Se a deputada federal Angela Amin (Progressistas) não tivesse se atrapalhado com o sistema de votação remoto, Santa Catarina teria repetido na votação da PEC do Voto Impresso um placar que vem se repetindo nos temas legislativos que interessam ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido): 15 a 1. É essa a proporção do governismo que a bancada catarinense apresenta nos mais diferentes temas, seja a reforma da previdência ou emenda constitucional sepultada na noite de terça-feira porque os bolsonaristas alcançaram apenas 229 dos 308 necessários para colocar em xeque o sistema eletrônico de votação implantado no Brasil em 1996.

O placar eletrônico marcou 14 a 2 entre os catarinenses, mas Angela Amin havia anunciado previamente a intenção de votar a favor, assim como o senador Esperidião Amin e o deputado estadual João Amin já tinham se manifestado favoráveis à tese de que imprimir cupons de voto em uma impressora acoplada à urna eletrônica torna o sistema mais transparente. Dessa forma, contrário mesmo à proposta, como tem sido a regra, apenas o deputado federal petista Pedro Uczai. São os impressionantes 93,75% de adesão da bancada catarinense ao governo Bolsonaro.

Desta vez, no entanto, os 15 soldados do bolsonarismo catarinense não justificaram seus votos na agenda econômica de Paulo Guedes. A PEC do Voto Impresso é uma aspiração que nasceu no seio do bolsonarismo e sua aprovação vinha sendo colocada pelo presidente Jair Bolsonaro como condição para a realização de eleições no Brasil ano que vem – como se determinar a realização ou não de eleições fosse uma decisão do Palácio do Planalto e seu cercadinho. Não é, sejamos claros, mas a bravata é livre no Brasil de 2021. A pressão dos bolsonaristas nas redes sociais e eventos como as motociatas de Chapecó e Florianópolis foram fundamentais para que os catarinenses votassem alinhados ao presidente nessa causa. Como se vê, a Onda Bolsonaro de 2018 ainda assusta os políticos daqui.

Quando se olha para o Congresso Nacional, no entanto, o panorama é outro. A votação favorável à PEC superou as expectativas do próprio governo, mas mostra o limites da temática bolsonarista sobre a Câmara dos Deputados. Há dificuldades claras nas bancadas de São Paulo e dos Estados do Nordeste. Das nove bancadas nordestinas, a PEC teve mais votos contrários do que favoráveis em oito – houve empate em Alagoas. As duas bancadas que mais rejeitaram a proposta foram a de Pernambuco e Ceará, com 76% e 63% de votos contrários, respectivamente. Em São Paulo, maior bancada estadual, mais da metade dos votos foram contra a tese do presidente.

O Sul é a cidadela do bolsonarismo na Câmara dos Deputados, assim como é junto ao eleitorado, de acordo com as pesquisas eleitorais – tão odiadas pelo bolsonarismo quanto a urna eletrônica. Se dependesse de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, Bolsonaro teria conseguido aprovar a PEC. Nos três Estados a votação das bancadas superou os 60% de votos necessários para que a proposta fosse aprovada (mesma proporção dos 308 votos em 513 totais da Câmara). Tirando os sulistas, apenas em pequenos Estados o bolsonarismo conseguiu essa vantagem: Acre, Espírito Santo, Mato Grosso e Rondônia, todos com bancadas de oito integrantes, o mínimo constitucional. Aliás, os rondonienses foram os únicos que superaram percentualmente a fidelidade dos catarinenses, dando todos os oito votos que têm para a causa do voto impresso.

Ao final da votação, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas de Alagoas) disse que o assunto está encerrado, que não há “tempo, nem espaço para retomar esta questão neste ano”, que o plenário foi “soberano, altivo e democrático” e que acredita no respeito de Bolsonaro ao resultado. Na tribuna, enquanto se colhiam os votos e se projetava a derrota da PEC, no entanto, o líder do governo, Major Vitor Hugo (Psl de Goiás), dizia que ainda há chance de pressionar o Senado para votar outra proposta já aprovada pela Câmara e que lá se encontra engavetada. Ou seja, existe margem para espichar o assunto e manter a pressão nas redes sociais. Mas, como tem mostrado a CPI da Covid, o Senado é um palco menos permeável ao bolsonarismo. Ainda mais com o presidente Rodrigo Pacheco (Democratas de Minas Gerais) ventilado como possível presidenciável.

Em Santa Catarina, a bancada guarda mais uma fatura de fidelidade a Bolsonaro. Uns por alinhamento político-ideológico, outros por interesse eleitoral em 2022, outros por terem tido medo de enfrentar a pressão da militância bolsonarista. Essas nuances serão auditáveis ao longo da trajetória política de cada um deles. As recompensas, se houverem, também.

Os votos da bancada de Santa Catarina sobre a PEC do voto impresso

Votos a favor:

Carlos Chiodini (Mdb)
Carmen Zanotto (Cidadania)
Caroline de Toni (Psl)
Celso Maldaner (Mdb)
Coronel Armando (Psl)
Daniel Freitas (Psl)
Darci de Matos (Psd)
Fábio Schiochet (Psl)
Geovânia de Sá (Psdb)
Gilson Marques (Novo)
Helio Costa (Republicanos)
Ricardo Guidi (Psd)
Rodrigo Coelho (Podemos)
Rogério Peninha Mendonça (Mdb)

Votos contra:

Angela Amin (Pp)
Pedro Uczai (Pt)

 


Sobre a foto em destaque:

Placar de votação da PEC do Voto Impresso marcando 229 votos a favor, 218 contrários e uma abstenção. Eram necessários 308 votos favoráveis para a aprovação do texto para analise posterior do Senado. Foto: Cleia Viana, Câmara dos Deputados.

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