Apesar das especulações, é zero a chance do atual diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (Prf), Silvinei Vasques, assumir a Secretaria de Segurança Pública no governo de Jorginho Mello (Partido Liberal). Seu aproveitamento no governo catarinense tem sido pedido por lideranças bolsonaristas. O diretor-geral da Prf é réu em uma ação movida pelo Ministério Público Federal por uso indevido do cargo, com desvio de finalidade, bem como de símbolos e imagem da instituição policial com o objetivo de favorecer a candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal).
Silvinei Vasques ganhou os holofotes com as operações realizadas pela Prf no segundo turno das eleições, criticadas por dificultarem o deslocamento de eleitores – especialmente na região Nordeste, onde o presidente eleito Lula (Pt) obteve seus melhores resultados. Depois, foi apontado como responsável pela tímida repressão aos bloqueios de rodovias federais promovidos por apoiadores de Bolsonaro inconformados com a derrota do presidente. Nas duas ocasiões, ele foi alvo de decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
O diretor-geral da Prf fez carreira na instituição em Santa Catarina e chegou a ocupar cargos de secretário municipal em São José. Nos bastidores da transição, a fala é de que o presidente Bolsonaro não pediu que ele fosse abrigado no governo Jorginho, mas que houve pedidos nesse sentido de outras lideranças. Na conversa entre Jorginho e Bolsonaro após o segundo turno, o presidente teria manifestado satisfação apenas quando foi citada a intenção de nomear o deputado federal não reeleito Coronel Armando (Partido Liberal), contemporâneo do presidente na Academia Militar das Agulhas Negras. Armando foi anunciado na segunda-feira como futuro secretário da Defesa Civil estadual.
A pasta de segurança pública será recriada na reforma administrativa que Jorginho Mello vai apresentar no início do mandato, quando será extinto o Conselho Superior de Segurança Pública criado no governo Carlos Moisés. O grupo é formado pelos comandantes das forças de segurança (Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar e Polícia Científica – correção: o texto inicialmente apontou, incorretamente, que a Polícia Penal faz parte do colegiado), sendo liderado em sistema de rodízio por um deles a cada ano. A avaliação do governador eleito é de que o modelo não funcionou. Jorginho acredita que o presidente do conselho acaba privilegiando questões da corporação que representa e que tem dificuldades para tomar decisões que envolvam as demais.
A reforma deve manter os comandantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, o delegado-geral da Polícia Civil e o perito-geral da Polícia Científica com status de primeiro escalão. O perfil do futuro secretário é de alguém que foque na gestão da pasta e na integração com as políticas nacionais do setor, em busca de recursos. Ou seja, alguém que não tem as portas fechadas em Brasília no governo Lula. Ou melhor, rodovias fechadas.
Sobre a foto em destaque:
Silvinei Vasques, em evento com o presidente Jair Bolsonaro no final de 2021. Foto: Clauber Cleber Cetano, PR.