que se configurava até outubro. Dos cerca de 40 mil filiados tucanos inscritos para votar domingo, 60% são de São Paulo – um impressionante engajamento de que deve definir a questão entre os tucanos. O segundo Estado com mais tucanos cadastrados é justamente o Rio Grande do Sul, mas com seis vezes menos adesão do que os paulistas. Dória não cuidou apenas que arregimentar seu exército. Apenas em Santa Catarina, duas equipes estavam destacadas para convencer prefeitos e vereadores a migrarem de Leite para o paulista.
Se for confirmada a vitória de Dória no domingo, o quadro nacional ganha um postulante já nacionalmente conhecido, com um mote definido – a vacinação contra covid iniciada antes em São Paulo – e com uma postura de confronto direto contra o presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl) e o ex-presidente Lula (Pt), os polarizadores da disputa até agora. Rejeitado por ambos os lados, Dória parece ancorado nas pesquisas, mesmo sendo amplamente conhecido. Pelo perfil, não cabe como candidato a vice-presidente em uma chapa liderado por outro partido, o que dificulta os consensos de terceira via. Tem longo trabalho pela frente.
Em Santa Catarina, a pré-candidatura de Dória muda a posição e dos jogadores do Psdb. O pré-candidato do partido ao governo, Gelson Merisio, apostou tudo na vitória de Leite e trabalhou por isso. Não há liga com Dória. Engajados pelo gaúcho, o deputado estadual Marcos Vieira e o prefeito criciumense Clésio Salvaro têm condições de modular o discurso em favor do correligionário paulista, mas saem derrotados no processo, especialmente se Dória emparelhar a disputa no Estado. A deputada federal Geovânia de Sá, presidente do Psdb-SC, também sai chamuscada pela empolgação de palanque que pareceu adesão oficial a Leite – que provocou reações em sua base evangélica espertamente utilizadas por futuros adversários no mesmo campo.
Quem ganha?
Os dois nomes que se engajaram na campanha de Dória em Santa Catarina quando tudo caminhava para uma adesão praticamente oficial do Psdb-SC a Eduardo Leite: o ex-senador Paulo Bauer e o ex-ministro Vinicius Lummert. Em condições normais de temperatura e pressão, ambos estariam descartados do jogo da majoritária. Bauer, pelo quinto lugar na tentativa de reeleição ao Senado em 2018 e pela perda quase total de influência no partido. Lummertz, filiado em 2019, pelo breve histórico partidário. Se Dória vence a prévia e consolida sua candidatura, ambos tornam-se as opções naturais para oferecer um palanque catarinense a Dória que provavelmente nenhum outro tucano local estará interessado em construir.
Ao mesmo tempo, podem ser as peças de composição caso um candidato a governador catarinense tope apoiar Dória. Hoje não é um cenário muito provável. O senador Jorginho Mello (Pl) terá o presidente Bolsonaro; o governador Carlos Moisés (ex-Psl) teve atritos recentes com o paulista no fórum de governadores justamente por não querer ser peça de ataques diretos ao presidente; Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil) pisca para o Podemos de Sérgio Moro; o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) vai por onde andar Gilberto Kassab, que está longe de Dória em São Paulo e no Brasil. Poucas alternativas, muitas conversas ainda por serem feitas. Se vencer a prévia, o paulista terá mais desenvoltura para iniciá-las. Teimoso, obstinado e extremamente organizado, a disputa interna do Psdb mostra que ele é.
Sobre a foto em destaque:
Evento de João Dória em Florianópolis mostrou Bauer e Lummertz engajados em sua pré-candidatura. Foto: Antônio Carlos Mafalda, Divulgação.