No breve evento de apresentação dos primeiros 11 nomes de seu secretariado, o governador eleito Jorginho Mello (Partido Liberal) mostrou a cara que pretende dar ao novo governo. As definições sobre pastas estruturais como Fazenda, Educação, Saúde, Agricultura e Administração indicam que o futuro inquilino da Casa d’Agronômica está pouco disposto a fazer concessões à política e aliados na montagem de seu governo. Será um governo de Jorginho Mello, mesmo nos espaços em que fizer alguma composição com entidades da sociedade civil e – no segundo momento – partidos políticos.
No discurso de apresentação, governador eleito reafirmou o desejo de ter um time de secretários que possa trabalhar desde o primeiro dia. A escolha de Cleverson Siewert para a Secretaria de Fazenda foi encara internamente e externamente como um belo gol do novo governo. Durante semanas, havia a impressão de que Jorginho não tinha opções para a pasta que controla arrecadação e gastos do Estado e que poderia até manter o atual titular, Paulo Eli. Em silêncio, no entanto, a costura em torno do ex-secretário da pasta (governo Leonel Pavan) e ex-presidente da Celesc (governo Raimundo Colombo) foi sendo feita por Jorginho e seu filho, Filipe Mello. A primeira conversa aconteceu dia 24 de novembro. O sim de Cleverson veio na sexta-feira e seu nome só começou a vazar no domingo. Exemplos do estilo disciplinado e leal do novo secretário, antigo integrante dos chamados “menudos” de Luiz Henrique da Silveira.
Aliás, Luiz Henrique parece ser uma espécie de conselheiro espiritual do novo mandato. Confirmada na Saúde, a deputada federal reeleita Carmen Zanotto (Cidadania) ocupou a pasta no segundo mandato do peemedebista falecido em 2015. Referendado pelas cooperativas do agronegócio, o ex-deputado federal Valdir Colatto, que vai comandar a Agricultura, foi secretário de Articulação Nacional de LHS. Um conselho que o ex-governador poderia ter dito ao governador eleito é nunca dar ao Mdb mais do que ele precisa. Isso está indicado na primeira leva de nomes e até nos espaços ainda descobertos. Quando os (pe)emedebistas chiavam por espaços maiores no primeiro escalão, Luiz Henrique batia na mesa e dizia “O (P)Mdb já tem o governador”. E foi assim que tocou o segundo mandato com o Pfl (depois Democratas) na Fazenda, na Agricultura e na Administração, enquanto o Psdb tinha Educação, Saúde e a antiga Sol (Turismo, Cultura e Esporte). A pasta mais importante nas mãos do (P)Mdb era a Infraestrutura. Tem tudo para ser novamente esse o grande espaço do partido.
Veja os primeiros nomes do secretariado de Jorginho Mello
De certa forma, Jorginho retoma a tradição política do Estado, com nomes que estiveram nos governos de LHS e Colombo. Quatro anos atrás, boa parte das escolhas do governador eleito Carlos Moisés para o secretariado vinham acompanhadas da pergunta: “quem é?”. Agora, a maior parte das nomeações são auto explicáveis. Carmen e Colatto chegam a suas secretarias sem precisar perguntar nem onde fica o banheiro. São de casa. Não dá para dizer o mesmo sobre Cleverson na Fazenda por causa da interminável reforma do Centro Administrativo, mas ele certamente não terá dificuldades para se achar. As demais escolhas também não surpreendem.
Moisés Diersmann, ex-prefeito de Luzerna e coordenador da transição, tem sido um colaborador discreto e ocupará a discreta Secretaria de Administração. Daniela Porporatti, escolhida para Secretaria Geral de Governo, é o braço-direito do governador eleito nas questões do dia a dia. Na Articulação Nacional, Vânia Franco tem o mesmo perfil. Na Casa Militar, o tenente coronel José Eduardo Vieira traz a experiência de quem atuou no órgão nos governos LHS e Colombo. No comando da Polícia Militar, o coronel Aurélio Pelozato traz a experiência de coordenar situações como a ocupação da força nacional no Rio de Janeiro para realização das Olimpíadas de 2016. Na Educação, o reitor Aristides Cimadon era uma aposta certeira – já era a pessoa a quem Jorginho recorria nos temas de educação.
O bolsonarismo não foi esquecido na primeira leva de secretários de Jorginho, mas até isso veio ao estilo do novo governador. A indicação do deputado federal não-reeleito Coronel Armando (Partido Liberal) atende um pedido do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal), mas também resolve um problema. Com status de secretaria no governo Colombo, a Defesa Civil perdeu força política nos últimos anos. A presença de um ex-deputado federal no comando pode ser um diferencial nessa retomada. Na Procuradoria Geral do Estado, o advogado Márcio Vicari transita entre os bolsonaristas, mas tem currículo e bagagem suficientes para comandar um órgão que pode ser muito refratário a indicações fora da corporação.
Dessa lista toda também é importante ressaltar um não anúncio. Filipe Mello não será secretário de Estado no governo do pai. Isso no Diário Oficial. Ele será uma espécie de secretário sem pasta, responsável pela articulação política e aconselhamento direto do governador eleito. Todas as costuras do secretariado anunciado hoje e dos próximos nomes passam por ele. Até semana passada, a ideia era que ele fosse nomeado para uma pasta que lhe desse liberdade de atuar por toda a máquina, sem o peso burocrático excessivo de uma Casa Civil. Legalmente, não há restrição à nomeação de parentes do governador no primeiro escalão – e apenas no primeiro escalão. Mesmo assim, acabou prevalecendo o entendimento de que nomear o filho poderia gerar um desgaste desnecessário.
Sem caneta e sem pasta, mas ao lado do pai governador eleito, Filipe Mello vai atuar na linha de frente na montagem das demais posições do secretariado do novo governo. O próximo desafio é encaixar os partidos aliados – Mdb e Progressistas devem ter cargos – de forma entrelaçada à eleição da presidência da Assembleia Legislativa. No ato da manhã desta segunda-feira, foi impossível não observar o atual presidente do parlamento estadual, Moacir Sopelsa (Mdb), no palco junto com os secretários anunciados. De certa forma, estava reservado lugar para algum correligionário.
Sobre a foto em destaque:
Jorginho apresenta os primeiros nomes de sua equipe, sob o olhar do emedebista Moacir Sopelsa, presidente da Alesc. Foto: Eduardo Valente, Divulgação.