Um dos pontos mais marcantes desta eleição catarinense é o duelo à parte entre institutos de pesquisa. Na véspera da segunda rodada do Ipec – instituto formado pelos antigos executivos do Ibope – contratado pela Nsc Comunicação, é grande a expectativa sobre os números que podem ajudar encaminhar a mais aberta disputa pelo governo da história. E também para saber como esses números dialogam com os que estão sendo apurados e divulgados por outros institutos de pesquisa.

É importante ressaltar que o mundo das pesquisas de opinião também vive seu momento de transformação entre as novas e as velhas formas de fazer – como acontece no jornalismo e na própria política. Novos métodos de coleta de informações tornaram mais simples – e mais barato – pesquisar. Baluartes do modelo da entrevista presencial, Datafolha e Ibope (hoje Ipec) hoje convivem e são questionados por institutos que se valem da difusão dos aparelhos de telefonia celular e a internet pela população para fazer levantamentos com mais entrevistados a custo menor.

O problema é quando os números não batem. Na eleição catarinense, o governador licenciado Carlos Moisés (Republicanos) liderou no primeiro Ipec, enquanto Jorginho Mello (Partido Liberal) está na frente nas pesquisas dos institutos Atlas e Mapa, este contratado pela Jovem Pan News Florianópolis, e Gean Loureiro (União) aparece na frente no levantamento do Tulipa, divulgado pelo site SC em Pauta.

Diferenças de metodologia sempre ajudam a explicar números diferentes. A regra deste Upiara.Online desde o princípio é dar destaque a pesquisas de institutos contratados pela Nsc Comunicação e pelo Grupo Nd. Não porque sejam imunes a erros e falhas – e eu como repórter tive que escrever mais de um texto com as justificativas do Ibope para pesquisas muito diferentes do resultado da urna -, mas porque são as duas maiores redes de comunicação do Estado, o que garante ampla circulação dos números, e porque ficam essas empresas com a responsabilidade de avalizar a lisura do instituto contratado.

Fecho esse parêntese e volto para a avaliação de que pequenas nuances podem afetar os resultados. O Ipec, por exemplo, indica apenas os nomes dos candidatos no formulário apresentado aos eleitores pesquisados. Isso pode prejudicar candidatos que dependem da vinculação explícita com o partido para crescer – Jorginho com o Partido Liberal de Jair Bolsonaro, Décio Lima com o Pt de Lula, Odair Tramontin com o Novo. Os demais institutos apontam nome e partido.

Mas há um ponto fora da curva nessa briga de pesquisas. O instituto catarinense Mapa não apenas coloca Jorginho na liderança como também apontou Jorge Seif (Partido Liberal) com folgada vantagem sobre o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) na disputa pelo Senado. Com maior ou menor folga, o experiente lageano lidera nos outros institutos. Perguntei diretamente ao Zeno Vieira, diretor do Mapa, o que justifica essa disparidade. Eis a resposta dele:

– Na nossa aplicação na entrevista apresentamos a nominata dos candidatos associada a sigla e número partidário. Por exemplo, Decio Lima Pt 13, Jorge Seif Pl 22 – diz Zeno.

Ou seja, além do nome e do partido do candidato, o Mapa informa o número da legenda – necessário inclusive para responder a pesquisa telefônica por digitação. Assim, o eleitor que pretende ligar a eleição de Bolsonaro à presidente com candidatos de seu partido no Estado não tem dificuldade nenhuma de saber quem é o 22 na lista.

Se é o melhor método, saberemos na urna no dia 2 de outubro. A ausência da referência partidária pode ter prejudicado o Ibope em 2018, que apontava Moisés, então “candidato do Bolsonaro” em quarto lugar e longe dos líderes na pesquisa divulgada dois dias antes do primeiro turno. Pela regra que apontei antes, nesta terça-feira faço uma análise detalhada do pesquisa Ipec assim que for divulgada pela Nsc Tv.

Mas alerto que este ano, com pesquisas para todos os gostos, o eleitor vai acabar tendo que definir em qual instituto confiar quase com os mesmos critérios que usa para escolher os veículos de jornalismo e os próprios políticos. Essa metodologia é pessoal e intransferível – e o resultado também se comprova depois das eleições.

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