Sempre se fala sobre a importância do Fundam – Fundo de Apoio aos Municípios – na reeleição de Raimundo Colombo (Psd) ao governo do Estado em 2014. Também sempre se comenta o quanto o fracasso na tentativa de reeditar o programa pesou na derrota que o pessedista teve em 2018, quando tentou uma vaga no Senado e ficou em quarto lugar. Nesta quinta-feira, em Guaramirim, em mais um evento em que o governador Carlos Moisés (Psl) fez seu show do milhão, ficou claro o quanto essa cicatriz ainda pode doer.

O tema ressurgiu em tom de mágoa e desabafo no discurso realizado pelo prefeito Luiz Antônio Chiodini (Progressistas), em que agradecia Moisés pela autorização para início da licitação para duplicação da SC-108 entre Guaramirim e Massaranduba –  uma obra de R$ 212 milhões de reais. Sem citar nomes, o prefeito de Guaramirim deu o duro recado:

Fomos enganados. Fizeram os prefeitos gastar com projetos porque viria um Fundam. “Afundança”, porque afundaram nossos municípios. Único dinheirinho que a gente tinha, gastamos com projetos. E nem um “oi” ou um “tchau” recebemos das lideranças políticas do governo do Estado. Hoje pela quinta vez o senhor vem a Guaramirim, com R$ 600 milhões em investimentos na nossa região. Não podemos nos esquecer disso. Fomos tratados como criança por governadores que fizeram promessas e não foram cumpridas. Se a verdade dói, que esteja doendo para quem merece. Tenho certeza de que para o senhor, governador, não está doendo – disse Luiz Antonio Chiodoni.

Com repasses diretos que variavam de R$ 1 milhão a R$ 3 milhões, a primeira e única edição do Fundam foi um sucesso político e eleitoral. Os prefeitos de partidos que integravam a base de apoio de Colombo entraram com tudo na campanha, os prefeitos de partidos adversários ignoraram ao máximo a candidatura de Paulo Bauer (Psdb) e Joares Ponticelli (Progressistas). No segundo mandato, reeditar o Fundam virou uma obsessão para Colombo, que buscou empréstimos junto ao Banco do Brasil e ao Bndes para viabilizar o novo repasse de recursos. O primeiro estava dentro do pacote de R$ 9 bilhões em financiamentos que a então presidente Dilma Rousseff (Pt) avalizara a Santa Catarina para compensar as perdas com a Lei dos Portos aprovada na gestão petista.

Em 2017, o contexto era outro. Mdb no poder com Michel Temer após o impeachment de Dilma. No Estado, Colombo contava os dias para deixar o cargo, o que aconteceria em fevereiro de 2018, e o vice-governador Eduardo Pinho Moreira (Mdb) se preparava para assumir ao poder e a sociedade entre Psd e Mdb no governo catarinense estava prestes a se encerrar. O pessedista corria Santa Catarina garantindo que o segundo Fundam viria, que preparassem os projetos. Apesar do otimismo, a licença e a renúncias vieram antes de uma solução no Bndes. Até hoje Colombo acha que o governo de Pinho Moreira não se empenhou para garantir recursos que ajudariam outro grupo político. O emedebista, por sua vez, entendia que Colombo havia sido otimista demais diante dos entraves técnicos colocados pelo banco federal.

O fim do filme todo mundo sabe, mas que seus efeitos ainda são sentidos em 2021 é algo que impressiona. A fala de Luiz Antônio Chiodini revela como se sentiu o lado mais frágil dessa equação política – quem esperava os recursos. Vivendo um momento completamente diferente na situação do caixa do governo, Carlos Moisés está conseguindo ampliar a receita que, quando bem sucedida, reelegeu Colombo. Com dinheiro do tesouro, vitaminado por diversos fatores que colocaram a arrecadação em alta e também por méritos de gestão, Moisés faz o Fundam parecer trocados. A Assembleia Legislativa aprovou o repasse de recursos diretamente do para as prefeituras, sem convênio, até o limite de R$ 5 milhões. O apelido jocoso que o instrumento ganhou é pix, pela facilidade. Além dos pix, obras maiores também são anunciadas – como a duplicação da SC-108. É uma fatura que pode ser recompensada com apoio oficial ou extraoficial de prefeitos em 2022.

No caso do Chiodini de Guaramirim, é um apoio que pode vir do Progressistas, um partido que está vivendo uma encruzilhada interessante. Se o presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl) for mesmo para o partido, parece inevitável que o senador Esperidião Amin será o candidato do número 11. Se não for, a maioria da sigla, incluindo Amin, é muito mais próxima de um acerto com Moisés do que com o senador Jorginho Mello (Pl), que seria o candidato do bolsonarismo nesse contexto. Aliás, o senador progressistas ajustou a agenda de última hora para estar em Guaramirim e fez um discurso elogioso sobre o governo Moisés – destacando os repasses de recursos para obras pelo interior do Estado e a ajuda ao governo federal para obras nas BRs.

Amin disse que a pandemia fez o governo Bolsonaro e o Congresso Nacional focarem os gastos em saúde e na concessão de auxílios – a Estados, municípios, pessoas, empresas. E que essa condição ajudou até mesmo Estados que não conseguiam pagar salários em dia a ajustarem o caixa e as obrigações.

Quando você faz o reequilíbrio, o mais competente fica mais habilitado. E é o que aconteceu. E aí vem a competência do Estado de Santa Catarina que eu quero assinalar. O Estado teve a capacidade de se habilitar. Executando obras, investindo e promovendo um grande momento para a administração pública do nosso Estado. Isso é inegável. E fez com o apoio da Assembleia Legislativa, que compreendeu este momento em que, mais do que nunca, toda crise é também uma oportunidade – disse Amin.

O único problema para Moisés, nesse cenário, é que precisará escolher Progressistas ou Mdb – não há mago político em atividade que consiga mudar essa história.


Sobre a foto em destaque:

Cercado por deputados estaduais e sob olhar de Moisés, prefeito de Guaramirim, Luiz Antonio Chiodoni assina o lançamento da licitação para duplicação da SC-108. Foto: Ricardo Wolffenbüttel, Secom.

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