A disputa interna no Podemos

Oficialmente foram questões familiares que levaram o prefeito Mário Hildebrandt a cancelar a reunião que a executiva do Podemos faria em Blumenau na segunda-feira para votar a aprovação de uma aliança com o União Brasil do prefeito florianopolitano Gean Loureiro. Nos bastidores, no entanto, o partido viveu dias intensos de uma disputa interna entre os que desejam aprovar a aliança precoce e quem quer deixar esse tipo de decisão mais para frente. A polarização escancarou as posições opostas do presidente estadual Camilo Martins, que não queria decidir agora, e o presidente de honra Paulo Bornhausen.

Aliás, haja cacique

O Podemos tem presidente de honra, presidente estadual e presidente do conselho político, que é Mário Hildebrandt.

Virada

A carta assinada pela Gean Loureiro e o deputado federal Fábio Schiochet, como presidentes do Democratas-SC e do Psl-SC, partidos que vão originar o União Brasil, foi levada pelo prefeito de Blumenau à reunião virtual da executiva estadual no dia 17 de janeiro. A intenção era de que fosse analisada já naquele encontro, mas prevaleceu a posição de fazer a definição em reunião presencial, que aconteceria na segunda em Blumenau. Naquele momento, a tese da aliança precoce defendida por Paulo Bornhausen tinha boa vantagem para ser aprovada. Mas Camilo Martins ganhou uma semana para reverter votos – o que fez, inclusive, com que fosse a Balneário Camboriú levantar armistício com o pré-candidato do partido ao governo, Fabrício Oliveira – que vinha reclamando publicamente dos gestos de aproximação do dirigente com o governador Carlos Moisés (ex-Psl). Assim, quando chegou a segunda-feira, o jogo estava virado, com pequena vantagem para a tese de não aceitar agora a proposta do União Brasil. A suspensão da reunião impediu que ficasse exposta essa disputa interna no partido.

Fala, Fabrício

Curiosamente, Fabrício Oliveira era considerado um voto alinhado a Paulo Bornhausen, assim como Mário Hildebrandt. Para tirar essa dúvida, conversei com no final da tarde de terça-feira. O prefeito de Balneário Camboriú criticou a forma apressada como seria dada a definição da aliança ao União Brasil e demonstrou receio de que atrapalhasse as conversas com outros partidos de maior capilaridade, como o Psd e o Progressistas. Veja o que disse Fabrício:

“Da forma como foi feita, de certa maneira, ela poderia excluir possíveis aliados que podem estar conosco dentro de um projeto maior. Então, quando nós fazemos uma aliança, ela deve colocar as forças sem personalizar em um nome, deve ser personalizada em um conceito, em um projeto. Então, quando você faz uma aliança, você pode excluir as demais forças partidárias. E a nossa intenção é buscar ampliar.”

Ressalvas à aproximação com Moisés

Esse armistício entre Fabrício e Camilo não significa que o pré-candidato esteja trilhando o mesmo caminho de aproximação com Moisés. Ele mantem afiado o discurso de oposição ao atual governo. Disse que repetiu ao presidente estadual que não gostou da presença dele no encontro realizado na Casa d’Agronômica. Na ocasião, três dos quatro prefeitos do Podemos foram assinar a adesão ao Plano 1000. O único ausente foi Fabrício – segundo ele, por não ser convidado.

“Eu acho que os prefeitos devem fazer parte. Discordo da forma com que foi conduzida essa reunião. A presença do presidente do partido acaba passando uma mensagem distorcida. Já conversamos, inclusive, eu e o Camilo sobre isso. Eu não fui convidado. Por questões óbvias, o governador exclui conversa com Balneário Camboriú, ainda que seja institucional.”

Interesse e direito

A ausência de Fabrício do encontro na Casa d’Agronômica e as críticas a Moisés não significam que ele abra mãos dos recursos prometidos pelo Plano 1000.

“Balneário Camboriú não só tem o interesse como tem o direito de que os recursos possam ser destinados sem que se olhe o calendário e a geografia eleitoral.”


Depois das críticas de Paulo Afonso, Antídio abraça Neuto

No mesmo dia em que foi cobrado pelo ex-governador Paulo Afonso Vieira por falta de identidade com a história do Mdb, o prefeito Antídio Lunelli – pré-candidato a governador – tomou um café, ouviu histórias e conselhos e deu um abraço no ex-senador Neuto de Conto, outro histórico do partido. Ambos se entenderam bem ao conversarem sobre as origens rurais semelhantes – colonos, como diz o prefeito de Jaraguá do Sul. Neuto de Conto foi deputado estadual e federal entre 1984 e 1998 e chegou a ser secretário da Fazenda no governo do próprio Paulo Afonso. Em 2002, foi suplente na chapa de Leonel Pavan (Psdb) ao Senado, vaga que assumiu com a renúncia do tucano para assumir o cargo de vice-governador em 2007, no governo Luiz Henrique da Silveira.

Conselho de histórico

Ao contrário de Paulo Afonso, que vê em Antídio um defensor do regime militar e de posições conservadoras demais para o Mdb, o ex-senador mostrou entusiasmo pela candidatura do prefeito de Jaraguá do Sul. Deu uma dica: para ganhar o Mdb é preciso dizer que vai respeitar qualquer decisão que o Mdb tome. E Antídio garantiu que assim será.

Cenário montado

Com a saída provável do senador Dário Berger para o Psb e com o deputado federal Celso Maldaner falando mais de Antídio do que da própria pré-candidatura, está claro que o cenário para a prévia emedebista marcada para 19 de fevereiro é o da inscrição única do prefeito de Jaraguá do Sul e a consequente aclamação de seu nome como pré-candidato único. Isso, é claro, se os defensores do apoio e/ou filiação do governador Carlos Moisés ao partido não saírem da toca até lá.

À espera

Segunda em Joinville, terça em Florianópolis, hoje em Criciúma, Antídio segue aproveitando a licença do cargo de prefeito para rodar o Estado e consolidar o projeto. Tirar da toca do apoiadores de Moisés é um dos efeitos esperados.

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