A passagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por Joinville e Florianópolis no final da semana que passou tem efeitos muito diferentes para as questões políticas nacionais e estaduais. Em plano nacional, foi mais uma demonstração de popularidade junto a um eleitor fiel e interessado em dar demonstrações públicas dessa fidelidade em um momento de confrontação do presidente com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à beira de uma crise institucional. Nessas horas, não há lugar melhor do que Santa Catarina para uma visita presidencial.

O Estado em que Bolsonaro liderou pesquisas pela primeira vez e onde teve uma vitória retumbante em 2018 mostrou que o peso do bolsonarismo é muito forte. A adesão à motociata de Florianópolis impressionou até mesmo integrantes do séquito presidencial, na comparação com as realizadas em outros lugares do país. Amparado pelo carinho de sua torcida, Bolsonaro sentiu-se à vontade para xingar o inimigo da vez – o ministro Luís Roberto Barroso – fora dos microfones. No comício realizado após as voltas de motocicleta pela capital catarinense, o presidente repetiu o que tem dito em sua cruzada contra o sistema eletrônico de votação implantado no Brasil em 1996.

– Quem decide eleições são vocês, não meia-dúzia dentro de uma sala secreta que vai contar e decidir quem ganhou as eleições. Não vai ser um ou dois ministros do STF que vão decidir o destino de uma nação – disse Bolsonaro, que até hoje não apresentou alguma prova de que magistrados possam interferir a totalização dos votos, mas vem usando essa argumentação para afinar o coro dos contentes com o governo federal.

Em Florianópolis, Bolsonaro afina o coro dos contentes. Foto: Alan Santos, Presidência da República.

Mas fora do contexto de curto-circuito da política nacional, a visita de Bolsonaro a Santa Catarina trouxe indicações importantes sobre o palanque oficial dos bolsonaristas no Estado. Para muitos, a popularidade do presidente em Santa Catarina é vista como um bilhete premiado – e disputado. Por isso, o roteiro em Joinville e Florianópolis foi estratégico para o senador Jorginho Mello (Pl), pré-candidato a governador. Outdoors com a foto dele com o presidente e a expressão “fechado com Bolsonaro” foram espalhados pelo roteiro a ser cumprido pelas motocicletas. E, desta vez, Jorginho não precisou dividir a garupa da moto presidencial com ninguém, com aconteceu com o prefeito João Rodrigues (Psd) em Chapecó.

O senador catarinense precisa consolidar o vínculo com Bolsonaro aos olhos dos eleitores fiéis do presidente no Estado. A primeira rodada de pesquisas mostrou Jorginho aquém do que se imagina para um candidato da raia bolsonarista – muito pela presença ostensiva de João Rodrigues, que parece escanteado após a vinda do presidente nacional do Psd, Gilberto Kassab, a Florianópolis. De certa forma, cada um à sua maneira, as vindas de Bolsonaro e Kassab clarearam o cenário. A maior interrogação passa a ser a possibilidade do senador Esperidião Amin (Progressistas) entrar no jogo caso Bolsonaro se filie ao Progressistas. Ele e a deputada federal Angela Amin foram a Joinville participar da etapa pedestre do giro bolsonarista e Amin até ganhou uma dança.

O empresário Luciano Hang parece estar tomando gosto pela ideia de ser candidato ao Senado. É o desejo de Bolsonaro e Jorginho Mello. Foto: Alan Santos, Presidência da República.

Também vai ficando mais claro que o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, só não será o candidato ao Senado oficial de Bolsonaro se não quiser. Os movimentos, falas, gestos e até a motocicleta verde que arranjou para acompanhar o coro dos contentes indicam que ele está tomando gosto pela empreitada. Ele é o preferido do presidente, pela lealdade que demonstra desde a campanha eleitoral passada, e de Jorginho, porque traz um inequívoco tom bolsonarista ao palanque. Sua confirmação, que deve demorar a acontecer, dá fim a luta de lideranças locais do bolsonarismo por esse posto.

Uma disputa interessante em que o deputado estadual Kennedy Nunes vem mostrando que aprendeu algo de articulação política em seus quatro mandatos na Assembleia Legislativa. Ele assumiu o Ptb, uma sigla vazia no Estado, e está conquistando adesões à moda antiga: saliva, promessas, filiações de base, desenho de chapas. Enquanto isso, os deputados federais Daniel Freitas e Caroline de Toni continuam apostando na vinculação direta via redes sociais e em estar perto de Bolsonaro nos eventos, e o secretário nacional da Pesca, Jorge Seif, no Whatsapp.


Sobre a foto em destaque:

Em Florianópolis, Jorginho Mello (Pl) tentou mostrar que a garupa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem um lugar só, enquanto Luciano Hang chegou perto para formar o possível palanque de 2022. Foto: Alan Santos, Presidência da República.

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