Mais atraente que o poder, só a expectativa do poder.

Com 1,57 milhões de votos no primeiro turno, mais do que o dobro do segundo colocado na disputa pelo governo do Estado, o senador Jorginho Mello (Partido Liberal) passou a semana recebendo espontaneamente e sem exigências o apoio de diversos partidos no segundo turno que vai travar contra o ex-deputado federal Décio Lima (Pt). Puxam a fila os tradicionais Mdb, Progressistas e Psdb. O trio têm duas coisas em comum: saíram chamuscados das urnas pelo evento da nova Onda Bolsonaro em Santa Catarina; esnobaram a candidatura de Jorginho nas conversas sobre alianças no primeiro turno.

A dificuldade do senador do Partido Liberal (Pl) em conseguir apoios de outros partidos no período eleitoral fez até com que os aliados do governador Carlos Moisés (Republicanos) lhe cravasse o apelido de “Sozinho Mello”. Os três partidos, alvos principais de Jorginho, estavam na órbita governista, especialmente seus prefeitos – chamados para jantares na Casa d’Agronômica para fotografias que viraram instrumentos de pressão contra o caciques internos. Moisés priorizou o Mdb, a quem deu as vagas de vice-governador, senador e um mês de interinidade de governo. Sem espaço na chapa, o progressistas e tucanos se juntaram no apoio à candidatura de Esperidião Amin (Progressistas).

Colega de Senado de Jorginho, Amin esticou até agosto as conversas sobre composição. Tentou convencer o candidato do Partido Liberal que era mais viável, que teria mais apoios. Jorginho ouviu, pagou café e até rezou na gruta da família Amin em Florianópolis. Mas manteve a posição. Na época, eu e Adelor Lessa encontramos Jorginho em um restaurante na Capital e ele garantiu:

– Não preciso de aliança no primeiro turno. Minha aliança é o 22. Eu vou estar no segundo turno.

Jorginho se referia à filiação do presidente Jair Bolsonaro ao Pl em novembro, que deu fôlego ao projeto estadual. Ao grupo que o senador já costurava para a disputa, somaram-se as lideranças bolsonaristas que aguardavam o sinal do presidente sobre onde buscar filiação. Jorginho teve que arbitrar muitas brigas e cotoveladas, mas acabou conseguindo juntar todo mundo no barco. Um barco robusto e impulsionado pelas velas do bolsonarismo para contrapor as esquadras adversárias.

Assim, Jorginho chegou ao segundo turno que previa sem precisar das forças tradicionais da política catarinense – elas mesmo, as principais derrotadas no Estado este ano. Mas observam o barco do Pl navegar em águas tranquilas rumo à vitória dia 30 de outubro com a esperança de um bilhete para embarcar. Na reunião do Mdb que definiu o apoio a Jorginho no segundo turno, já tinha parlamentar reeleito dizendo que não era hora de falar em cargos, mas que se a Secretaria de Infraestrutura entrasse jogo, queria. No Psdb, que vê a deputada federal Geovânia de Sá em uma amarga suplência, a expectativa de que a reeleita Carmen Zanotto (Cidadania) possa ser recrutada para a pasta da Saúde pode nortear conversas. Entre os Progressistas, o prefeito tubaronense Joares Ponticelli pode reativar a ligação com Jorginho, de quem foi especulado como vice em 2021, para assumir o leme da legenda com o enfraquecimento da liderança de Amin.

Curiosamente, nessa onda de apoios que incluem também o Ptb de Kennedy Nunes, o Pros de Ralf Zimmer e até mesmo o Republicanos, sem Moisés, fica o registro da neutralidade apresentada pelo Psd. Presidente estadual da sigla, o deputado estadual Milton Hobus disse que seria oportunismo anunciar apoio em uma eleição “praticamente ganha”. Faz todo sentido, até porque nenhuma lideranças catarinense têm hoje poder sobre os votos que recebeu. A tendência é termos um segundo turno em que a votação de Bolsonaro no segundo turno presidencial seja reproduzida por Jorginho e a de Lula (Pt) equivalha à de Décio Lima.

Mas que é bom ficar atento aos movimentos do Psd, partido do deputado estadual reeleito Júlio Garcia, sempre é.


Sobre a foto em destaque:

Jorginho Mello estendeu a mão no primeiro turno e não recebeu apoios. Agora, os partidos querem o abraço do favorito. Foto: Geraldo Magela, Agência Senado.

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