O ex-governador Eduardo Pinho Moreira (Mdb) estava afiado na manhã desta sexta-feira no estúdio da Rádio Som Maior, em Criciúma. Entrevistado por mim e pelo jornalista Adelor Lessa, o emedebista falou sobre a retomada das articulações políticas presenciais após ser vacinado e se recuperar da covid. Admitiu a possibilidade de concorrer a deputado estadual ano que vem e disparou críticas para dentro e fora do Mdb e contou que incentivou o prefeito Clésio Salvaro (Psdb) a disputar a majoritária em 2022.

Na entrevista, Pinho Moreira disse ser contrário ao pagamento de emendas impositivas dos deputados estaduais e disse que não pagou quando era governador, em 2018, para não atrasar a folha de pagamento do Estado. Avaliou que a Assembleia Legislativa, sob presidência do emedebista Mauro de Nadal, “está tendo um papel secundário” na pandemia e que precisa “misturar um pouco o time da renovação com o time da experiência”

Outro dia ficaram duas horas e meia na Assembleia, na tribuna, cumprimentando o aniversário de um município de Santa Catarina. Eu acho que existem temas muito mais importantes – ironizou.

O ex-governador criticou a realização das prévias do Mdb para escolha do candidato a governador do partido – suspensa em função da pandemia e de pressões políticas – e repetiu que os encontros regionais da sigla “são reuniões frias”. Declarou apoio ao senador Dário Berger, antigo adversário interno, ironizou o prefeito Antídio Lunelli, de Jaraguá do Sul, e ignorou o deputado federal Celso Maldaner, presidente estadual do Mdb.

O Dário tem uma trajetória política vitoriosa, foi vereador, duas vezes prefeito de São José, duas vezes prefeito de Florianópolis, é senador. O Antídio é novidade, ele chama atenção, é um empresário muito bem sucedido, muito rico. Também tem méritos, faço uma avaliação. Joinville teve três prefeitos (do MDB). Um coronel reformado do exército, Pedro Ivo. Um professor e advogado, Luiz Henrique. E um empresário muito rico (Udo Döhler). Quem é que deixou legado, o empresário ou os políticos? A política é vocação, não é diversão. Política é para políticos, empresa é para empresário – afirmou.

Pinho Moreira relevou que esteve com o prefeito Clésio Salvaro (Psdb), outro ex-adversário histórico, e que fez um pedido inusitado: de que avaliasse bem a possibilidade de concorrer nas eleições do ano que vem. O emedebista disse que a região Sul teve voz e ocupou cargos importante no governo estadual após sua primeira eleição como vice-governador em 2002 e que a gestação de uma liderança regional dura 20 anos.

– Hoje, o líder do Sul que tem condições de ocupar esse espaço, chama-se Clésio Salvaro. Foi isso que eu fui dizer pra ele. “Clésio, não deixa passar o trem, o bonde agora. Você tem a oportunidade estar em uma majoritária, você leva voto” – disse Pinho Moreira, acrescentando que apoiaria a presença do tucano em uma chapa emedebista.

Ouça a íntegra da entrevista concedida a mim e ao Adelor Lessa. Em destaque abaixo, as respostas do ex-governador às perguntas que fiz:

O senhor tem uma trajetória longa na política catarinense,  ocupou os cargos mais relevantes do Estado, quase todos eles. Como o senhor vê o papel de um ex-governador no atual cenário e se seu caminho for disputar uma vaga na Assembleia Legislativa, no que pode acrescentar?

O poder dos poderes é o Poder Legislativo. O Brasil precisa de mudanças. Nós precisamos é de Congresso forte, nós precisamos de assembleias legislativas fortes, que sejam propositivas. Eu acho que tem que ajudar o administrador a ter conquistas e sair da mesmice. Outro dia ficaram duas horas e meia na Assembleia, na tribuna, cumprimentando o aniversário de um município de Santa Catarina. Eu acho que existem temas muito mais importantes. Na pandemia, a Assembleia está tendo um papel secundário. Eu acho que era necessário uma discussão mais ampla, mais verdadeira. Enfim, acho que esse é um pequeno exemplo do momento que vivemos. É necessário misturar um pouco o time da renovação com o time da experiência. 

Um bom jogador, ele procura a bola. Procura o lugar do campo em que a bola está. A bola hoje está na Assembleia Legislativa, o poder do Estado, especialmente depois das emendas impositivas?

Eu sou da época, exerci dois mandatos de deputado federal, que não existia emenda. Então, o parlamentar em Brasília tinha um papel extremamente importante nas discussões. Eu me lembro, nós vivemos de carvão agora e vivemos eternamente crise de carvão. Acabei virando presidente da Comissão de Minas e Energia porque eu representava essa região e nós conseguimos conquistas extremamente importantes depois do desastre do (ex-presidente Fernando) Collor que cortou o uso do carvão catarinense nas usinas siderúrgicas. E eu fui pra luta. Presidente da comissão, convocava os ministros de Minas e Energia, eles eram obrigados a ir. Havia uma participação efetiva. Isso é um pequeno exemplo de que o Legislativo pode atuar independente das emendas impositivas. Virou uma prática.

