Jair Bolsonaro (sem partido) e Jorginho Mello (Pl) compartilham um sonho – além, é claro, de suas respectivas vitórias na disputas pela Presidência da República e pelo governo do Estado em 2022. Ambos desejam que o ululante empresário Luciano Hang, das lojas Havan, seja candidato a senador por Santa Catarina. O presidente teria um aliado fiel e emblemático na disputa catarinense e, em caso de reeleição e vitória do empresário, um senador aliado e disposto ao confronto. Por sua vez, Jorginho daria a seu palanque o tom inegável e incontestável de chapa oficial dos bolsonaristas, seu grande trunfo para a disputa do ano que vem no Estado.
No entanto, para lamento de ambos, Hang não dá sinal algum de que deseje entrar agora no mundo da política partidária, das eleições e do Congresso Nacional.
É essa sinalização que atiça e assanha quatro nomes que lutam – cada um à sua maneira – para conquistar a condição de plano B no coração de Bolsonaro e no pragmático planejamento de Jorginho. São eles, em ordem alfabética para evitar ciúmes: os deputados federais Caroline de Toni (Psl) e Daniel Freitas (Psl), o secretário nacional da Pesca Jorge Seif (Pl) e o deputado estadual Kennedy Nunes (Ptb).
Eles disputam internamente uma condição considerada invejável para a disputa de 2022. Bolsonaro tem dito que dará mais importância às candidaturas ao Senado que às de governador, de olho em conquistar maioria na câmara alta caso seja reeleito presidente. Esse apoio é considerado uma ascensão à condição de favorito para qualquer candidato que ele apoie para o cargo em 2022, considerando ser uma disputa majoritária sem segundo turno e com expectativa de múltiplas candidaturas.
A disputa vinha devagar até os últimos meses, apenas com a intenção declarada de Jorge Seif – presença constante nas lives de Bolsonaro e apelidado de “filho 06” – de concorrer ao cargo. No final de abril, ele trocou o Psl pelo Pl e conta com uma suposta de promessa do presidente de que seria o candidato em Santa Catarina caso Hang não tope a empreitada. Nas últimas semanas, Seif tentou mostrar mais força no jogo do Senado, aproximando-se da bolsonarista Júlia Zanatta (Pl), com quem participou de um almoço com Bolsonaro e fez um vídeo com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (Psl-SP).
A existência de uma disputa pela vaga ficou mais clara graças aos movimentos nada discretos de Kennedy Nunes em um campo em que os adversários têm menos traquejo: a construção política. A partir da Assembleia Legislativa, onde vive seu quarto mandato como deputado estadual, Kennedy constrói o Ptb, legenda que passou a comandar em Santa Catarina em junho – filiado em Brasília pelo comandante nacional da sigla, o ex-deputado federal Roberto Jefferson. Com a legenda nas mãos, o parlamentar se aproximou dos colegas Ana Campagnolo, Jessé Lopes e Felipe Estevão, eleitos na onda Bolsonaro em 2018 e de saída do Psl. Nenhuma das adesões está confirmada, mas assessores diretos dos parlamentares começaram a preencher o ninho petebista.
Os movimentos de Kennedy e a falta de articulação de base de Seif tiraram Caroline de Toni e Daniel Freitas do armário. Ambos colocaram seus nomes à disposição de Bolsonaro na passagem do presidente por Chapecó no final de junho para a chamada motociata. Dois dias antes, em entrevista à Rádio Som Maior, Caroline declarou:
– O meu pré-candidato ao Senado seria o Luciano Hang, mas ele já sinalizou que não vai. E nesse sentido, vamos ver quem que o presidente Bolsonaro vai indicar pra chapa majoritária ao senado, né? Eu já terei idade (35 anos é a idade mínima para o cargo) e se o presidente Bolsonaro achar conveniente, eu poderia ir a pedido dele.
Uma semana depois, no mesmo microfone, foi a vez de Daniel Freitas apresentar-se:
– Coloquei a minha disposição para o presidente Bolsonaro de uma provável candidatura ao Senado, não por querer ir ao Senado, mas preocupado com o cenário político. Hoje, o principal player do presidente Bolsonaro para disputar o governo em Santa Catarina é também o maior defensor do presidente no Senado, que é o senador Jorginho Melo. Me preocupa a falta da defesa de alguém legítimo, aliado do presidente, pelas bandeiras que o presidente defende.
É uma disputa que vale a pena ser observada nos próximos meses e que sempre pode crescer. Por exemplo, Lucas Esmeraldino (ex-Psl), o “senador do Bolsonaro” de 2018, sonha em voltar a usar o mote para buscar novamente o cadeira que perdeu para Jorginho por minguados 18 mil votos.
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Sobre as fotos em destaque:
Kennedy Nunes, Jorge Seif, Daniel Freitas e Caroline de Toni: quem será o escolhido de Bolsonaro? Fotos retiradas dos perfis de Instagram de Kennedy Nunes, Jorge Seif, Daniel Freitas e Caroline de Toni.