Até setembro, a possibilidade de que o senador Esperidião Amin encarasse sua quinta eleição para o governo do Estado – vencedor em 1982 e 1998 – causava alguma reação apenas dentro do Progressistas (Pp), pairando sobre as pré-candidaturas de Joares Ponticelli e Jorge Boeira. Nos demais partidos e projetos, era como se isso não fosse uma possibilidade prática a ameaçar pretensões. Em algumas pesquisas, sequer constava o nome de Amin nos diversos cenários apresentados ao eleitor.

As chances reais de que o presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl) migre para o Pp fizeram com quem o fator Esperidião Amin passasse a ser levado em conta fora das hostes do próprio partido – que já conhece de cor os gestos, palavras e silêncios que o senador usa quando está querendo entrar no jogo. Um dos maiores personagens políticos da história de Santa Catarina, Amin é tão espaçoso no contexto pré-eleitoral que muda não apenas o jogo, mas o tabuleiro todo. Seus movimentos afetam especialmente as pré-candidaturas do senador Jorginho Mello (Pl), do prefeito florianopolitano Gean Loureiro (Democratas, em breve União Brasil) e do governador Carlos Moisés (ex-Psl).

O efeito sobre Jorginho Mello é o primeiro e mais evidente. O maior alicerce de seu projeto eleitoral em 2022 é o apoio de Bolsonaro, o maior cabo-eleitoral do Estado. Para isso, precisa de um gesto enfático do presidente e da conquista das lideranças bolsonaristas para sua chapa. Vinha trabalhando bem esses dois flancos, seja pela atuação no Senado (especialmente como membro governista da Cpi da Covid), seja pelas articulações para atrair eleitos da Onda 17 para a órbita do Pl ou possíveis aliados, como o Ptb de Kennedy Nunes.

No entanto, Amin também começou a trabalhar sua forma de aproximação com Bolsonaro e seus apoiadores, especialmente através de temas como a defesa do voto impresso e o questionamento aberto da demora para que seja pautada da indicação do ex-ministro da Justiça André Mendonça para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (Stf). Já brinquei aqui que é o jeito Amin de subir na garupa da moto – referência à participação de Jorginho nas motociatas de Chapecó e Florianópolis. Ao mesmo tempo, o Pp passou a ser alternativa para parte das lideranças que devem deixar o Psl. O próprio Amin ressalta que o caminho pode ser facilitado pelo fato de que nomes como os deputados federais Daniel Freitas e Caroline de Toni já integraram o Pp no passado – saíram por falta de espaço em suas regiões.

O mais difícil para Jorginho seria ter que conviver com uma candidatura adversária que estamparia o mesmo número de urna do presidente – o 11 seria de Bolsonaro e Amin. O que conta a seu favor, no entanto, é que o progressista não tem aliados claros no time bolsonarista e nas legendas ligadas a ele. Hoje, Amin conversa com o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) e o ex-deputado estadual Gelson Merisio (Psdb), que não estarão alinhados a Bolsonaro em 2022. Conversa muito também com o governador Carlos Moisés, com quem tem boa relação. Mesmo assim, já deixou claro que caberá ao governador escolher entre Mdb e Pp como parceiros em algum momento.

Assim, Amin no jogo pode ser a senha que falta para que Moisés dê uma guinada em direção ao Mdb. Com o 11 no tabuleiro, o 15 faz-se necessário – com número e time engajados. Essa opção é facilitada pelas evasivas que recebeu de Republicanos e Podemos, os partidos mais leves que quem conversou com as direções nacionais nas últimas semanas. Outra influência do fator Amin em avaliação em setores do Centro Administrativo é de que o senador pode avançar em parte do eleitorado que poderia ser simpático ao governador.

Além de Jorginho e Moisés, a entrada efetiva de Amin no tabuleiro pode afetar a largada de Gean Loureiro em Florianópolis. Embora o momento eleitoral do prefeito reeleito em primeiro turno ano passado seja melhor que o dos Amin, ambos compartilham a Capital e os municípios do entorno como base eleitoral. Gean, mesmo anabolizado pela fusão entre Democratas e Psl (futuro União Brasil), ainda tem muita dificuldade de ser visto como candidato real no interior do Estado. Isso faz com que uma forte largada na Grande Florianópolis seja imprescindível, o que pode ser atrapalhado pela presença de Amin.

Há outros fatores em jogo, inclusive o desafio sempre posto ao senador sobre a necessidade de aglutinar apoios. Em 2018, Amin teve o nome aprovado na convenção do Pp para concorrer ao governo, mas acabou recuando por não conseguir atrair mais aliados do que os frágeis Democratas e Pv. Tivesse ousado, talvez tivesse sido recompensado com a chance de apoio de Bolsonaro. Certamente, não vai deixar passar a chance se ela aparecer concretamente em sua frente.


Sobre a foto em destaque:

Esperidião Amin mostrou-se animado e à vontade no acampamento da Juventude do Pp, realizado no final de semana em Palmitos. Foto: Renan Schlickmann, Divulgação.


Amin no Cabeça de Político de agosto – reveja:

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