Eu não era favorável às emendas impositivas, tanto que me recusei a pagar em 2018 quando era governador. Acho que essa não é a função do parlamentar, o parlamentar tem que legislar, ele é eleito pra isso. Fiscalizar o Executivo e também fazer leis, não apenas aniversário disso, aniversário daquilo. É isso que beneficia a sociedade, que permite o crescimento.

Um bom exemplo é a reforma  previdenciária, que está em discussão. Esse é um tema extremamente importante, que não pode ser votado em um mês. Essa é uma discussão importante, que tem que ser votada com calma, discutindo com a sociedade. Então, eu acho que esse é o papel do legislador e não apenas sair pelas cidades aí, distribuindo recursos aqui ou ali. 

O senhor se posicionou bastante contra essa prévia. Acha que essa prévia vai sair em algum momento? 

Quando lançaram as prévias, no dia 22 de fevereiro, o deputado (federal Rogério) Peninha, lançou e foi aceito. Eu disse, “olha gente, nós não podemos fazer reuniões”. Na semana começavam as reuniões pelo Sul e eu disse “não vou, nós temos uma pandemia, como é que nós vamos lá reunir pessoas? Nós estamos na contramão da história”. O Celso Maldaner não aceitou meu argumento, mas dois dias depois ele suspendeu o roteiro. Então, é o seguinte, nós vivemos um momento atípico.

Eles ficaram bravos comigo, porque eu disse isso outro dia na imprensa que elas são vazias, tem cota de município, não pode levar muita gente. Quem conhece o, a história do Mdb catarinense, nós enchíamos o ambiente com muita vibração, com bandeira, com discussões, com propostas, com ideias, com abraço, com briga. Essa é a nossa história, foi construída assim. Agora tem cota, todo mundo um anjo, são reuniões frias. Eles ficam bravos quando eu digo a verdade, mas fazer o quê?

Esperamos que até outubro haja a segunda dose de vacinas contra o covid. Isso dará mais segurança às pessoas. Foi isso que nós pedimos: retardar. Eu acho que as prévias como propostas são extremamente democráticas, mas muito difíceis de realizar. Dos 187 mil (filiados) vão aparecer para votar 10 mil, 15 mil. Não se iluda. Já fizemos uma disputa uma vez em que votavam os membros dos diretórios de cada município. Aqui em Criciúma, com vergonha, eu disputei na época, eu, Casildo (Maldaner, ex-senador e ex-governado) e o (Edison) Andrino (ex-deputado federal e ex-prefeito de Florianópolis),  mandei botar dois votos pro Casildo, porque seria 45 paro Eduardo. Lá no Oeste era tudo 45 a zero para o Casildo. Então, é uma coisa complicada e que acaba deixando marcas. Tem que ser feita de forma muito clara, com fiscalização, quem sabe com urnas eletrônicas, se nós tivermos regras claras, ela pode ser realizada, mas no oba-oba, eu acho que não deve. 

Chama atenção é que o senhor elogiando o Clésio Salvaro, declarando apoio ao Dário Berger, dizer que está do mesmo lado do Paulo Afonso. São pessoas que momentos importantes da sua carreira estavam do lado do oposto, internamente no MDB ou na disputa regional. A experiência vai aproximando as pessoas que conviveram por muito tempo como antagonistas?

Eu acho que isso é da experiência. Se você vir os países de culturas milenares tem os conselhos de anciãos. E o meu cabelo branco me dá uma condição de já estar nesse conselho. Tem que ter equilíbrio, experiência, tem que aproximar, tem que conciliar. Eu acho que meu momento de briga já passou.

Eu vou conciliar com o Clésio. Ele representa o Sul, como eu pude representar em momentos importantes, em decisões político-administrativas. Ele pode ser. Esse é um processo de construção. Claro que eu gostaria que ele estivesse com o Mdb. O partido dele, tem um candidato a governador (Gelson Merisio) que não é a mesma força que tinha há quatro anos.

Então, o Clésio hoje é o grande eleitor pessoalmente do Psdb, é o prefeito de Criciúma. Eu acho que ele tem que aproveitar esse momento. Como eu disse, o trem passa, espaço político vazio não existe, alguém ocupa. Então, ele tem que refletir sobre isso.

O senhor foi cornetear o Clésio Salvaro por ter entregue a ficha um do Psdb para o Merisio?

(risos) Não, nós falamos sobre as nossas brigas passadas. E ele disse, “Eduardo, vamos olhar para frente, esquecermos essas coisas do passado”. Acho que é em função da idade mesmo, do cabelo branco, que leva a gente a pensar dessa forma. Mas o Merisio está aí e eu respeito o Merisio, viu? Trombei bastante com ele no passado, mas reconheço a capacidade e a competência dele. Ele ficou em primeiro lugar no primeiro turno, né? (risos) Não dá para desconhecer. Claro que ele tinha uma grande influência no governo (de Raimundo Colombo, do Psd). Comandava fortemente e era politicamente influente. Ele não tem mais a mesma influência, isso todos nós sabemos.


Sobre as fotos em destaque:

O ex-governador Eduardo Pinho Moreira (Mdb) concedeu entrevista no estúdio da Rádio Som Maior nesta sexta-feira. Fotos: Vitor Netto, Som Maior.

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