Foi ao estilo João Dória a passagem do governador paulista e presidenciável por Santa Catarina na tarde de sábado. Com jingle, luzes coloridas, vídeos e locução, o tucano fez de sua visita aos correligionários catarinenses um verdadeiro comício de campanha para as prévias do Psdb marcadas para 21 de novembro – quando enfrenta o governador gaúcho Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati e o ex-senador Arthur Virgílio. No evento, Dória mostrou um discurso contundente contra o presidente Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (Pt), ensaiando o bordão “nem terror, nem horror, o Brasil precisa de um bom gestor”.

Com todo o marketing que o caracteriza, o governador paulista veio com a missão de reverter a tendência das lideranças catarinenses apoiarem Eduardo Leite, o que já havia sido explicitado pelo prefeito Clésio Salvaro, de Criciúma, no início de agosto. Ele estava presente no evento de sábado, assim como o pré-candidato a governador do Psdb, Gelson Merisio. Em seu breve discurso, Merisio elogiou Dória pelas ações no combate à pandemia e pela pressão para iniciar a vacinação em janeiro através do acordo com o Instituto Butantã e a chinesa Sinovac – fez um paralelo crítico com a gestão do governador Carlos Moisés (sem partido).

– Tenho certeza de que suas ações evitaram milhares de mortes e não podemos dizer o mesmo aqui em Santa Catarina, onde estavam comprando respiradores fantasmas.

Dória ao lado de Vinicius Lummertz e longe de Merisio. O pré-candidato ao governo de SC elogiou o governador paulista, mas vai apoiar Eduardo Leite na prévia. Foto: Antonio Carlos Mafalda, Mafalda Press

Após o evento, no entanto, Merisio afirmou que não apenas apoiará a pré-candidatura de Eduardo Leite como deve trabalhar pela eleição do gaúcho na prévia nacional. De qualquer forma, Dória foi recebido com pompa pelo tucanato catarinense. No CentroSul – onde ele promoveu os encontros do Lide antes de entrar para a política partidária – estavam reunidos nomes históricos do partido em Santa Catarina como os ex-senadores Dalírio Beber e Paulo Bauer e o ex-deputado estadual Gilmar Knaesel. A deputada federal e presidente estadual Geovânia de Sá permaneceu em Criciúma, onde acompanhava o nascimento da neta, mas mandou um vídeo de boas-vindas. Prefeitos como Rogério Pacheco, de Concórdia, e Clenilton Pereira, de Araquari, também estavam presentes. Aliás, foi de Clenilton, presidente de Fecam, um dos mais entusiasmados discursos em homenagem a Dória – chegou a dizer que tinha separado a calça mais apertada de seu guarda-roupa para o evento, referência à crítica que os militantes bolsonaristas fazem ao estilo do governador paulista.

Entusiasmado também estava o maior aliado de Dória no Estado: o ex-ministro Vinicius Lummertz, atual secretário de Turismo do governo paulista. Ele fez referências elogiosas a Dória como governador e o comparou a Luiz Henrique da Silveira, dizendo que ambos aliam pragmatismo e idealismo. Lummertz deixou o Mdb em 2019 e ingressou no Psdb pelas mãos de Dória, de quem é uma espécie de embaixador em Santa Catarina. Ele também almeja a condição de pré-candidato ao governo.

Vinda de Dória trouxe de volta ao palco o ex-senador Paulo Bauer, ausente na vinda de Leite. Presente nos dois encontros, Clésio (à esquerda de Dória) declarou apoio ao gaúcho. Foto: Antonio Carlos Mafalda, Mafalda Press

Após uma série de pequenos discursos, Dória subiu ao palco para pregar a necessidade de uma candidatura presidencial pronta para o embate contra Bolsonaro e contra Lula – alvo de críticas pela gestão da pandemia, o primeiro, pelos casos de corrupção nos governos petistas, o segundo. Disse que 2022 não será “eleição para principiantes” e nem “para os bonzinhos, com todo respeito aos bonzinhos”. Deixou o palco para falar em meio ao público presente a saraivada de críticas em alto e bom som a Lula e Bolsonaro. Sobre o petista, lembrou que venceu o partido nas disputas pela prefeitura e pelo governo de São Paulo.

– Não me venham lulistas, petistas, extremistas da esquerda dizer que esse homem salvou o Brasil. Não salvou! Produziu um dos maiores assaltos de dinheiro público da história deste país. Disse Dória.

Em relação a Bolsonaro, disse que foi “um dos milhões de brasileiros que erraram” ao apoiá-lo no segundo turno de 2018. Naquela disputa, o chamado voto BolsoDória criou atritos internos já no primeiro turno, quando o Psdb tinha como candidato a presidência o ex-governador Geraldo Alckmin, responsável pela candidatura de Dória a prefeito – hoje Alckmin é desafeto do antigo pupilo e está de saída para o Psd. A relação entre Bolsonaro e Dória como presidente e governador não deu certo logo na largada dos mandatos e acabou de vez quando a pandemia os colocou em campos opostos. Oposição citada explicitamente no discurso do tucano em Florianópolis:

– Facínora, fascista, negacionista. Metade dos brasileiros que se foram, poderiam estar vivos se tivéssemos um presidente com compaixão e que tivesse comprado vacinas, em vez de cloroquina.

A passagem de Dória por Santa Catarina foi a segunda de um candidato às prévias tucanas. Em junho, Eduardo Leite foi recebido em Florianópolis em um encontro que em tudo destoou do evento de Dória no CentroSul. Realizado no discreto auditório de um prédio comercial, não tinha jingles, luzes ou vídeos. O clima era mais de encontro partidário do que de comício, embora o público fosse semelhante. Duas coisas, no entanto, foram iguais. Em ambas as visitas, não estavam presentes os deputados estaduais Marcos Vieira e Vicente Caropreso. E nas duas vezes, o presidenciável tucano foi encontrar o governador Moisés antes de falar aos correligionários.


Sobre a foto em destaque:

Nos momentos mais duros de seu discurso contra Bolsonaro e Lula, o governador paulista João Dória desceu do palco para falar mais próximo do público presente. Foto: Antonio Carlos Mafalda, Mafalda Press.

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